Mudanças climáticas alteram rotina de um terço dos moradores da Amazônia


Por: Fred Santana

08 de outubro de 2025
Mudanças climáticas alteram rotina de um terço dos moradores da Amazônia
Quando questionados sobre a vivência de eventos climáticos nos últimos dois anos, quase 30% dos entrevistados mencionaram seca persistente (Ricardo Oliveira/CENARIUM)

MANAUS (AM) – Uma pesquisa inédita com 4.037 moradores da Amazônia Legal, divulgada nesta quarta-feira, 8, aponta que 32% da população da região afirma ter sido diretamente afetada pelas mudanças climáticas. O percentual sobe para 42,2% entre quem se declara membro de povos e comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos.

As informações constam no levantamento “Mais Dados Mais Saúde – Clima e Saúde na Amazônia Legal”, realizado pela Umane e pela Vital Strategies entre 27 de maio e 24 de julho de 2025. O estudo ouviu residentes dos nove Estados da região para mapear impactos na saúde e no cotidiano.

Entre os efeitos relatados como mais presentes no dia a dia, os entrevistados citaram aumento da conta de energia elétrica (83,4%), elevação da temperatura média (82,4%), aumento da poluição do ar (75%), maior ocorrência de desastres ambientais (74,4%) e elevação dos preços dos alimentos (73%).

Cerca de 29% dos entrevistados citaram incêndios florestais com fumaça intensa (Ricardo Oliveira/CENARIUM)

Quando questionados sobre a vivência de eventos climáticos nos últimos dois anos, 64,7% dos entrevistados relataram ondas de calor; 29,6% mencionaram seca persistente; 29,2% registraram incêndios florestais com fumaça intensa; 28,7% relataram desmatamento; e 26,7% apontaram piora da qualidade do ar.

A pesquisa destaca, ainda, que a piora na qualidade da água foi citada por 19,9% dos entrevistados e problemas na produção de alimentos, por 17,1%. Segundo a responsável técnica pela pesquisa na Vital Strategies, esses percentuais representam aproximadamente cinco milhões de pessoas, o que torna mais explícito o impacto das mudanças climáticas no acesso a bens e serviços essenciais.

Para Thais Junqueira, superintendente da Umane, enfrentar a crise climática na Amazônia é mais do que uma agenda ambiental, é uma agenda de saúde pública e de redução de desigualdades. “Em um momento tão importante, com a chegada da COP30, esse módulo do Mais Dados Mais Saúde tem como intuito trazer dados inéditos, focados nas especificidades locais, para informar políticas públicas que protejam territórios e suas populações, sempre com um olhar para a redução das desigualdades”, afirma.

Diferença entre povos

Os dados mostram discrepâncias entre a população geral e as pessoas que se identificam como pertencentes a povos e comunidades tradicionais. Entre esses grupos, 24,1% relataram piora na qualidade da água e 21,4% relataram problemas na produção de alimentos, contra 16,5% e 13,8%, respectivamente, na população que não se identifica com essas comunidades. A pesquisa também aponta que 48,4% das pessoas de povos e comunidades tradicionais conhecem alguém que já foi diretamente afetado pelas mudanças climáticas, ante 32,8% entre os demais.

Comunidade tradicional na Amazônia (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Sobre percepção e comportamento, 88,4% dos entrevistados acreditam que as mudanças climáticas ocorreram no Brasil e no mundo nos últimos dois anos, e 90,6% afirmam que o aquecimento global já é realidade. Metade da população (53,3%) informou ter reduzido práticas que acredita poder contribuir para o agravamento do problema, 64% separa o lixo para reciclagem e 74,9% costuma desligar as luzes, índice que chega a 79,7% entre as mulheres. A crença de que é possível agir para ajudar a resolver as mudanças climáticas é mais frequente entre povos e comunidades tradicionais (55,7%) do que entre os demais (39,8%).

“Esses grupos estão mais vulneráveis porque vivem em áreas de risco climático e dependem diretamente dos recursos naturais para subsistência”, explica Luciana Vasconcelos Sardinha, diretora-adjunta de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Vital Strategies.

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Editado por Jadson Lima

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