Morador de quilombo em MG, menino de 6 anos é premiado pelo curta-metragem ‘Olhos de Erê’

Com informações do Portal Alma Preta

MINAS GERAIS – “Luan, pare de filmar as pessoas sem autorização”, disse a líder comunitária do quilombo Manzo Ngunzo Kaiango (MG), Cássia Cristina, conhecida como Makota Kidoialê, ao seu neto Luan Manzo, de apenas 6 anos na época, quando percebeu que a criança estava filmando e dando descrições bastante detalhadas sobre o que acontecia no terreiro de candomblé.

Foi assim que nasceu o curta-metragem “Olhos de Erê”, trabalho despretensioso, mas que rendeu ao jovem Luan o primeiro lugar no 6° Prêmio BDMG Cultural. Kidoialê conta à reportagem da Alma Preta Jornalismo que seu neto sempre teve interesse em filmar as coisas, pessoas e até contracenava em novelas que ele mesmo criava.

Com o celular da avó, o pequeno Luan descreve, detalhadamente, todo o terreiro, os fios de conta – que representam os orixás e nkisses – e os locais em que os rituais são feitos. Ele ainda fala que existem espaços em que não se pode filmar em respeito aos mistérios da religião.

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“Quando eu peguei meu celular, vi que havia um vídeo de mais de dez minutos, com tudo muito detalhado. Mostrei o vídeo para um parceiro da comunidade, que é produtor audiovisual, e ele deu a ideia de inscrever o vídeo em um edital”, conta a avó de Luan.

O produtor, chamado Bruno Vasconcelos, conta que o pequeno Luan tinha apenas um celular em suas mãos, uma câmera, quando a partir disso ele se solta para mostrar tudo que acha interessante.

“Há misturas, solenidade e graça, rapidez e também uma escala de tempo imemorial”, ressalta o produtor.

O prêmio e o que mais veio com ele

Ao descobrir que foi contemplado com o primeiro lugar do 6° Prêmio BDMG Cultural, na categoria “Curta-Metragem de Baixo Orçamento”, o pequeno Luan não teve dúvidas do que faria com o prêmio de R$ 6 mil: sua iniciação no candomblé.

“Ele falou: ‘vó, esse dinheiro é para o meu santo. E, se der, para o santo da minha mãe e do meu irmão também’. Então, assim foi feito”, conta Kidoialê.

O pequeno Luan Manzo, sua mãe e irmão (Acervo Pessoal)

Porém, Luan não parou por aí. A avó do garoto conta que o pequeno descobriu que o cantor Carlinhos Brown era filho do orixá Omolu. A partir dessa informação, Luan então decidiu gravar um vídeo cantando para o orixá a fim de abençoar Carlinhos e dar ao cantor “muita saúde”.

“Acho que as pessoas começaram a marcar o Carlinhos Brown nas redes sociais, até que ele respondeu o Luan. Aí eu contei para ele e ele disse ‘nossa, vó, bem que o Carlinhos Brown podia arrumar uns seguidores para mim’. Eu caí na risada com a simplicidade dele”, diz a avó do menino.

Comunidade, educação, e curiosidade

Segundo Makota Kidoialê, Luan, hoje com 8 anos, sempre foi interessado nas atividades da comunidade quilombola Manzo Ngunzo Kaiango. O quilombo não possui uma escola em seu território, portanto, durante a pandemia, os moradores descobriram uma forma de passar conhecimentos ancestrais às crianças com o projeto “Edukação de Kilombu – Afrobetização”.

A líder conta que a iniciativa permite que as crianças da comunidade aprendam a respeito da cultura afrobrasileira e sobre as religiões de matriz africana, assunto que interessa ao Luan desde muito novo.

Outro fato interessante sobre o pequeno cineasta, de acordo com sua avó, é que ele aprendeu a ler e escrever sozinho durante a pandemia. Entre 2020 e 2021, Kidoialê destaca que Luan ficou sem aulas tradicionais devido ao isolamento social, mas que isso não impediu o quilombola de se autoalfabetizar.

“Ele utilizava da assistente do Google para aprender. Tudo sozinho. Ele falava com o celular coisas do tipo ‘como escrever tal coisa’. E daí aprendia. Luan é totalmente autodidata. Desde que ele tinha um ano de idade ele se interessava por celular”, diz.

“Quando ele ainda era bebê, ele via alguém com o celular na mão e dizia para a pessoa por a ‘tenha’, que na verdade era para a pessoa desbloquear com a senha. Daí pronto, mostrava para ele uma vez e ele já aprendia. E o interesse sempre foi a câmera, nunca os jogos”, relembra a avó de Luan.

‘As crianças ensinam muito para a gente

Para Makota Kidoialê, Luan é um exemplo de como a simplicidade das crianças podem ensinar os adultos a se cobrarem menos. Para ela, o pequeno gesto de filmar o terreiro de candomblé pode ser útil para que mais pessoas aprendam sobre as religiões de matrizes africanas.

“As crianças ensinam muito para a gente. Quem sabe as pessoas vendo o filme que o Luan fez elas passem a ter menos preconceito com candomblé, umbanda e vejam quanta riqueza e conhecimento um quilombo pode proporcionar. Pode ser que outras crianças se inspirem a criar coisas também”, pondera a líder comunitária.

O pequeno Luan Manzo (Arquivo Pessoal)

O curta “Olhos de Erê” já foi exibido em diversos festivais e continua gerando algum rendimento a Luan. Com o dinheiro, que está em uma poupança, ele pretende tomar sua obrigação de um ano no candomblé em setembro, segundo sua avó.

Atualmente, Makota Kidoialê contou à Alma Preta Jornalismo que Luan Manzo está envolvido em mais uma de suas “produções”, a novela “O Tronco Pegou Piolho”, em que o pequeno quilombola interpreta quatro personagens. “Às vezes ele se perde, troca de roupa, volta, grava. Vamos ver o que vem por aí”, finaliza.

Segundo Makota Kidoialê, Luan, hoje com 8 anos, sempre foi interessado nas atividades da comunidade quilombola Manzo Ngunzo Kaiango. O quilombo não possui uma escola em seu território, portanto, durante a pandemia, os moradores descobriram uma forma de passar conhecimentos ancestrais às crianças com o projeto “Edukação de Kilombu – Afrobetização”.

A líder conta que a iniciativa permite que as crianças da comunidade aprendam a respeito da cultura afrobrasileira e sobre as religiões de matrizes africanas, assunto que interessa ao Luan desde muito novo.

Outro fato interessante sobre o pequeno cineasta, de acordo com sua avó, é que ele aprendeu a ler e escrever sozinho durante a pandemia. Entre 2020 e 2021, Kidoialê destaca que Luan ficou sem aulas tradicionais devido ao isolamento social, mas que isso não impediu o quilombola de se autoalfabetizar.

“Ele utilizava da assistente do Google para aprender tudo sozinho. Ele falava com o celular coisas do tipo ‘como escrever tal coisa’. E daí aprendia. Luan é totalmente autodidata. Desde que ele tinha um ano ele se interessava por celular”, diz.

“Quando ele ainda era bebê, ele via alguém com o celular na mão e dizia para a pessoa pôr a ‘tenha’ que, na verdade, era para a pessoa desbloquear com a senha. Daí pronto, mostrava para ele uma vez e ele já aprendia. E o interesse sempre foi a câmera, nunca os jogos”, relembra a avó de Luan.

‘As crianças ensinam muito para a gente

Para Makota Kidoialê, Luan é um exemplo de como a simplicidade das crianças podem ensinar os adultos a se cobrarem menos. Para ela, o pequeno gesto de filmar o terreiro de candomblé pode ser útil para que mais pessoas aprendam sobre as religiões de matriz africana.

“As crianças ensinam muito para a gente. Quem sabe as pessoas vendo o filme que o Luan fez elas passem a ter menos preconceito com candomblé, umbanda e vejam quanto riqueza e conhecimento um quilombo pode proporcionar. Pode ser que outras crianças se inspirem a criar coisas também”, pondera a líder comunitária.

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