Mulheres do Amazonas na COP30: vozes da floresta e resistência
Por: Iraildes Caldas
23 de novembro de 2025O posicionamento das mulheres no enfrentamento das questões climáticas e ambientais vem ganhando espaço num ambiente ainda muito dominado pelos homens. Embora as mulheres sejam o segmento mais impactado pela crise do clima, elas têm baixa participação na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Em 29 edições da COP somente cinco mulheres presidiram este evento e, somente 30% a 35% das vagas para delegações representativas, são destinadas às mulheres (Agência Pública, 2025).
As mulheres da Amazônia profunda como as agricultoras, pescadoras, indígenas, quilombolas e outras, conhecem bem a região e possuem uma concepção de ecologia social bem definida. Esta concepção é construída tendo por base suas experiências comunitárias,suas atuações em movimentos sociais e em projetos extensionistas e de pesquisas, que elas participam em suas comunidades. A preocupação com o futuro do planeta é alimentada pela cosmovisão que essas mulheres possuem.
Rezende (2024) lembra que, no caso das mulheres indígenas, a visão cosmogônica é entranhada aos conhecimentos e lições repassados por seus ancestrais. Não há desconexão entre o homem/mulher com os animais, o meio ambiente e com os espíritos da floresta. Esta conexão corresponde a uma espiritualidade que sustenta a vida e interage com forças imateriais, que permitem o equilíbrio do planeta. A preocupação delas é com a vida planetária (Morin, 2007), formando uma rede de interdependência entre a sociedade, a natureza, os animais, a flora e todos os seres vivos. Elas são vozes potentes da floresta que ecoam contra as ações do grande capital que avança sobre os territórios indígenas, incluindo o envenenamento dos rios,agindo de forma predatória em toda a Amazônia.

A presença das mulheres na COP30 que ocorrerá neste ano, em Belém, no Pará, expressa-se de forma bem seletiva por meio de mecanismos de disputa entre elas no âmbito dos coletivos, entidades e movimentos sociais que elas participam. Elas formam a Bancada Feminista nessa reunião de cúpula. Levarão a esse evento uma carta construída por vários coletivos, institutos e grupos; movimentos feministas, redes e entidades feministas contendo pontos cruciais para a sobrevivência do planeta e das pessoas que o habitam.
De forma mais conscienciosa, podemos dizer que a pauta feminista concentra-se na exigência de justiça ambiental, na busca de rompimento com o racismo ambiental, denúncia da pobreza energética; exigência de implementação de políticas estruturantes para a segurança alimentar, priorizando o aumento de incentivos para a produção de alimentos orgânicos com uso de sementes crioulas e com práticas agroflorestais; políticas de mitigação das grandes cheias e enchentes, enfim, as mulheres exigem participação na tomada de decisão no que diz respeito ao meio ambiente e às questões climáticas.
As vagas para esses coletivos de representação da sociedade civil são muito poucas e insuficientes, tornando a disputa muito acirrada dentro dos eventos locais denominados Pré-COP30, onde elas foram eleitas como representantes. Existem dois espaços de participação das sociedades de todos os países signatários da ONU: área azul e área verde. A área azul é mais seleta porque é destinada às grandes organizações da sociedade civil, incluindo representações dos Estado Nacionais e dos governos do mundo inteiro. A área verde é reservada às representações de movimentos sociais também de todos os países signatários da ONU.
As vagas destinadas aos povos indígenas de todos esses países, compõem o número de 1.000 (mil) vagas. Os povos indígenas do Brasil conquistaram 500 (quinhentas) vagas, sendo que 20 (vinte) contemplam o Amazonas. Destas 20 vagas pouquíssimas mulheres participarão na área azul. As mulheres indígenas da Amazônia têm se engajado na defesa de seus territórios, com vozes potentes que ecoam do âmago da floresta. Seu protagonismo se dá em torno da defesa de seus territórios, tendo por base uma relação sagrada com a Mãe-Terra. Não é uma relação utilitária ou mercantilista, elas lutam pela floresta viva que é vida e morada sagrada.
Lorena Araújo, do povo Tariano, reitera o fato de que “as lideranças indígenas feministas denunciam as violências causadas pelos grandes projetos extrativistas, denunciam também as políticas de desenvolvimento que põem em risco a integridade dos ecossistemas” (entrevista, 2025). Mas, não só isso, as indígenas oferecem saídas e caminhos para mitigar esses problemas, respaldados pelos princípios de reciprocidade, interdependência e equilíbrio entre os humanos e a natureza.
A inclusão de mulheres nas negociações internacionais da COP30, não é uma questão só de representatividade, mas de reconhecimento delas no âmbito das políticas climáticas.