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Ministério da Saúde usou Hapvida para divulgar tratamento sem eficácia comprovada contra Covid-19
A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como capitã cloroquina (Pablo Jacob/Agência O Globo)
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06 de outubro de 2021
Com informações do O Globo
BRASÍLIA — Um vídeo gravado em julho do ano passado reforça as suspeitas de que o governo e operadoras de saúde investigadas pela CPI da Covid atuaram em parceria para propagar a aplicação de medicamentos que não tinham eficácia comprovada no combate ao coronavírus. A gravação mostra um evento virtual com a participação da secretária de Gestão e Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”, e o superintendente nacional da Hapvida, o médico cirurgião Anderson Nascimento, defendendo o uso do chamado “Kit Covid”. Também estavam presentes representantes da Unimed Fortaleza e de conselhos de Medicina.
Àquela altura, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia determinado a suspensão de dois estudos sobre a hidroxicloroquina, uma das drogas não recomendadas para tratamento da Covid, após constatar que a substância não reduzia índices de mortalidade e internações.
Com base no que chamou de “impressão clínica”, o executivo da Hapvida anunciou que estudos da operadora mostravam que pacientes submetidos a tais drogas tinham 60% menos chances de internação.
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“Depois da tomada de decisão e do desenho do protocolo, decidimos de uma forma pioneira distribuir kit Covid. Chegamos a distribuir mais de 25 mil”, disse Nascimento durante a apresentação.
Os dados vinham de experiências colhidas em hospitais de todo o país. Com quase quatro milhões de usuários em assistência médica, a Hapvida é o maior plano de saúde das regiões Norte e Nordeste, o que, segundo ele, levava a operadora a ter uma boa dimensão da evolução da doença.
“A batalha é muito grande, mas acredito que estamos mais perto do fim do que do começo”, previu o executivo da operadora, em 2020.
Após ouvir a explanação de Nascimento, Mayra disse que o “exemplo” apresentado pela Hapvida a animava.
“Aqueles que se negam a disponibilizar às pessoas um medicamento distribuído pelo Ministério da Saúde serão em breve cobrados pelo não exercício de cidadania, por improbidade e omissão de socorro”, afirmou a secretária, que, ao final, disse ter “orgulho” de fazer parte “desse time”.
Como O GLOBO revelou na segunda-feira, gravações mostram que a Hapvida pressionava seus médicos a prescreverem remédios ineficazes. A mesma prática era adotada pela operadora Prevent Senior, segundo denúncias de ex-funcionários. Participante do evento com a “Capitã Cloroquina”, Anderson Nascimento já havia trabalhado na Prevent Senior antes de ser contratado pela Hapvida.
Em depoimento à CPI da Covid na semana passada, a advogada Bruna Morato, representantes de um grupo de médicos que atuaram na Prevent Senior, afirmou que a empresa tinha o que chamou de “pacto” com o governo federal, cujo objetivo era dar à população esperança de que com tratamento precoce seria possível ignorar medidas de restrição de circulação para evitar a propagação do vírus e não prejudicar a economia. Segundo ela, executivos da operadora mantinham contato com integrantes do chamado gabinete paralelo, formado por profissionais de saúde que prestavam um aconselhamento informal ao Palácio do Planalto sobre temas relacionados à pandemia, muitas vezes contrariando o Ministério da Saúde.
Digitais do Planalto
Um dos principais nomes do gabinete paralelo, a médica Nise Yamaguchi já declarou publicamente ser próxima de Mayra Pinheiro. Para convencer médicos a prescreverem o “Kit Covid” para pacientes, a Hapvida, inclusive, mostrava uma apresentação de 33 slides atribuída a Nise, em defesa do tratamento precoce.
A própria Hapvida reconheceu por meio de nota oficial que não prescreve mais os remédios contidos no “Kit Covid”. Argumenta, porém, que em meados do ano passado havia outra percepção a respeito de tais medicamentos.
“Quando o evento foi realizado, havia um entendimento de que o uso da hidroxicloroquina poderia trazer benefícios aos pacientes. Há meses, porém, o Hapvida não sugere uso desse medicamento”, diz a empresa, que destacou: “É importante frisar que o Hapvida é apartidário: não tinha, e nunca teve, vinculação política ou ideológica com governos de qualquer instância”.
Nise recorrentemente nega que integre o gabinete paralelo. Mayra não respondeu.
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