Mostra de arte ‘Meu Povo’ celebra obras inéditas de artistas indígenas em Manaus
15 de setembro de 2021
É primeira mostra genuinamente indígena realizada em Manaus (Priscilla Peixoto/Cenarium)
Priscilla Peixoto – Da Cenarium
MANAUS – Mostra de arte ‘Meu Povo’ celebrou na manhã desta quarta-feira, 15, obras inéditas de artistas indígenas em Manaus. O evento ocorreu no Palácio Rio Branco, localizado na Avenida 7 de Setembro, praça Dom Pedro II, Centro Histórico de Manaus. A exibição será aberta ao público a partir do próximo dia de 22 de setembro e segue até 25 de outubro e, para contemplar as obras expostas, basta realizar um agendamento virtual.
Esta é a primeira vez que Manaus vai realizar um mostra genuinamente inédita, com produções e participações de oito artistas indígenas. “Um dia simbólico e emblemático para a memória cultural de Manaus”, assim o presidente do Conselho Municipal e Cultura (Concultura), Tenório Teles, classificou o lançamento da Mostra “Meu Povo”.
“Este é o dia em que os artistas indígenas da cidade de Manaus assumiram um papel de protagonismo, valorização e principalmente de reconhecimento artístico e estético de suas produções culturais”, ressalta o presidente do Conselho Municipal de Cultura da capital amazonense.
Presidente do Conselho Municipal de Cultura (Concultura), Tenório Teles (Priscila Peixoto/Cenarium)
Variedade artística
A mostra reúne diversos trabalhos artísticos como grafismos ritualísticos antropológicos retratados em quadros como artes urbanas das gerações que vivem na capital. Há também exposições de culturas, cerâmicas, cestarias e artefatos que remetem a diferentes culturas indígenas como: Kokoma, Tukano, Mura, Tuyuka e Warau.
Além disso, a exposição conta a participação do centro indígena Bahserikowi que contribui com alguns objetos expostos no evento do povo Tukano, Dessana e Tuyukas do Alto Rio Negro. E a presença da artista indígena do povo Warao da Venezuela, Josefina Perez.
Morando em Manaus há dois anos, a presença da artista vinda de uma população que vive um cenário político problemático, representa parte dessa comunidade deslocada e distante das origens, mas que encontra, nesse espaço artístico, acolhimento e oportunidade para passar à população a história que carregam por meio da arte.
“Nos sentimos muito bem e acolhidas, em meio ao preconceito e humilhação que sofremos, isso é um passo muito importante, histórico e de comunhão. Espero que não seja a primeira e última vez, mas que venham outros momentos assim. Tenho uma vida inteira dedicada para a arte da confecção de objetos que representam nossa cultura”, conta a artista.
Josefina Perez é da etnia Warao e participa da exposição (Priscilla Peixoto/Cenarium)
Curadoria
De acordo com um dos responsáveis pela curadoria do evento, o doutor em antropologia, João Paulo Tukano, o processo de seleção para a participação artística e exposição das obras, teve como principal critério a identificação étnica que cada quadro e objeto apresentam. Paulo ressalta ainda sobre a mostra no momento de pandemia, que segundo ele proporciona um “respiro” e leva à reflexão de que a união entre os povos é necessária.
“Precisamos aprender a dialogar sobre culturas e diferenças e esse momento nos traz isso. Nos faz olhar que precisamos conviver coletivamente, ainda que a pandemia tenha nos afastado por questões de saúde. Somos povos diferentes, mas precisamos da mesma água, da mesma terra, dos mesmos elementos e o povo indígena também consegue mostrar por meio da arte esse recado, pois a arte viaja e te coloca em outra dimensão”, avalia João Paulo.
Copaíba e Andiroba
Chermie Ferreira Kokama retrata a medicina natural e mulheres nas telas (Priscilla Peixoto/Cenarium)
Com uma série de quadros intitulados como “Copaíba e Andiroba”, a artista Chermie Ferreira Kokama retrata nas obras em tela a medicina natural, a força e o cuidado da mulher nos processos de cura. Ao todo, a série possui o total de 20 obras em diferentes tamanhos tendo como base o fundo negro, o verde das plantas e mulheres em situações do cotidiano.
“Todas têm a mesma tonalidade de cor, o preto, o verde e marrom que tem a ver com a fruta e também remete ao rio Negro e Solimões. Em uma das obras, é possível observar uma matriarca que foi inspirada em minha avó que já faleceu e cada trabalho produzido foi baseado em pesquisa”, explica a artista que também é apaixonada no trabalho de grafite.
Há 18 anos como grafiteira, a arte produzida por Chermie Kokama, ultrapassa o cenário local. Atualmente, ela é a única mulher indígena a possuir um espaço de arte urbana em São Paulo. “Comecei em Manaus, moro aqui, mas trabalho muito fora também. Retrato as dificuldades, realidades, vitórias da população (mulheres e trabalhadores) daqui da região. Fico muito feliz com iniciativas como estas”, finaliza.
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