Modelo de saúde do Reino Unido é tema em debate sobre falhas do SUS
Por: Cenarium*
23 de novembro de 2024
SÃO PAULO (SP) – Enquanto o sistema de saúde no Reino Unido opera protegendo as boas práticas na atenção primária, atendendo os pacientes em sua totalidade com ofertas de equipes multidisciplinares, no Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) luta para ter o cumprimento da legislação, especialmente em áreas remotas, onde a população não acessa o básico da saúde.
Lacunas na formação dos profissionais de saúde e os desafios para atualizar a educação médica, a mentalidade e o ecossistema da atenção primária estiveram no centro do debate durante o I Encontro Internacional, promovido pela Academia de Educação para Saúde Sustentável, na sede da Academia, em São Paulo.
O CEO da Modality Partnership, Vincent Sai – parceiro da Academia – esteve no Brasil para discutir os avanços do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), juntamente com a presidente do Conselho da Academia, Mara Machado, e associados honorários da Academia.
Para Vincent Sai, os três grandes desafios para transformar os moldes da atenção primária na Saúde são a transição do hospital para a casa, a adoção do aspecto digital do sistema e a transformação da mentalidade do tratamento para o foco na prevenção.

“São esses os aspectos mais importantes na Saúde, na evolução do sistema com um todo e nós, no Reino Unido, temos muito a contribuir, trocar e aprender com o Brasil. O trabalho em equipe e as habilidades não técnicas dos profissionais de Saúde também são gargalos no NHS”, declarou.
Outro ponto enfatizado pelos membros da Academia foi a necessidade de mudança na estrutura curricular dos cursos na área da Saúde no Brasil, apontando para a perspectiva da sustentabilidade, já que as diretrizes curriculares não têm força de lei e operam somente como um direcionamento para projetos pedagógicos.
“Necessitamos de uma formação interdisciplinar. Nos últimos anos, passamos de uma média de 100 cursos de formação em Enfermagem para 1.200 cursos, de qualidade bastante questionável, em que os alunos muitas vezes entram em contato com o paciente somente no último ano da graduação, especialmente nos cursos à distância, no formato EAD”, criticou Mara Machado, com as falas endossadas pelos demais participantes.
Para o grupo, o atraso do Brasil nessa discussão é gigantesco. “O atendimento primário é a chave, a porta de entrada de todo o serviço da Saúde e temos muitos gargalos nesse desenvolvimento dentro do SUS”, complementou.
Vincent Sai destacou, ainda, a importância da parceria público privada, ao dizer que no Reino Unido essas modalidades já ultrapassam os 75 anos de existência. “Começamos atendendo 25 mil pessoas e hoje já são mais de 500 mil. Temos muito o que colaborar demonstrando como essas parcerias funcionam e são bem-sucedidas. Acreditamos em Saúde Integrada e no atendimento à comunidade com escala e de forma efetiva”, afirmou o CEO britânico. Ele ressaltou, no entanto, que embora nem todas as tendências sejam aplicáveis no sistema brasileiro, é possível trazer ideias e orientações nesse sentido.
A saúde digital e o uso das câmeras digitais, a aplicação de dados, são alguns dos gargalos bastante citados, já que muitos profissionais são excelentes técnicos, mas não possuem outras habilidades importantes no contexto global atual.
Os integrantes da Academia reforçaram também a necessidade de fixar os profissionais nas áreas mais remotas do Brasil, diminuindo, desse modo, os muitos vazios assistenciais deixados por médicos que retornam aos grandes centros em poucos anos, sem levar especialização ou transferir conhecimento. “Só poderemos encontrar soluções para os desafios que enfrentamos por meio de uma cooperação intersetorial interna e parcerias multilaterais internacionais. Esta é a luta da Academia”, finalizaram.