MP investiga suspeita de racismo contra jogador de futebol no Acre


Por: Lucas Thiago

25 de junho de 2025
MP investiga suspeita de racismo contra jogador de futebol no Acre
Atleta foi alvo de insultos racistas por parte de dois atletas adversários que disputavam a partida de futebol no AC (Reprodução | Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)

MANAUS (AM) – O Ministério Público do Estado do Acre (MP-AC) abriu investigação para apurar a suspeita de racismo praticado contra o jogador Erick Rodrigues da Silva, que compõe o elenco do time Galvez Esporte Clube. O caso foi registrado na terça-feira, 17, durante uma partida pelo Campeonato Acreano Sub-20, no Estádio Florestão, em Rio Branco. O procedimento investigatório, datado de quarta-feira, 18, foi divulgado na segunda-feira, em edição do Diário Oficial da instituição.

De acordo com a diretoria do clube, o atleta foi alvo de insultos racistas por parte de dois atletas adversários que disputavam a partida. A denúncia aponta que os agressores utilizaram expressões ofensivas como “urubu velho” e fizeram gestos depreciativos insinuando que o atleta “estava fedendo”. O caso é citado em documento do MP-AC, assinado pelo promotor de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania, Talles Ferreira Costa. Veja momento em que o caso foi registrado:

A Promotoria de Justiça Especializada de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania instaurou a investigação e expediu ofício à Polícia Civil solicitando informações sobre o caso. O jogador que foi vítima dos ataques e o diretor do clube, Igor Oliveira, foram recebidos no prédio do MP-AC na manhã dessa quarta-feira, 24, a pedido do promotor, para mais esclarecimentos do caso.

Veja vídeo da reunião com o MP-AC:

‘Me senti ofendido’

Em vídeo publicado nas redes sociais do clube, o jogador se manifestou contra a atitude dos jogadores adversário e afirmou que se sentiu “muito ofendido” com o episódio. Apesar dos ataques, o atleta disse que tem “muito orgulho de ser negro de ser preto“.

”Queria dizer que me senti muito ofendido no momento, mas tenho muito orgulho de ser negro de ser preto mesmo. O meu cheiro é de uma pessoa que trabalha todo dia, para conquistar o meu sonho desde criança. A minha pele carrega história e ninguém vai apagar isso”, declarou o jogador.

O episódio também foi presenciado pelo quarto árbitro e registrado em súmula pelo juiz da partida, Josué França de Castro, relatando que o atleta Luiggi Inácio Pinheiro Lago dos Santos proferiu a expressão “urubu velho” para o jogador do Galvez, e posteriormente foi em sua direção com sorriso no rosto.

Veja a ocorrência registrada na súmula da arbitragem da partida:

No decorrer da investigação, o MP-AC pretende reunir elementos de provas para que, sendo comprovado o crime de racismo, sejam adotadas as medidas judiciais cabíveis. Veja a íntegra do documento:

Procedimento Investigatório Criminal do MP-AC (Reprodução/Diário Oficial)
Time se manifesta

Em nota publicada nas redes sociais, o clube do Santa Cruz Acre reiterou o “compromisso inegociável com o combate a qualquer forma de preconceito”. O time informou que vai aguardar as investigações que são conduzidas pelas autoridades competentes para tomar “medidas contra os atletas do clube envolvidos no episódio investigado”. Veja a nota:

O advogado Marcos Lima, que representa o atleta no caso, declarou que a expressão “urubu, véi”, usada pelo jogador durante o episódio, teria sido dita a um companheiro de equipe, sem “conotação ofensiva ou discriminatória”

De acordo com a defesa do jogador, contexto da fala foi deturpado, pela comissão técnica do Galvez induzindo a uma interpretação equivocada dos fatos.

Veja a nota da defesa do jogador que proferiu supostamente a fala racista

“O atleta Luigi Inácio Pinheiro, por meio de sua defesa, vem a público reafirmar sua total inocência diante da injusta acusação de racismo ocorrida durante a partida entre Santa Cruz e Galvez, realizada em 17 de junho de 2025, válida pelo Campeonato Acreano Sub-20.

Durante o jogo, o atleta dirigiu-se a um colega de equipe com quem tem convivência diária no alojamento, utilizando a expressão “urubu, véi”, gíria comum entre os jogadores, sem qualquer conotação ofensiva ou discriminatória. O contexto da fala foi deturpado por membros da comissão técnica do Galvez, em especial por seu preparador de goleiros, que pressionou o árbitro de forma desequilibrada e induziu a uma interpretação totalmente equivocada dos fatos, resultando na expulsão do atleta por suposta ofensa verbal, conforme consta expressamente na súmula — sem qualquer menção a ato de racismo.


Após o jogo, o clube Galvez optou por transformar um episódio mal interpretado em uma campanha pública de difamação, publicando em suas redes sociais acusações levianas e falsas contra o atleta Luigi, tentando se valer de um tema extremamente sério e sensível como o racismo para promover um linchamento público cruel e irresponsável.


Luigi, que é um jovem negro, de origem humilde e morador de comunidade, está sendo perseguido e ameaçado, encontra-se recluso no alojamento, com receio de sair às ruas e sofrer agressões físicas ou algo ainda mais grave. Todo e qualquer ato de violência que venha a ocorrer contra ele será de inteira responsabilidade do Galvez Esporte Clube e de seus dirigentes, que colocaram um alvo nas costas de um jovem inocente.


Reafirmamos que não houve qualquer ato de racismo, e que o atleta Luigi jamais proferiu qualquer ofensa racial a qualquer adversário, como confirma a própria súmula da arbitragem. O que se vê, lamentavelmente, é o uso político e oportunista de um tema grave para fins escusos, colocando em risco a honra, a integridade e a carreira de um jovem que luta por seu futuro por meio do esporte.


O atleta Luigi permanece à disposição das autoridades desportivas e judiciárias para prestar todos os esclarecimentos necessários e comprovar sua total inocência. Sua defesa tomará todas as medidas legais cabíveis, tanto na esfera cível quanto criminal, para responsabilizar o Galvez Esporte Clube e seu preparador de goleiros por todas as mentiras, danos morais, ameaças e prejuízos causados à sua vida e à sua carreira.


Reiteramos que racismo é crime, e deve ser combatido com rigor, mas jamais usado como instrumento de manipulação ou perseguição, como lamentavelmente ocorreu neste caso.
Justiça será feita”.

Leia mais: Campanha da CBF contra o racismo
Editado por Jadson Lima

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