Ministros defendem responsabilização de plataformas após morte de jovem por fake news


24 de dezembro de 2023
Ministros defendem responsabilização de plataformas após morte de jovem por fake news
Ao centro, a vítima Jéssica Vitória Canedo; à esquerda, Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos; e à direita, Cida Gonçalves, ministra das Mulheres (Montagem: Paulo Dutra/Revista Cenarium Amazônia)
João Felipe Serrão – Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – Os ministros Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, e Cida Gonçalves, das Mulheres, defenderam a responsabilização de plataformas digitais no caso da jovem Jéssica Vitória Canedo, de 22 anos, que cometeu suicídio após ser alvo de notícias falsas que circularam em páginas de fofoca, como a Choquei. A família divulgou a morte da jovem na última sexta-feira, 22.

Almeida criticou a postura das empresas que administram as redes sociais diante de determinados conteúdos. De acordo com ele, a “irresponsabilidade das empresas que regem as redes sociais, diante de conteúdos que outros irresponsáveis e mesmo criminosos (alguns envolvidos na política institucional) nela propagam, tem destruído famílias e impossibilitado uma vida social minimamente saudável”.

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida (Renato Araújo/Câmara dos Deputados)

Pelo X, antigo Twitter, Silvio ainda defendeu a regulação das redes sociais. No início do ano, o Congresso Nacional quase aprova a legislação específica para a responsabilização das redes sobre o conteúdo publicado. A matéria foi retirada de pauta após movimentação de big techs como o Google.

“Por isso, volto ao ponto: a regulação das redes sociais torna-se um imperativo civilizatório, sem o qual não há falar-se em democracia ou mesmo em dignidade. O resto é aposta no caos, na morte e na monetização do sofrimento”, afirmou ele.

A titular da pasta das Mulheres, Cida Gonçalves, também usou a rede social para pedir a responsabilização das plataformas. Cida criticou o suposto lucro das plataformas em cima da misoginia e da desinformação.

“É mais uma tragédia fruto da irresponsabilidade de perfis nas redes sociais que lucram com a misoginia e disseminação de mentiras e, igualmente, da falta de responsabilização das plataformas”, publicou Cida.

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves (Reprodução/Patrick Grosner)

Ela ainda propôs que o conteúdo em discussão fosse imediatamente retirado das redes sociais. Atualmente, para retirar qualquer conteúdo de uma plataforma é preciso do aval de um juiz de direito num processo judicial em curso, cuja parte que se sentiu prejudicada precisa provocar a Justiça.

“É inadmissível que o conteúdo mentiroso contra Jéssica, que fez crescer uma campanha de difamação contra a jovem, não tenha sido retirado do ar nem pelo dono da página, nem pela plataforma X, ao longo de quase uma semana, mesmo depois dos apelos da própria Jéssica e de sua mãe”, pontuou a ministra.

Nas eleições de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou uma resolução que permitiu à Corte ampliar o alcance de decisões a fim de acelerar a retirada de conteúdo falso das redes. Pela normativa do TSE, o Tribunal não precisaria fazer outro julgamento para a mesma matéria decidida se ela fosse publicada em diversas plataformas.

Na época, a resolução foi alvo de questionamento da Procuradoria-Geral da República (PGR), que não foi acatado pelo TSE. A PGR entende que a resolução permite ao Tribunal agir de ofício, isto é, sem ser provocado pela Procuradoria.

Entenda o caso

Na última semana, prints falsos de conversas entre Jéssica e o humorista Whindersson Nunes foram divulgados em páginas de fofoca que contavam com milhares, e até milhões de seguidores, como a Choquei.

As informações foram desmentidas pelo próprio humorista. Jéssica também se manifestou nas redes sociais, na segunda-feira, 18, sobre os problemas que enfrentava com sua saúde mental, e chegou a afirmar que 2023 foi o ano mais difícil da sua vida. Na noite de sexta-feira, 22, a família da jovem informou que ela tirou a própria vida.

O caso mobilizou políticos da direita e da esquerda. Políticos conservadores, como Nikolas Ferreira (PL-MG), têm buscado relacionar a página Choquei com o Partido dos Trabalhadores (PT), sigla do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Já os políticos progressistas têm levantado debates a respeito do Projeto de Lei (PL) 2630/2020 que institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet.

Leia mais: Ministro Silvio Almeida pede ações sobre denúncias de trabalho análogo à escravidão no Sul do País
Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga

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