Moro perde espaço em SP após áudios sexistas do deputado Arthur do Val vazarem na internet


07 de março de 2022
Moro perde espaço em SP após áudios sexistas do deputado Arthur do Val vazarem na internet
O ex-juiz federal Sergio Moro. (Reprodução/ Internet)
Com informações da Folha de S. Paulo

BRASÍLIA – Os áudios sexistas de Arthur do Val derrubaram o palanque regional mais consistente e importante de Sergio Moro (Podemos) no País, o de São Paulo, e ampliaram os problemas na candidatura do ex-juiz. O caso tende a empurrar o Podemos de vez para a campanha do tucano Rodrigo Garcia em São Paulo, principal base de sustentação do presidenciável João Doria (PSDB).

Por tabela, o Movimento Brasil Livre (MBL), grupo que migrou para o Podemos e integra a linha de frente da campanha de Moro, vê a sua crise interna se ampliar com dois de seus principais líderes na linha de fogo —além de Arthur do Val, o deputado federal Kim Kataguiri (SP) também se envolveu em controvérsia recentemente ao dizer, em entrevista, que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo.

Arthur do Val e ex-juiz Sergio Moro
Arthur do Val e ex-juiz Sergio Moro em evento de filiação do deputado estadual ao Podemos, em janeiro de 2022 – (Adriano Vizoni/Folhapress)

A reação de Moro de condenar e tentar se afastar de Kim e Arthur do Val terá reflexos no apoio do grupo a sua candidatura.

Moro tenta se descolar de Ciro Gomes (PDT) nas pesquisas e se consolidar como o nome que unificaria os demais da direita e do centro —Doria e Simone Tebet (MDB), em especial— em torno da sua candidatura.

Sua lista de problemas, porém, não é pequena. Em primeiro lugar, ele está filiado a um partido, o Podemos, que tem poucas perspectivas de montar palanques fortes nos Estados nas disputas para governador.

Além da fragilidade partidária e da falta de palanques regionais, a estagnação nas pesquisas e o caso Arthur do Val levam políticos e adversários a ampliarem, nos bastidores, prognósticos de que Moro poderá até abandonar a candidatura presidencial e concorrer a outro cargo.

Em pesquisa Datafolha de dezembro, Moro tinha 9% das intenções de voto, enquanto Ciro aparecia com 7%. Doria tinha 3% e Tebet, 1%.1 8

Sergio Moro durante a filiação de membros do MBL ao seu partido, o Podemos
Sergio Moro durante a filiação de membros do MBL ao seu partido, o Podemos. (Adriano Vizoni-26.jan.22/Folhapress)

Os áudios sexistas de Arthur do Val vieram à tona na sexta-feira, 4. No dia seguinte, ele disse ter retirado sua pré-candidatura ao governo paulista. O deputado estadual aparecia com 3% das intenções de voto em pesquisa Datafolha de dezembro —em cenário que não considera a participação do ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido).

Em 2020, Arthur do Val foi candidato a prefeito de São Paulo pela primeira vez e ficou em quinto lugar, com 9,8% dos votos válidos.

Na fala que enviou a um grupo de amigos, Arthur do Val diz, entre outras coisas, que as ucranianas são “fáceis” por serem pobres —e que a fila de refugiados da guerra tem mais mulheres bonitas do que a “melhor balada do Brasil”.

A primeira reação de Moro foi romper com o deputado estadual e dizer que lamentava “profundamente as graves declarações” atribuídas a Arthur do Val, youtuber também conhecido pelo apelido de “Mamãe Falei”.

“O tratamento dispensado às mulheres ucranianas refugiadas e às policiais do país é inaceitável em qualquer contexto. As declarações são incompatíveis com qualquer homem público. Jamais dividirei meu palanque e apoiarei pessoas que têm esse tipo de opinião e comportamento”, afirmou o ex-juiz.

A pré-candidatura de Arthur do Val não era consenso dentro do Podemos.

Um dia após a filiação do deputado estadual ao partido, um grupo de 18 prefeitos da legenda em São Paulo se reuniu com Rodrigo Garcia (PSDB), vice-governador de São Paulo, para declarar apoio a sua reeleição. O Podemos administra 22 cidades no Estado.

O deputado estadual Arthur Moledo do Val, do canal “Mamãe, Falei” em retrato feito na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo)
O deputado estadual Arthur Moledo do Val, do canal “Mamãe, Falei”, em retrato feito na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). (Bruno Santos/Folhapress)

Apesar de reconhecerem reflexos negativos, a reação do ex-juiz foi elogiada por políticos aliados.

O líder do Cidadania na Câmara dos Deputados, Alex Manente (SP), diz que o episódio afeta a candidatura, mas que Moro agiu de forma correta.

“Inegavelmente ele se aliou ao MBL, especialmente no Estado de São Paulo, onde o MBL tem uma presença, e [Moro] teve a postura correta e imediata para tentar minimizar o dano”, afirmou.

“Mas óbvio que inclusive a questão político-partidária que foi criada em torno do MBL, da candidatura do Arthur a governador, afetará a campanha do Moro em São Paulo.”

Para o deputado Junior Bozzella (União-SP), Moro demonstrou que se posiciona quando aliados cometem erros.

“Ele não passa pano. Isso é uma vantagem que ele tem perante os demais. Quando o Moro reage à atitude de um possível aliado, ele mostra ser preciso apontar o erro e deixar explícita a sua posição”, afirma.

“A partir do momento em que ele deixa claro que não tem compromisso com uma atitude equivocada, racista, machista, ele demonstra a sua honradez e seu caráter”, prossegue o deputado.

Ele também critica bolsonaristas que tentam “cancelar” o deputado estadual, enquanto ignoram atitudes machistas do presidente Jair Bolsonaro.

O presidente tem um longo histórico de afirmações sexistas, antes e depois de chegar à Presidência.

Em 2014, quando ainda era deputado federal, ele disse no plenário da Câmara que só não “estupraria” a colega Maria do Rosário (PT-RS), ex-ministra de Direitos Humanos, porque ela “não merecia”. Em 2019, disse não ver problemas no turismo sexual no Brasil, desde que ele não fosse praticado por gays.

“Quem aponta o dedo para o Arthur tem que apontar para o Bolsonaro também”, afirmou Bozella. Para ele, Moro vai ser “vítima de toda gota ser potencializada e transformada num tsunami”.

“A questão é saber se posicionar diante do erro. Ele não passou a mão na cabeça de ninguém, diferentemente da esquerda que não aponta dedo para os mensaleiros e dos bolsonaristas que não apontam dedo para os rachadores.”

Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro saiu do governo criticando o antigo chefe e acusando de tentativa de interferência na Polícia Federal.
Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro saiu do governo criticando o antigo chefe e acusando de tentativa de interferência na Polícia Federal. (Evaristo Sá – 29.ago.19/AFP)

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