Mulheres jornalistas sofrem repressão no Irã, após atos que desafiam regime

Mulheres realizam ato em apoio a iranianas na capital francesa, Paris, e seguram cartazes com fotos de Mahsa Amini (Christian Hartmann/Reuters)
Com informações da Folhapress

IRÃ – A repressão do regime teocrático do Irã em meio a protestos que já duram um mês tem mirado também profissionais da imprensa. Ao menos 18 mulheres jornalistas foram presas pelas autoridades, segundo monitoramento de uma ONG especializada no tema.

A cifra agrava a dianteira do Irã como País que mais encarcera jornalistas mulheres, de acordo com a Coalizão para Mulheres no Jornalismo, de Nova York. Ao todo, 38 estão detidas no País, seguido por três autocracias: China (16), Belarus (10) e Mianmar (9).

Outros monitoramentos paralelos corroboram o cenário de assédio judicial e a tentativa de asfixiar a liberdade de imprensa no País do Oriente Médio. Até a última segunda-feira, 10, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ, na sigla em inglês) havia relatado 40 prisões de profissionais da imprensa em meio aos recentes protestos.

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A onda de mobilização, uma das maiores desde a Revolução de 1979, teve início após a morte da jovem curda Mahsa Amini, de 22 anos, quando estava sob custódia da polícia moral do País. Detida em Teerã por, supostamente, não usar o hijab, o véu islâmico, da maneira correta, ela foi levada para uma delegacia e, dali, foi para o hospital.

O regime alega que Amini morreu em decorrência de um problema cardíaco, versão que a família e ativistas contestam — ela teria sido vítima de agressões dos agentes. O pai da jovem afirma que foi impedido de ver o relatório da autópsia do corpo da filha.

Desde a morte de Amini, em 16 de setembro, centenas de protestos, majoritariamente liderados por mulheres, vêm sendo conduzidos em diferentes partes do País. Os atos ganharam volume e força à medida que estudantes e universitárias se somaram à mobilização.

O regime tem minimizado os atos e manifestantes. O líder supremo do País, o aiatolá Ali Khamenei, disse nesta sexta-feiram, 14, que nenhum cidadão deve pensar que poderá abalar a cúpula no poder. Ele comparou o regime a uma árvore inabalável: “Aquela muda é uma árvore poderosa, e ninguém deve ousar pensar que pode arrancá-la”.

Uma das jornalistas presas desde o início da mobilização é Niloofar Hamedi, especializada em direitos das mulheres e repórter do jornal Al Sharq. Ela foi uma das primeiras profissionais da imprensa a detalhar o caso da morte de Amini para o público.

Mohammad Ali Kamfirouzi, seu advogado, informou no último dia 22 que agentes da inteligência iraniana invadiram a casa de Hamedi, confiscaram pertences e a prenderam. Ela ainda não foi formalmente acusada, mas está sendo mantida em uma solitária na prisão de Evin.

O estopim teria sido a publicação de uma foto dos pais de Amini chorando no hospital onde a filha havia sido internada. A conta no Twitter da jornalista, pouco depois, apareceu como suspensa.

O Irã está entre os dez piores países do mundo em termos de liberdade de imprensa, de acordo com a ONG Repórteres Sem Fronteiras. Em uma classificação de 180 países, está na 178° posição.

Ainda que a Constituição do País garanta a liberdade de imprensa, a lei da imprensa da década de 1980 permite que autoridades punam jornalistas que, segundo avaliação de Teerã, tenham colocado o País em risco, ofendido o clero e o líder supremo ou divulgado o que for considerado como informações falsas.

Segundo a ONG Direitos Humanos no Irã, mais de 200 civis morreram devido à repressão. Multiplicam-se também as denúncias sobre mortes de menores de idade. A organização estima que entre as vítimas estejam, ao menos, 23 pessoas com menos de 18 anos, cifra corroborada pela Anistia Internacional.

Comunicado da ONG, publicado na quinta-feira, 13, afirma que 20 dos mortos seriam meninos com idades de 11 a 17 anos, e três meninas, sendo duas de 16 e uma de 17. A maioria morreu após disparo de tiros, alguns à queima-roupa e espancamentos.

“As forças de segurança do Irã mataram quase duas dúzias de crianças em uma tentativa de esmagar o espírito de resistência entre os jovens corajosos do País”, disse Heba Morayef, da Anistia. “Se a comunidade internacional fosse uma pessoa, como olharia os pais dessas crianças nos olhos? Abaixaria a cabeça envergonhada por sua inação contra a impunidade generalizada das autoridades iranianas?”.

O ministro da Educação iraniano, Yusef Nuri, admitiu que estudantes foram apreendidos nas ruas e em escolas. “Não há muitos; não posso dar um número exato”, disse ele ao jornal local Shargh na quarta-feira. Também afirmou que os adolescentes estão em centros psicológicos nos quais devem ser “reeducados”.

A pressão internacional tem crescido. Nesta sexta-feira, Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia (UE), disse ter pedido ao chanceler iraniano que o País interrompa a repressão. “Manifestantes devem ser libertados, e o acesso à internet é necessário”.

Mensagem semelhante havia sido dada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, que expressou admiração pelas iranianas que protestam nas ruas. O regime acusou Paris de promover ingerência em assuntos internos e de motivar “atos violentos e que infringem a lei”.

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