Mindfulness: entenda a nova prática que auxilia bem-estar mental neste período de pandemia

Pesquisas já apontam que o mindfulness traz uma série de benefícios para a saúde física e mental (Divulgação/ Yupconsulting)

Luciana Bezerra Da Revista Cenarium

MANAUS — A pandemia transformou de um dia para o outro o que chamávamos de normalidade e os hábitos antigos ficaram démodé. Desde março, conhecemos uma nova forma de conviver, trabalhar, estudar, cumprimentar, malhar, se divertir, socializar e por aí vai. No entanto, essas mudanças influenciaram a forma de como cuidamos da saúde mental, pois nos demos conta de que não é só o aspecto físico que merece atenção. É necessário, também, focar no campo mental. E uma das práticas que vem se tornando popular neste momento é do mindfulness [atenção plena] em português. 

Isso só corrobora com a campanha Dia da Saúde Mental de 2020, lançada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no início de setembro — mês de prevenção ao suicídio —, que pede aos países mais investimentos em saúde mental, uma das áreas mais negligenciadas da saúde pública. Para se ter uma ideia, atualmente, de acordo com dados da OMS, os países gastam em média apenas 2% de seus orçamentos de saúde em saúde mental. 

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Os dados da entidade apontam ainda que quase 1 bilhão de pessoas vivem com transtorno mental, 3 milhões de indivíduos morrem anualmente em decorrência do uso nocivo do álcool e uma pessoa a cada 40 segundos comete suicídio.

Com base nessas informações, a REVISTA CENARIUM falou com alguns especialistas em mindfulness para entender como funciona essa técnica, na prática. Segundo Luciene Moreira, CEO da Yupconsulting, mindfulness ou psicologia de atenção plena, como também é conhecida, tem gerado grande interesse tanto da comunidade científica como das pessoas comuns. A prática é uma forma de se estar no momento presente da maneira mais consciente possível, além de possibilitar maior consciência sobre pensamentos, sensações e emoções.

Uma das turmas de mindfulness realizada pela Yupconsulting (Divulgação/ Yupconsulting)

Os benefícios do mindfulness vão de método para aprender a lidar com emoções, reações, atitudes e pensamentos, como o indivíduo pode gerir situações que a vida nos apresenta, por meio da prática e aperfeiçoamento da consciência. A técnica ajuda a controlar o estresse e a ansiedade, a acabar com a insônia, protege o cérebro, melhora a capacidade de concentração, desenvolve a inteligência emocional, melhora as relações interpessoais, incentiva a criatividade e melhora a memória para o trabalho, ressalta Luciene.

Segundo a especialista, o mundo estava sendo ‘bombardeado’ diariamente com informações negativas sobre a pandemia. Uma hora, a conta sobre esse acúmulo de sentimentos vai chegar e o mindfulness entra para ajudar as pessoas abstraírem tudo isso de uma forma mais consciente permitindo que os indivíduos percebam melhor suas sensações e pensamentos e, a partir disso, consiga atingir o autoconhecimento.

“A pandemia deixou um rastro de doença mental como ansiedade, depressão, estresse e todos problemas relacionados a distúrbios mentais. Essa mudança de rotina afetou muita gente e esse reflexo vai ser mais visível daqui a um ou dois anos. As pessoas estão sentindo angústia, incerteza, medo, tristeza de uma forma mais intensa. A quantidade de informação negativa de mortes, entre outros fatores, foi muito traumática. Sem contar com a fadiga e a falta de atividade física que impulsionaram e deixaram a mente mais agitada”, explica a CEO da Yupconsulting.

Sobre a prática

A especialista afirma também que, embora o mindfulness pareça ser uma onda passageira em relação ao domínio do bem-estar e meditação, ela não é um fenômeno recente. Há registro da atividade desde o final do século VII a.C., momento histórico ligado ao surgimento do Budismo. 

Ainda de acordo com Luciene, por meio da prática, as pessoas serão capazes de descobrir o desenvolvimento de consciência no momento presente e desenvolver certas atitudes positivas para levar uma vida mais leve e saber controlar nossas emoções, não priorizando sentimentos negativos ou destruidores.

Outro aspecto importante que as pessoas precisam entender é que há uma rede de apoio disponível para ajudá-las a lidar com essas questões negativas, depressivas, angustiantes, financeiras, amorosas. No entanto, elas têm dificuldade de dizer, principalmente, no ambiente profissional que estão passando por alguma dessas situações citadas anteriormente. E, as empresas, por outro lado, precisam estar atentas e inserir estratégias que beneficiem seus funcionários de alguma forma, para reduzir um alto índice de absenteísmo causado, na grande maioria, por doenças mentais, assinala a especialista.

“Hoje, há tantas possibilidades tanto no contexto de saúde quanto individual, para auxiliar as pessoas a saírem dessas situações de depressão, ansiedade, medo, angústia, pânico, entre outros que não é isolada, após a pandemia. E, o mindfulness é uma ferramenta prática e acessível para todas as pessoas, que demanda uma orientação adequada e serve para a vida toda. Além de inúmeros benefícios para a saúde, ela funciona com a chave do autoconhecimento”, enfatiza.

Tiago Tatton na Formação Internacional de Instrutores de Mindfulness no Modelo Neurocognitivo (Divulgação/ Instagram)

Já o psicólogo e pós-doutor em Ciências do Comportamento em Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante da Iniciativa Mindfulness, Tiago Tatton, que estuda a área do ponto de vista científico, há mais de 15 anos, distingue a diferença entre meditação e a religião.

“O mindfulness é um movimento que inicia nos anos 80 dentro do meio acadêmico como tratamento integrativo de dor crônica, porém, como um adaptação não religiosa de práticas budistas de meditação e da yoga. A prática tem uma relação forte com a meditação budista, mas a ideia é que tenha uma linguagem científica e não religiosa. Por isso, não se fala de mantras, chacras, reencarnação, nirvana, Buda. Ele é uma forma de falar sobre a meditação de forma mais cotidiana e essa é a diferença. Geralmente, no mindfulness não se tem o processo da meditação religiosa”, esclarece Tatton.  

De acordo com o doutor em Comportamento e Psiquiatria da UFRGS, é importante ressaltar que já são mais de 40 anos de pesquisa sobre o mindfulness. Há pesquisas que a prática beneficia desde tratamento de dor e de diferentes condições clínicas e existem benefícios a curto, médio e longo prazo documentados pela ciência. Segundo ele, mindfulness é uma prática de lucidez e faz com que as pessoas percebam as próprias emoções e saibam o que fazer com elas.

“Eu diria que o principal benefício do mindfulness, a curto prazo, é a autorregulação do comportamento — que é a capacidade do indivíduo regular um sentimento no dia a dia —, ou seja, se o indivíduo tem uma emoção difícil e pratica o mindfulness, ele consegue perceber essa emoção e, ao invés de reagir abruptamente, consegue escolher uma reação mais lúcida. Como por exemplo, se afastar daquela situação, se calar e responder depois”. 

O especialista afirma que, além trazer a consciência para o momento presente, a prática também pode auxiliar no tratamento de doenças como depressão e ansiedade:

“A Universidade de Oxford demonstrou que a técnica pode ajudar pessoas com depressão a não terem recaída. Ajuda tanto quanto remédio. Isso foi comprovado por meio de diversos estudos. Isso, sem envolver mudança na química cerebral. Ajuda na dor crônica, depressão, insônia, redução de estresse, ansiedade”, finaliza.

Tem interesse em praticar?

Para as pessoas interessadas em conhecer ou iniciar a prática, Luciene Moreira, CEO da Yupconsulting, diz que a próxima turma do curso prático de 8 semanas on-line de Mindfulness & Inteligência Emocional, realizado por sua consultoria vai começar na próxima segunda-feira, 16 e as inscrições podem ser feitas por meio do link da Yupconsult.

Tatton recomenda que a pessoa procure um instrutor de mindfulness com formação no assunto. Segundo ele, aplicativos também podem ser uma alternativa, mas usualmente não recomenda o uso, uma vez que a melhor maneira de praticar é em grupo. Quem quiser conhecer melhor o trabalho do especialista é só segui-lo @tatton_tiago_mindfulness ou pelo site na iniciativa mindfulness. Por meio dessas redes, as pessoas podem saber mais informações sobre a prática.

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