Movimento Negro mantém vigilância mesmo após revogação da lei que alterava nome de praça em Manaus

Integrantes do movimento Negro de Manaus (Reprodução/Arquivo pessoal)
Priscilla Peixoto – Da Cenarium

MANAUS – Representantes do Movimento Negro de Manaus decidiram nesta quarta-feira, 28, manter a vigilância sobre a revogação da proposta de Lei nº 2.767/2021, formulada pelo vereador David Reis (Avante), que visava a alteração do atual nome da Praça Nestor Nascimento, localizada no bairro Praça 14 de Janeiro, zona Sul de Manaus.

A decisão foi tomada após um encontro com o procurador-geral de Manaus, Marco Aurélio Choy, que confirmou a revogação da intenção de trocar o nome do local para Oscarino Peteleco, um popular ventríloquo da cidade. Os participantes afirmam que a desaprovação da sociedade e em especial da comunidade negra da capital amazonense foi decisiva.

“Precisamos resgatar a memória do Nestor. A praça será revitalizada e a homenagem para o Oscarino que também foi importante para a cultura local será em outro lugar”, afirma Marco Aurélio Choy, responsável pelo caso na Prefeitura de Manaus.

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Sem diálogo

Segundo a jornalista e integrante do Movimento Negro de Manaus, Luciana Santos, a decisão de trocar o nome do lugar que homenageia aquele que é considerado um ícone da luta negra no Amazonas ocorreu sem nenhum tipo de diálogo com a comunidade e, caso se concretizasse, seria um ato falho com parte da história do Estado do Amazonas.

“Viemos sim questionar essa medida, a comunidade não foi consultada enquanto essa troca, deixamos claro também que em nenhum momento desmerecemos o valor do Varjão para nossa cultura, fazendo parte da infância de muitos amazonenses, mas não justifica essa troca. Não tem porque tirar o nome do Nestor para por o nome de outra pessoa”, conta a advogada e jornalista.

A praça fica localizada no bairro Praça 14, zona Sul de Manaus (Ingrid Anne/Manauscult)

Invisibilizar a história

A ativista alega que a medida transpareceu uma tentativa de invisibilizar a história e toda importância do legado deixado por Nestor Soeiro para a história amazonense. Ela ressalta que a figura de Nestor é tão importante e representativa assim como a história do abolicionista, jornalista e patrono da Abolição da Escravidão do Brasil, Luís Gama.

Além das lições deixadas por Nestor no âmbito estadual, Luciana ressalta que o líder foi importante para a luta das causas dos direitos civis, o que lhe rendeu uma visita ao Capitólio, a convite do presidente Bill Clinton em 1997.

“Ele foi reconhecido internacionalmente por ser um defensor dos direitos humanos, inclusive, numa época em que era muito difícil as pessoas se assumirem negras e lutarem por esses direitos. Se nacionalmente temos Luís Gama como referência, aqui temos o orgulho de ter Nestor que também foi essencial para nossas lutas”, pontua Luciana.

Nestor Soeiro Nascimento foi defensor dos direitos humanos e lutou pelas causas negras (Reprodução/Blog do Rocha)

Sarau da resistência

Mesmo reformulando a decisão, os integrantes do Movimento Negro continuam vigilantes e irão manter a programação de ocupação cultural no praça Nestor Nascimento, a partir das 15h30. O intuito é revidar de forma pacífica e por meio da arte a decisão considerada falta de compromisso com a comunidade negra do Amazonas.

Segundo a jornalista, durante a programação, haverá apresentações de maracatu, capoeira, hip hop e samba, além de várias participações e representatividade negra como o mestre-sala e porta-bandeira da Mocidade de Aparecida e integrantes da Escola de Samba Vitória-Régia.

“Vamos ocupar a praça, isso serve para eles a força do movimento negro no Estado e que não vamos admitir que esse tipo de situação aconteça, estamos vigilantes e não vamos ficar calados de forma alguma. Portanto, a programação cultural permanece e estamos atentos”, finaliza.

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