Moradores reclamam de alagamentos em residencial entregue por Lula
Por: Fabyo Cruz*
22 de fevereiro de 2025
BELÉM (PA) – Moradores do Conjunto Residencial Viver Outeiro, em Belém, entregue no último dia 13 de fevereiro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro das Cidades, Jader Filho, por meio do programa “Minha Casa, Minha Vida”, enfrentaram nesta semana sérios problemas com os alagamentos ocasionados pelas fortes chuvas que atingem a capital paraense durante o inverno amazônico.
O imóvel está localizado na Ilha de Caratateua, conhecida popularmente como Outeiro, uma das 42 ilhas que integram a região insular da capital paraense.
Imagens que circulam nas redes sociais mostram crianças brincando na água acumulada e moradores atravessando áreas alagadas. O problema vai além do transtorno imediato: a água parada pode favorecer a proliferação de doenças e comprometer a segurança sanitária da comunidade. Veja como fica o Residencial em dias de chuva:
À CENARIUM, o Ministério das Cidades informou, por meio de nota que, junto a Prefeitura de Belém, sinalizou a Caixa Econômica Federal – gestora do Fundo De Arrendamento Residencial – para que acione a construtora Mape Engenharia, responsável por finalizar as obras do Residencial Viver Outeiro. “Foram pedidas providências em relação ao alagamento registrado nas últimas horas no empreendimento”, diz o comunicado.
A nota destaca que “o elevado volume de chuvas registrado no período é o principal fator do alagamento. Os principais órgãos de meteorologia do país apontam que a estimativa de chuvas para o mês de fevereiro de 2025 em Belém está maior em comparação com os dois últimos anos, de 2023 e 2024, período em que o residencial teve suas obras retomadas e finalizadas”.
“Apesar da intensidade do temporal e do alagamento formado, a rede de drenagem fez o escoamento normal da água empoçada pouco tempo após a redução do volume de chuva e nenhum dos 1.008 apartamentos do residencial chegou a ser atingido pela água. Cabe reforçar que a responsabilidade pela obra – nos próximos dois anos – é da construtora Mape Engenharia”, conclui a mensagem da pasta.

O empreendimento, contratado em 2014, teve suas obras paralisadas em setembro de 2021 e retomadas em março de 2023, após uma suplementação de R$ 30 milhões em recursos federais. O investimento total na construção das 1.008 moradias foi de R$ 97,2 milhões, com recursos do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) e contrapartida da Prefeitura de Belém. O residencial possui apartamentos de 43,85 m² distribuídos em 63 blocos de quatro andares, além de infraestrutura como áreas de lazer, quadra poliesportiva, centros comunitários e estações de tratamento de água e esgoto.
Para o ativista climático e morador da região, João do Clima, o caso do Residencial Viver Outeiro reacende o debate sobre os desafios da habitação social em áreas vulneráveis e a necessidade de um planejamento urbano que leve em conta as particularidades ambientais de Belém. “As moradias populares são frequentemente entregues sem qualidade e sem considerar a realidade do território”, pontuou.

(Créditos: Marx Vasconcelos/CENARIUM)
João alerta que o episódio reflete um déficit crônico de planejamento urbano na ilha, que sofreu uma ocupação desordenada após a construção da Ponte Enéas-Pinheiro, sem infraestrutura adequada de drenagem, saneamento ou políticas públicas efetivas.
“A Ilha de Caratateua precisa de planejamento urbano adequado, com sistemas eficientes de drenagem, reflorestamento e infraestrutura resiliente às mudanças climáticas. Nós já vivemos um processo de vulnerabilidade ambiental há décadas, com a redução da cobertura vegetal, contaminação do solo e aumento da temperatura. Agora, vemos mais uma vez o descaso com as comunidades insulares”, disse o ativista.