Moradores do Rio Madeira têm mercúrio no organismo três vezes maior que limite admissível, aponta laudo

O documento demonstra fortes indícios de contaminação ambiental e confirma o lançamento de contaminantes a partir das balsas (Bruno Kelly/Greenpeace)

Bruno Pacheco — Da Revista Cenarium

MANAUS — Um laudo da Polícia Federal (PF) apontou, nesta quarta-feira, 15, que o mercúrio no organismo de moradores do Rio Madeira, no Amazonas, é três vezes maior que o limite considerado admissível pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os dados surgem após balsas e dragas de garimpo invadirem a região, em novembro deste ano, em busca da exploração ilegal de ouro.

O documento obtido pela REVISTA CENARIUM trata sobre a primeira fase da Operação ‘Uiara’, onde três garimpeiros foram presos e 131 balsas foram destruídas, em uma ação deflagrada pela Polícia Federal. O laudo mostra que as informações foram detectadas por meio de amostras de cabelo de moradores do rio. Os agentes também coletaram materiais das balsas, da água do Rio Madeira e de folhas que estavam nas margens do rio e nas imediações das embarcações.

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A região vem sendo invadida por garimpeiros há, pelo menos, um mês. Balsas enfileiradas de garimpo chegaram a formar uma “vila flutuante” na região dos municípios de Autazes e Nova Olinda do Norte, no interior do Amazonas. A invasão dos garimpeiros foi registrada pelo Greenpeace Brasil num sobrevoo no dia 23 de novembro.

Balsa de garimpo no Rio Madeira no município de Autazes, próximo à Comunidade Rosarinho, a 120 quilômetros de Manaus (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Autoridades brasileiras, contudo, já tinham imagens de satélite há pelo menos um mês antes do registro do Greenpeace, mostrando a formação da vila fluvial de garimpeiros. Após a notícia sobre a invasão começar viralizar pelo País, as embarcações se dispersaram no dia 26 de novembro, em meio ao anúncio de uma operação da Polícia Federal.

Laudo

De acordo com o laudo, o nível de mercúrio na água do Rio Madeira é de 15 a 95 vezes maior ao considerado aceitável como máximo para consumo e uso recreativo. As amostras de cabelo foram coletadas das comunidades ribeirinhas Remanso e Rosarinho. Segundo o documento, todas as amostras relacionadas diretamente ao garimpo foram coletadas em balsas que operavam próximas ao município de Nova Olinda do Norte.

Conforme o relatório, dos materiais analisados, 85% apresentaram indícios de contaminação pelo elemento mercúrio. “As amostras da água e sedimento demonstram fortes indícios de contaminação ambiental e confirmam o lançamento de contaminantes a partir das balsas, correados para o meio ambiente mediante os materiais utilizados no processo de exploração do ouro e principalmente no rejeito da atividade”, mostra trecho do documento.

Garimpeiro Gideão Bentes Sales segurando 20 gramas de ouro na balsa de garimpo no Rio Madeira, no município de Autazes, próximo à Comunidade Rosarinho, a 120 quilômetros de Manaus (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

As amostras de folhas indicam que pode haver contaminação da vegetação às margens do Rio Madeira. Segundo o laudo, a presença de mercúrio nas folhas pode ser indicativa que o metal está sendo dispersado pela atmosfera e se precipitando no entorno do rio, podendo alcançar pequenas lavouras. “As amostras de cabelo advertem que as populações ribeirinhas estão consumindo água e/ou alimentos contaminados e concentrando nos seus tecidos o metal pesado”, diz outro trecho do laudo.

Operação

Nesta quarta-feira, 15, a PF e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) deflagraram a segunda fase da Operação ‘Uiara II’, que tem por objetivo identificar, abordar e inutilizar balsas e dragas que operam a atividade de garimpo ilegal de ouro na calha do Rio Madeira, no Amazonas. Esta fase da operação acontece em Borba (a 159 quilômetros de Manaus).

Veja também: PF e Ibama deflagram nova fase de operação contra garimpo ilegal no Rio Madeira

Em nota, a PF esclareceu que toda atividade de lavra de ouro no Rio Madeira é ilegal e que, portanto, as ações com o objetivo de desocupar a hidrovia continuarão a ser realizadas, assim como serão estendidas em 2022 a outras regiões de garimpo ilegal detectadas no Amazonas.

Confira o laudo na íntegra:

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