MST denuncia invasão, ataque e incêndio em acampamento no Pará


Por: Fabyo Cruz

14 de julho de 2025
MST denuncia invasão, ataque e incêndio em acampamento no Pará
Viveiro de mudar do Acampamento Terra Cabana (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal/MST)

BELÉM (PA) – Um ato de violência contra famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi denunciado nas redes sociais pela própria organização nesta segunda-feira, 14. O episódio ocorreu na manhã de domingo, 13, no Acampamento Terra Cabana, localizado no município de Benevides, na Região Metropolitana de Belém (RMB), no Pará.

Segundo o MST, por volta das 11h, um grupo de cerca de 20 pessoas invadiu o território utilizando uma motosserra para derrubar o portão de entrada do acampamento. A organização aponta que os invasores estariam ligados a Miguel Carneiro, conhecido como “Índio”. Mesmo diante de tentativas de diálogo por parte dos moradores, o grupo teria seguido com ameaças e destruído o viveiro de mudas “Palestina Livre”, serrando a estrutura e ateando fogo ao local.

A denúncia relata que a presença de mais moradores foi incapaz de impedir o avanço do grupo, que permaneceu no território e chegou a ameaçar retornar ao local. Em vídeos e imagens divulgados pelo MST, é possível ver uma confusão entre assentados e um grupo de pessoas. A Polícia Militar do Pará (PMPA) esteve no local. O caso foi registrado na Delegacia de Benevides e encaminhado à Delegacia de Conflitos Agrários e à Vara Agrária de Castanhal, conforme informações divulgadas pelo movimento.

A presença da Polícia Militar foi registrada pelos assentados do MST (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal/MST)

Além do ataque, o MST entregou à CENARIUM um relatório atualizado sobre a situação do território Terra Cabana, no qual denuncia uma série de conflitos, ameaças e violações de direitos. Entre os registros estão suspeitas de infiltração de grupos criminosos nas ocupações vizinhas, tráfico de drogas, furtos recorrentes de materiais e alimentos, e até envenenamento e agressão a animais de guarda como forma de intimidação às famílias sem terra.

O documento, obtido pela reportagem, também detalha episódios envolvendo o mesmo Miguel Carneiro, apontado como autor de invasões violentas, calúnias, difamações e incitação de confrontos entre moradores da região. Segundo o relatório, há Boletins de Ocorrência (BOs) registrados contra ele, além de suspeitas de grilagem de terras e fraudes com venda ou doações ilegais de lotes.

O Acampamento Terra Cabana, atualmente em situação de ação judicial, está sob ameaça de despejo. A área é disputada pelo MST e por uma empresa de Santa Catarina, a CCS Construtora e Incorporadora, além do empresário Reinaldo Begot. O movimento acusa os opositores de promoverem especulação imobiliária na região e denuncia a extração ilegal de piçarra – atividade que, segundo o relatório, ocorre desde 1988 e provoca impactos ambientais como desmatamento, assoreamento de igarapés, contaminação da água, poluição sonora e atmosférica, e degradação de vias públicas.

Veja momento da confusão:

Ainda segundo o MST, o tráfego constante de caminhões com carga de piçarra representa risco para a população local, incluindo crianças que frequentam a Escola Alacid Nunes, no bairro Paricatuba, e que dividem espaço com veículos pesados em vias comprometidas. A organização denuncia também que a coleta de lixo e o transporte escolar foram prejudicados pela deterioração das estradas utilizadas pela empresa, que seriam de responsabilidade da prefeitura de Benevides.

O movimento alega que a CCS comprou parte das terras em um pregão do Banco da Amazônia por valor abaixo do mercado e, desde então, pressiona pela reintegração de posse sem diálogo com as famílias que ocupam o local. Em nota pública, o MST defendeu a ocupação de terras como uma ferramenta legítima de pressão reconhecida pela Justiça e reforçou que suas ações buscam responsabilizar o Estado brasileiro por garantir moradia e combater a desigualdade social. O movimento afirmou que sua luta não é contra o povo, mas contra a fome, o desemprego e a ausência de políticas públicas para populações vulneráveis.

No relatório, o MST também critica o que chama de “descaso do governo Helder Barbalho” diante das violações no território, especialmente em um ano marcado pela preparação da 30ª Conferência das ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será sediada em Belém. Segundo o documento, a omissão das autoridades estaduais diante dos crimes ambientais e da iminência de despejo de famílias sem terra contrasta com o discurso institucional de preservação da floresta. O movimento faz um apelo direto ao governador, pedindo que o Estado atue na proteção das famílias e na garantia de seus direitos.

A CENARIUM tenta contato com os mencionados na matéria, incluindo a CCS Construtora e Incorporadora, o empresário Reinaldo Begot e Miguel Carneiro, para abrir espaço a esclarecimentos. Também foi solicitado posicionamento e mais informações sobre o caso às polícias Militar e Civil do Pará. A PM informou que “averiguou a situação e os suspeitos não se encontravam mais no local. As vítimas foram orientadas a fazer ocorrência na Delegacia de Polícia Civil”. Por sua vez, a Polícia Civil informou que “até o momento, o caso não foi registrado na delegacia que atende a área”.

Leia mais: Justiça decreta prisão de quatro acusados por atentado em assentamento do MST
Editado por Jadson Lima

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