Mudanças climáticas provocam maior quebra da safra de castanha


Por: Ana Cláudia Leocádio

17 de novembro de 2025
Mudanças climáticas provocam maior quebra da safra de castanha
Produtores e ouriço de castanha-da-Amazônia (Reprodução/Pedro Martinelli)

BELÉM (PA) – Monitoramento de 20 anos da Rede Kamukaia, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mostra que as mudanças climáticas já afetam as cadeias produtivas dos produtos agroflorestais, causando quebra de safra, como da castanha-da-Amazônia, que em 2025 teve redução de mais de 70% na produção. Conforme painel apresentado por pesquisadores do Amapá e Rondônia, na AgriZone, nos debates travados na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), se consideradas as informações dos próprios extrativistas, a queda chega a 80%.

A Kamukaia é uma rede que conecta vários pesquisadores da Embrapa em diversos projetos de manejo das florestas. O nome é de origem indígena da etnia Wapichana, povo de Roraima, formada pela junção dos termos ‘kamuk’ e ‘aka’, que significa “produtos da floresta”. Para mitigar a nova realidade junto às comunidades em toda a Amazônia, um dos projetos desenvolvidos pela Embrapa é o “Castanha na Roça”, que consiste em plantar novas castanheiras porque as unidades mais jovens são mais resilientes às mudanças do clima.

Painel apresentado por pesquisadores do Amapá e Rondônia, na AgriZone (Dulcivania Freitas/Embrapa)

Os pesquisadores Marcelino Guedes e Lúcia Wadt, que estudam a cadeia da castanha, ressaltam que os eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes, afetando toda a região, o que levou a Embrapa a sugerir a criação de um seguro para os extrativistas, que nos últimos anos viveram um crescimento na renda com a venda dos produtos das florestas. Na falta do insumo ao comprador, os produtores sofrem alto impacto na renda porque a escassez foi causada por um fenômeno que foge ao controle deles.

De 70 a 80% de quebra e não apenas em uma área, mas na zona inteira. Por isso que a gente associa diretamente à questão realmente do efeito climático. Porque se fosse qualquer outra coisa, seria uma coisa local”, afirmou Marcelino Guedes, ao ressaltar que o impacto de 2025 ocorreu em toda a região amazônica.

Realidade semelhante ocorreu em 2017, por causa dos efeitos do fenômeno El Niño, que causam aquecimento das águas do pacífico, com sérias consequências para a castanheira. A expectativa é de que na safra 2025-2026 essa quebra na produção seja recuperada.

Os prejuízos também são sentidos pelos extrativistas, como relata o diretor-administrativo da Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru (COMARU), localizada em Laranjal do Jari (AP), Ademir Pereira da Cunha.

Painel apresentado por pesquisadores do Amapá e Rondônia, na AgriZone (Dulcivania Freitas/Embrapa)

Com 38 cooperados, eles conseguiam colher entre 15 e 20 toneladas de castanha por ano, mas em 2025 foram cerca de 80 toneladas. “Porque primeiramente a estiagem foi muito forte, muito quente na nossa região, que as castanheiras não conseguiram produzir nada. Então, esse ano, foi a maior crise da castanha na nossa região”, afirmou.

Conforme os pesquisadores, em um sistema manejado, uma castanheira começa a produzir os frutos em oito anos, se ela ficar dentro da floresta, pode demorar de 50 a 100 anos enquanto não abriu o sol para ela. “E 2017 teve essa quebra [da safra] na Amazônia toda e agora, com menos de dez anos repetiu. E os extrativistas falavam que, há 50 anos, não tinha acontecido isso que aconteceu em 2017. Agora repetiu e isso afeta tanto os extrativistas quanto o mercado”, ressaltou Lúcia Wadt, pesquisadora da Embrapa de Rondônia.

Segundo Wadt, se falta o insumo, compradores e indústrias acabam tendo que substituí-los por outros, porque os produtos da floresta amazônica vêm do extrativismo, que não tem uma previsão de safra efetiva.

O efeito é muito grande porque afeta várias coisas. Inclusive, nós publicamos uma nota técnica esse ano falando da questão de um seguro para o extrativista, igual a soja tem, o milho tem. A mudança climática também pode afetar a produtividade ali, a produção do extrativista. Ele também tem os seus negócios, ele também negociou a castanha”, argumentou.

Para a gestora de projetos da Cooperativa Agropecuária dos Agricultores Familiares Irituenses (D’Irituia), Maria Fernanda de Oliveira Lima, que trabalha com a cadeia do tucumã, a mudança do clima tem causado alguns problemas, como a antecipação de safra e a temida quebra de safra, quando eles não conseguem entregar o acordado com o comprador.

“Outros anos a gente não tem o volume esperado porque faltou chuva para poder ter a florada suficiente do tucumã. Ele depende de muita chuva. Apesar de ser do inverno, ele precisa também de água e sol. É tudo na dosagem certa”, relata.

Conforme a Embrapa, as castanheiras ocupam 32% da Amazônia e representam 40% da biomassa viva do bioma, mesmo sendo 3% das árvores. São árvores centenárias com alto estoque de carbono.

A castanha-da-Amazônia (Wenderson Araújo Sistema CNA/Senar)

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