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Movimento faz ‘sarau da resistência’ em Manaus após lei ignorar importância de líder negro
Participantes do movimento durante o sarau na praça Nestor Nascimento (Bruno Pacheco/Cenarium)
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28 de julho de 2021
Bruno Pacheco – Da Cenarium
MANAUS – Ativistas e representantes do movimento negro se reuniram na tarde desta quarta-feira, 28, em um sarau para celebrar a história de luta e resistência de uma das maiores lideranças na luta contra o racismo no Amazonas: Nestor Nascimento. O encontro ocorreu na praça que ganhou o nome de Nestor, no bairro Praça 14, na zona Sul de Manaus, e contou com apresentações de maracatu, capoeira, hip hop e samba. O ato ganhou força após uma lei municipal mudar, contra a vontade da população, o nome do local para Oscarino Peteleco.
Para representantes do movimento negro, alterar o nome da praça é sinônimo de um apagamento cultural e da história de luta e resistência de Nestor Nascimento, que fundou a primeira organização voltada às causas negras no Amazonas, o Movimento Alma Negra (Moan).
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O presidente do Instituto Nacional AfroOrigem, Christian Rocha, explica que a praça é uma das poucas homenagens que Nestor recebeu por tudo que representa para a comunidade negra e, com a alteração, o sentimento é de tristeza.
“É muito complicado você enfrentar uma situação que a comunidade está enfrentando. Todos os movimentos sociais estão com um sentimento de tristeza, porque vê uma das poucas homenagens que o Nestor recebeu sendo atropelada dessa forma, sem uma consulta, conversa ou diálogo com os demais grupos sociais, é preocupante”, desabafou Christian.
Liderança
Nestor Nascimento foi a liderança responsável por mobilizar a população negra do Amazonas a participar do movimento social. Em 1997, ele chegou a ser convidado pelo então presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Bill Clinton, para discutir sobre direitos humanos.
A jornalista e advogada Luciana Santos, secretária da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados – Seccional Amazonas (OAB-AM), explica que Nestor Nascimento foi o principal líder negro num momento da história em que era difícil as pessoas assumirem que eram negros, além de lutarem a favor das pautas sociais do movimento no Amazonas.
“O Nestor está vivo em todas as lutas do movimento e não poderíamos deixar um local, que é da comunidade, que fosse apagado, ainda mais num bairro que tem o quilombo do qual ele e a minha família deram origem, que é o quilombo de São Benedito. Não podemos deixar essa história morrer”, salientou Luciana.
Para a advogada, alterar o nome da praça, na tentativa de apagar e invisibilizar a figura histórica de Nestor Nascimento, representa algo muito além de uma simples sanção de lei e pode ser considerada como um ato de racismo. “Esse apagamento, essa invisibilização de figuras históricas é uma das estratégias do racismo. O racismo atua dessa forma. Mesmo quando ele não ataca a pessoa fisicamente, destruir a memória é uma forma de morte também”, destaca a advogada.
A Lei
A Lei nº 2.767/2021, que muda o nome da praça Nestor Nascimento para Oscarino Peteleco, foi sancionada nesta semana pela Prefeitura de Manaus. A medida foi proposta pelo vereador David Reis (Avante) e não agradou grande parte dos moradores do bairro Praça 14, onde Nestor nasceu e foi criado.
No texto do Projeto de Lei (PL) 354/2021, Reis explica que Oscarino Farias Varjão, que foi um ventríloco de Manaus, é um ícone cultural do Estado, sendo reconhecido como patrimônio cultural e imaterial do Amazonas. Nesta quarta-feira, 28, a procuradoria-geral de Manaus anunciou que vai revogar a medida e vai manter o nome da praça com o nome de Nestor Nascimento.
Representantes do movimento Negro, no entanto, afirmaram que manterão a vigilância sobre o caso. Segundo a advogada Luciana Santos, uma mensagem do Executivo deve ser encaminhada à Câmara Municipal de Manaus propondo a revogação da medida, mas a matéria deve entrar na pauta da Casa somente na próxima segunda-feira, 2, em regime de urgência.
“Estamos vigilantes. Estaremos lá para cobrar que realmente isso seja feito. Que não seja apenas uma promessa, pois de promessas estamos cheios. Se necessário for, continuaremos ocupando a praça até que isso seja realmente efetivado”, concluiu.
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