Mulher investe em acessórios e cosméticos para valorizar estética e cultura negra

O investimento se tornou a principal fonte de renda da amazonense (Reprodução/arquivo pessoal)
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – Com o objetivo de incentivar a representatividade, valorizar a estética e a cultura negra, a formanda em Pedagogia e empreendedora Fernanda Fernandes, de 31 anos, resolveu investir na venda de acessórios e cosméticos voltados às necessidades das mulheres negras. A loja online surgiu em julho de 2018 e, segundo Fernanda, que também é uma mulher negra, a ideia surgiu após ela perceber a dificuldade para encontrar produtos que se encaixassem ao próprio tom de pele no mercado.

Constatei essa escassez e assim como eu, outras pessoas pretas tinham dificuldade em achar uma simples base que fosse do nosso tom de pele. Nunca tinha e, às vezes, comprava mais clara que minha pele. Fora os cosméticos que não eram pensados no nosso tom de pele, nada realçava na gente”, explica a empreendedora do ramo das maquiagens.

Embora o mercado da beleza voltado para pele negra tenha crescido nos últimos anos, Fernanda ressalta que Manaus ainda sofre para atender a demanda neste ramo. “Ainda é bem carente, temos como exemplo as pretas de pele mais retinta, é difícil ter produtos para elas ou até mesmo homens que queiram algum produtos. Em grandes lojas praticamente você não acha uma base, um pó mais escuro nos estoques e nesse sentido, pequenos investimentos como o meu se tornam uma opção”, revela Fernandes.

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O turbante é um dos acessórios disponível na loja de Fernanda (Reprodução/Instagram)

Expansão

A ideia foi tão bem-sucedida que, atualmente, a loja chamada Melanina AM se tornou a principal fonte de renda de Fernanda. Dependendo do período, ela conta que são dez produtos vendidos durante a semana. Dentre os mais vendidos estão as bases, géis para cabelos cacheados, seguidos de acessórios como as toucas de cetim e adornos de cabelos.

Hoje, a minha loja é minha principal fonte de renda, com a falta de oportunidade no mercado de trabalho, já estava muitos anos sem conseguir um emprego, tinha acabado de começar minha graduação e precisava fazer algo pra ter um dinheirinho. Vi nessa escassez a oportunidade”, relembra.

Rompendo barreiras

Mesmo afirmando que o mercado local ainda seja carente, a empreendedora acredita que de modo geral as empresas começaram a notar esse déficit na produção de produtos voltados a este consumidor, rompendo, inclusive, a falsa crença de que este público não consome.

“Acredito que tem uns três anos que isso está em evolução, pois a galera das grandes empresas está vendo que nós consumidores também gostamos de nos cuidar, mas por muito a indústria se deixou levar pela a afirmação de preto não tem dinheiro, então não consome,” pontua a amazonense.

Para Fernanda, a ocupação se tornou muito mais que vendas, se transformou em ato de amor, cuidado, incentivo e empoderamento. Na leitura da empreendedora, a cada turbante usado existe também o resgate e a valorização da ancestralidade e a iniciativa de investir no próprio negócio serve como inspiração para outras mulheres que também desejam empreender.

É maravilhoso ver uma pessoa preta, principalmente as mulheres, felizes que encontraram uma base que fica perfeita no seu tom de pele, um batom que realça a beleza de seus lábios, um produto que deixa seus crespos e cacheados lindos, acessórios que valorizam sua beleza e ancestralidade. E pra mim, que sou uma afro empreendedora, a independência financeira aliada a essa satisfação é mágico e estimular este nicho é uma honra.”, revela.

A base é um dos produtos mais procurados na loja (Reprodução/ Instagram)

Dados e referência

Conforme um estudo realizado pelo Google, a busca por makes e itens de skincare  entre os meses de janeiro a agosto de 2020 teve um aumento de 60%, o que significa até três vezes mais do que o crescimento médio desses produtos classificados na categoria Beleza e autocuidado. Dentre os produtos mais pesquisados para a pele negra está a base. O delineador, rímel e lápis também cresceram nas pesquisas.

Seguindo as necessidades de atendimento ao público deste setor, a marca de cosméticos Avon anunciou, em dezembro do ano passado que ao longo de 2021 vai lançar, ao todo, 53 novos produtos especialmente voltados à pele escura, como base, iluminadores e blushes.

Marcas conhecidas como Lancôme e Dior também já investem neste segmento. Atualmente, a empresa de cosmetologia Fenty Beauty, da cantora e empresária e Rihanna, é referência no mercado e quando o assunto é a beleza e a valorização da mulher negra e tem como intuito incluir todos os tons de pele e abraçar a diversidade.

Empreender

Além de promover o empoderamento de pessoas pretas e a independência financeira, o empreendedorismo negro atua como ferramenta para a valorização da negritude a atende as demandas de mulheres, homens e crianças da comunidade.

De acordo com a pesquisa “Empreendedorismo negro no Brasil ”, realizado pela aceleradora de empresários negros PretaHub, da Feira Preta, em parceria com a Plano CDE e o JP Morgan, empreendedores negros chegam a movimentar R$ 1,7 trilhão por ano no Brasil.

O estudo aponta ainda que mais da metade- (em média 51% dos brasileiros que empreendem) – são pretos ou pardos e, dentre eles , 52% são mulheres. “Acredito muito na força, no cuidado e no trato que as mulheres possuem para com as metas que elas traçam na vida, sabe? Não é fácil, mas gosto de crer que é possível. O foco agora é me especializar pra melhorar meu pequeno negócio, fazer cursos, ir ao Sebrae buscar sempre novas orientações para prosperar e inspirar” finaliza Fernanda.

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