Ministério da Saúde desiste de remédio anunciado como eficaz para tratar Covid-19

Em solenidade no Palácio do Planalto, Bolsonaro e Pontes apresentaram em outubro o vermífugo como medicamento para tratamento precoce (Caio Rocha/FolhaPress)

Com informações do O Globo

BRASÍLIA — O Ministério da Saúde informou à Câmara dos Deputados que decidiu não incorporar a nitazoxanida, vermífugo também conhecido comercialmente como Annita,  para o tratamento da Covid-19 na rede pública de saúde. O medicamento, anunciado anteriormente como efiicaz pelo governo, não consta no rol para compras e distribuição pelo SUS.

A Nitazoxanida não consta nas orientações deste Ministério da Saúde para o tratamento da Covid-19, e também não se encontra incluída na Relação Nacional de Medicamentos – RENAME 2020, de forma que esse medicamento não é adquirido ou financiado com recursos federais do SUS”, diz o texto enviado pelo ministério em resposta a um pedido de informações da bancada do PSOL.

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O governo federal afirmou, em outubro, ter comprovado que o vermífugo nitazoxanida reduziria a carga viral de pacientes infectados com o novo coronavírus nos primeiros dias de sintomas. O anúncio foi feito durante evento no Palácio do Planalto, com presença do presidente Jair Bolsonaro e de Marcos Pontes, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações

Os testes em humanos foram anunciados por Marcos Pontes em abril, após pesquisas em laboratório. Na época, o ministro afirmou que os resultados seriam apresentados em quatro semanas e especialistas questionaram a taxa de eficácia apresentada por Pontes com base em estudos preliminares na fase in vitro. Em outubro, Pontes admitiu que sua previsão inicial foi otimista demais.

Os pesquisadores que realizaram o teste clínico no Brasil do vermífugo nitazoxanida para tratamento contra a Covid-19 publicaram um artigo afirmando que o medicamento se mostrou clinicamente ineficaz e não superou placebo na melhora de sintomas de pacientes. O único efeito positivo verificado pelos pesquisadores é um desfecho secundário, a do vírus nos pacientes medida no quinto dia de tratamento. A posição secundária atribuída a esse critério significa que o estudo não foi desenhado para avaliar carga viral.

‘Irresponsabilidade’

O pedido de informações encaminhado ao Ministério da Saúde, assinado pela deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), questionava quais os planos do governo para uso do medicamento na rede pública de saúde e a previsão de compra do remédio.

“Este Departamento de Assistência Farmacêutica (DAF/SCTIE) e Insumos Estratégicos informa que até o momento, não tem ciência de nenhum processo para aquisição de Nitazoxanida pelo Ministério da Saúde, ou de planos para sua disponibilização na rede pública de saúde”, diz o texto  encaminhado à Câmara.Para a deputada Sâmia Bomfim, o Ministério da Ciência e Tecnologia e o próprio presidente incentivam o uso do medicamento “demonstrando irresponsabilidade e desinformação”.

“O Ministério da Ciência e Tecnologia investiu milhões num estudo sobre a nitazoxanida, mesmo que a comunidade científica internacional já tivesse negado sua eficácia. Insistiram no estímulo ao uso, também através das redes sociais do próprio presidente da República”, disse Sâmia.

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) não recomenda tratamento precoce de Covid-19 com nenhum medicamento,  incluindo a  nitazoxanida. A entidade sustenta que a orientação está alinhada com sociedades científicas e médicas internacionais, tais como o Instituto Nacional de Saúde e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos EUA, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

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