Moraes refuta tese de defesas e mantém delação de Cid em julgamento de Bolsonaro


Por: Ana Cláudia Leocádio

09 de setembro de 2025
Moraes refuta tese de defesas e mantém delação de Cid em julgamento de Bolsonaro
Alexandre de Moraes votou para condenar Bolsonaro e outros sete réus por tentativa de golpe de Estado (Luiz Silveira/STF)

BRASÍLIA (DF) – Em mais de cinco horas e um voto cheio de ironias, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes refutou a tese das defesas dos oito réus que estão em julgamento na Primeira Turma que, além de alegar cerceamento de defesa na Ação Penal 2668, também pediam a anulação da delação premiada do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. Os relatos do militar foram fundamentais para a investigação da Polícia Federal (PF) realizar o encadeamento de fatos, que foi utilizado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) para formular a denúncia apresentada.

Moraes votou pela condenação de Bolsonaro, agravado pelo fato de ser considerado o líder da organização criminosa, do ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier Santos; do ex-ministro da Justiça Anderson Torres; Augusto Helo general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); tenente Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator no processo; o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa.

Ministro Alexandre de Moraes é relator da Ação Penal 2668 no STF (Gustavo Moreno/STF)

Sete réus respondem por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. A exceção é o deputado Ramagem, beneficiado por uma decisão da Câmara dos Deputados, que excluiu os crimes ocorridos depois que ele tomou posse como parlamentar (dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado).

Moraes optou por fazer um voto construído em 13 pontos que demonstrassem de forma estruturada e concatenada a ação do que a PGR chamou de “Núcleo crucial” da trama do golpe, que começou em julho de 2021 e culminou com os ataques de 8 de janeiro de 2023. Para Moraes, as provas técnicas reunidas nos autos do processo não deixam dúvidas do papel de cada um na trama de tentativa de golpe de Estado, com o objetivo de desacreditar a Justiça Brasileira, o sistema eleitoral eletrônico para permanecer no poder e impedir a posse de governo legitimamente eleito.

Moraes demonstrou o uso da máquina pública, como da Abin e do GSI, para produzir desinformação sobre as urnas eletrônicas e monitoramento de adversários. O ministro indiretamente criticou a defesa do general Augusto Heleno, que chegou a apontar cerceamento de defesa e do direito ao silêncio, fazendo referência a ser “juiz samambaia”, sem direito a fazer perguntas durante a instrução processual.

Os ministros da Primeira Turma do STF durante o julgamento (Gustavo Moreno/STF)

Outro general que teve os argumentos refutados foi o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, que alegou não ser golpista porque tentou demover Bolsonaro, várias vezes, de tomar medidas de exceção. Para Moraes, uma pessoa conciliadora não faria o que fez o general, de apresentar uma minuta de golpe aos comandantes das Forças Armadas, no intuito de recrutá-los para dar suporte ao intento golpista de Bolsonaro.

O ministro também utilizou as próprias palavras de Bolsonaro, durante interrogatório, que admitiu estudar outras medidas, depois que viu não ser mais possível outros recursos, após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aplicar uma multa ao PL, seu partido, após um pedido de revisão de urnas eleitorais, em 2022.

“O Brasil quase volta a uma ditadura que durou 20 anos porque uma organização criminosa, constituída por um grupo político, não sabe perder eleições”, afirmou Moraes.

O ex-presidente Jair Bolsonaro durante o julgamento da denúncia no STF (Gustavo Moreno/STF)

Ao final da leitura do voto de Moraes, os advogados dos réus, presentes no julgamento não quiseram falar com a imprensa, prometendo dar declarações após a conclusão da sessão desta terça-feira, 9.

O STF deu início ao julgamento do chamado “Núcleo 1” na semana passada, 3 de setembro, que, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), envolvia Bolsonaro, que teria atuado de forma coordenada para um golpe de Estado no País, com o objetivo de mantê-lo no poder e não permitir a posse do candidato eleito nas eleições de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva. Nos dias 2 e 3, foram lidos o relatório da denúncia, além das sustentações orais do procurador-geral da República, Paulo Gonet, e dos advogados dos oito réus.

Leia mais: STF retoma julgamento de Bolsonaro com leitura do voto de Moraes
Editado por Jadson Lima

O que você achou deste conteúdo?

VOLTAR PARA O TOPO
Visão Geral de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.