Mineração e desmatamento impacta diretamente vida dos mamíferos, indica estudo

Onça-pintada, mamífero carnívoro da família Felidae encontrada nas Américas (Reprodução/Internet)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – A perda de habitat é a grande ameaça aos grandes e médios mamíferos em zonas de mineração. Isso é o que aponta o estudo: “Uma revisão global das ameaças da mineração em mamíferos de médio e grande porte”, em tradução livre. A pesquisa, publicada na revista europeia Journal for Nature Conservation, reuniu resultados escala global com o intuito de identificar lacunas do conhecimento científico dos impactos da mineração sobre estas populações.

Como mamíferos de médio e grande porte considera-se onças-pintadas, lobos, macacos, tatus, entre outros. A pesquisa demonstra que as áreas de distribuição geográfica (km²) de algumas espécies ameaçadas de extinção têm grande densidade de jazidas de minérios.

PUBLICIDADE

Outro importante resultado encontrado foi que, das 153 espécies de mamíferos identificadas por pressões e ameaças advindas das atividades de mineração, 84% não são consideradas como ameaçadas pela mineração, de acordo com a Lista Vermelha da União Internacional de Conservação para Natureza (IUCN).

De acordo com um dos idealizadores da pesquisa e professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Dr. Gustavo Canale, há necessidade de novas pesquisas e projetos de consolidação de resultados.

“Isto indica a necessidade de estudos de amplo espectro, não apenas sobre os efeitos diretos da mineração em populações de mamíferos ameaçados de extinção, tais como a perda de habitat e a contaminação ambiental, como também os efeitos indiretos da instalação das plantas de mineração, por exemplo o aumento da caça e de atropelamentos de animais”, disse Canale.

Conhecimento científico

A pesquisa concluiu ainda que os países mais impactados pela mineração são também os que mais produziram conhecimento científico sobre esta relação. “Brasil, Serra Leoa e África do Sul estão entre os países que têm forte participação na mineração mundial, mas cada um destes originou menos de 3 artigos científicos avaliando o impacto da mineração sobre mamíferos de médio e grande porte”, disse ele.

Agregado a todos os outros impactos que o desmatamento ocasiona, a perda de habitat recebeu destaque em 40% dos artigos revisados, apesar de muitos países dependerem economicamente da extração de minérios.

“Isto indica que os estudos científicos precisam ser melhor financiados tanto pela indústria da mineração quanto pelas autoridades dos países envolvidos, como também demonstra a necessidade de mais informações científicas de amplo espectro para avaliarmos a intensidade dos impactos da mineração sobre animais que são fundamentais para o funcionamento dos ecossistemas”, pontuou ainda o professor da UFMT.

Impactos socioambientais

O estudo confirma ainda que a atividade mineradora gera degradação de longo prazo, altera a biodiversidade local e também impacta o entorno das áreas exploradas. Assim, é mais justificada a necessidade do conhecimento científico como a análise de material genético e a verificação do acúmulo de metal em mamíferos de médio e grande porte, tanto durante quanto após a exploração dos recursos minerais.

O Brasil é mencionado neste tocante, já que o descaso é ainda maior quando se refere aos impactos socioambientais como os ocorridos nas barragens de Mariana e Brumadinho, quando as pressões a esse tipo de crime ambiental serão sentidas entre os mamíferos por muito tempo, devido à contaminação das áreas com resíduos tóxicos.

Pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida como parte do trabalho de doutorado de Mircéia Angele Mombach e uniu pesquisadores de quatro instituições públicas, como a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Universidade Federal do Maranhão (UFM), além de uma instituição não governamental, Instituto Ecótono (IEco).

O estudo identificou, em uma janela de 30 anos de amostragem de trabalhos científicos publicados (1990 a 2020), apenas 39 artigos científicos publicados que corresponderam ao interesse da pesquisa, esses representando 20 países do globo: Armênia, Austrália, Brasil, Canadá, Chile, República do Congo, Dinamarca, Espanha, França, Gana, Índia, Libéria, Madagascar, Mongólia, Peru, Senegal, Serra Leoa, Estados Unidos e África do Sul.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.