MT, AC e AM lideram alertas de desmatamento na Amazônia em 12 meses
Por: Ana Cláudia Leocádio
08 de agosto de 2025
BRASÍLIA (DF) – Os Estados do Mato Grosso, Acre e Amazonas lideraram os alertas de desmatamento na Amazônia no período de 12 meses, segundo dados do Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados na tarde dessa quinta-feira, 7, pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Entre agosto de 2024 e julho de 2025, os alertas de desmatamento no bioma amazônico cresceram 4%, em comparação com o período anterior.
Conforme os dados do Deter/Inpe, as áreas sob alerta de desmatamento na Amazônia atingiram 4.495 km², em 12 meses, contra 4.321 km² registradas de agosto de 2023 a 2024, o segundo menor nível da série histórica. O problema de agora é o aumento da área desmatada por incêndios florestais, que saiu de 5% para 15% de um período para outro.

O Estado do Mato Grosso lidera o número de alertas, com aumento de 74% de um período para outro, quando foram identificados 1.636 km², na avaliação atual, contra 941 km² do período anterior. É o Estado com a maior proporção registrada com a destruição da floresta pelo fogo, 36%, enquanto o corte raso chega a 63%.
Em seguida, está o Estado do Acre, com 12,3% de crescimento e uma área de 238 km² em alerta, dos quais 94% foram causados pelo corte raso da vegetação e 6% pela queima da floresta.
O Amazonas apresentou o menor índice de aumento de um período para outro, 3%, quando saiu de 791 km² para 814 km², na análise atual, sendo 97% causados pelo corte raso, 2% pelos incêndios e 1% pela mineração. Segundo o Inpe, o resultado destes três Estados foi impulsionado pelos incêndios, que bateram recordes em 2024 no bioma.

Na outra ponta, estão os Estados que reduziram as áreas sob alerta de desmatamento, com destaque para Rondônia, que caiu 35%, quando saiu de 299 km², de julho de 2023 a agosto de 2024, para 194 km², até julho deste ano. Em segundo está Roraima, que conseguiu reduzir as áreas de alerta em 23,7%, de 270 km² para 206 km².
No Pará, a queda foi de 21% de um período para outro, reduzindo uma área de 1.681 km² para 1.325 e um período para outro. Desse total, 93% são alertas pelo corte raso, 5% por queimadas e 2% causados pela mineração.
Nos demais biomas analisados houve queda no desmatamento, de 20,8% no Cerrado e de 72% no Pantanal. O Cerrado, que vinha de uma sequência de aumentos, caiu de 7.014 km² para 5.555 km² sob alertas, nesse último ciclo do Deter. Somente o Estado do Piauí apresentou aumento, de 33%. As quedas foram registradas no Maranhão e Minas Gerais, ambos com 34%, seguidos do Tocantins (-29%), Mato Grosso (-19%) e Bahia (-7%). No Pantanal, á área impactada saiu de 1.148 km² para 319 km², em um ano.
O Deter/Inpe é um sistema que realiza alertas diários, detectando corte raso e degradação, que auxiliam nas atividades de fiscalização e controle do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama). Iniciado em 2004, a nova série de detecção começou a partir de 2015. O outro indicador do Inpe é realizado anualmente pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), que detecta corte raso e desmatamento por degradação progressiva, com precisão de imagens de satélite entre 10 e 30 metros. A análise é feita de 1º de Agosto a 31 de julho do ano seguinte.
Incêndios são o novo desafio
A ministra do MMA, Marina Silva, disse que os incêndios são o novo desafio no combate ao desmatamento, mas ela confia que as políticas públicas que estão sendo adotadas devem ajudar a reduzir a zero os índices.
Apesar do leve aumento na Amazônia, a ministra comemorou o resultado como fruto das políticas públicas que vêm sendo implantadas desde 2023. Entre as ações, estão a implementação de planos específicos para cada bioma, reforço orçamentário, que permitiu aumentar o número de pessoal e de infraestrutura para atuar na ponta. “Dentro da margem, podemos dizer que o desmatamento na Amazônia está estabilizado, mas nosso compromisso é o desmatamento zero até 2030”, afirmou.
O secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco, destacou o fato de que, pela primeira vez, os alertas de desmatamento por corte raso ficaram abaixo dos níveis da série histórica registrada desde 2016, com uma queda de 8% em relação ao ciclo anterior analisado.
“Se você olhar o corte raso, sem a influência climática, que criou um ambiente extremamente adverso, tornando a floresta mais suscetível a incêndio, nós teríamos tido um índice 8% menor que o ano passado, e o menor de toda a série histórica do Inpe, do Deter. Talvez do Deter como um todo”, explicou.

O receio, segundo Capobianco, é de que os grileiros e desmatadores se aproveitem das mudanças climáticas e passem a usar os incêndios como arma para desmatar, porque sabem que o corte raso vai gerar uma punição intensiva, uma vez que é mais fácil de ser detectado pelo satélite, mobilizando imediatamente as equipes do Ibama para chegar aos locais.
Uma das principais estratégias do MMA para enfrentar os incêndios florestais é a implementação da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (PNMIF), instituída pela Lei nº 14.944, sancionada pelo presidente Lula em 31 de julho de 2024.
Aliado a isso, está o trabalho de fiscalização do Ibama, que apenas na Amazônia realizou 9.540 ações fiscalizatórias e aplicou mais de 3,9 mil autos de infração, totalizando R$ 2,4 bilhões em multas. O órgão expediu 3.111 termos de embargo (5.096,8 km² de área embargada), 2.124 apreensões e 873 equipamentos destruídos.