Museu da Amazônia recebe exposição em memória às vítimas indígenas da pandemia

Lideranças e apoiadores da causa indígena se reúnem no domingo, 14, para abertura de exposição que conta histórias sobre as perdas na pandemia (Divulgação)

Com informações da assessoria

MANAUS – O Museu da Amazônia (Musa) recebe, a partir deste domingo, 14, a montagem da nova exposição Pandemia e Território, aberta ao público visitante do Museu até janeiro de 2022. O trabalho de divulgação de tradições sociais da cultura indígena é realizado em conjunto com indígenas e pesquisadores da Universidade Federal da Amazônia (Ufam). Exposições conjuntas são montadas e aportam diferentes resultados de pesquisa científica, combinadas com os saberes e perspectivas tradicionais do mundo atual.

Em memória às vítimas indígenas mortas por Covid-19, a exposição Pandemia e Território foi realizada pelo coletivo Nova Cartografia Social da Amazônia.

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“O Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA) tem como objetivo dar ensejo à autocartografia dos povos e comunidades tradicionais na Amazônia. Com o material produzido, tem-se não apenas um maior conhecimento sobre o processo de ocupação dessa região, mas sobretudo uma maior ênfase e um novo instrumento para o fortalecimento dos movimentos sociais que nela existem. Tais movimentos sociais consistem em manifestações de identidades coletivas, referidas a situações sociais peculiares e territorializadas”, destaca a organização do evento.

A pandemia foi tema da publicação homônima da exposição (Reprodução)

A pandemia foi tema da publicação homônima da exposição, e pretende cartografar a partir das experiências e perdas os efeitos da Covid-19 nas populações indígenas do Amazonas. A obra e a exposição são resultados da relação entre os povos tradicionais envolvidos e a equipe de pesquisadores.

Maria Alice da Silva Paulino, da etnia Karapaña, moradora da comunidade Yupirungá, no Rio Tarumã-Açu em Manaus, organiza o Centro de Ciências e saberes Karapãna, em que conhecimento científico é combinado com os saberes tradicionais para alavancar a experiência dos povos indígenas em organizar sua própria memória e conhecimentos sobre a natureza em unidades classificadas como “museus vivos”.

Maria Alice conta sobre sua relação com o projeto da universidade que dá origem à exposição. O convite veio do coordenador do projeto da Ufam, Alfredo Wagner, como forma de fortalecer a identidade indígena e transformar o sentimento de dor em reconhecimento da importância de cada pessoa para seu povo. Para ela, o momento serve para compartilhar com outras etnias e junto de apoiadores. Maria Alice reforça a oportunidade de consolidar o cotidiano através das práticas – canto, música e agricultura. Usando elementos materiais, é pensado junto da comunidade quais vivências são importantes para serem transmitidas às gerações mais jovens.

Covid-19 e os Povos Indígenas

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) vêm realizando uma série de levantamentos para tentar acompanhar a extensão da pandemia nas comunidades indígenas: o acompanhamento da evolução do novo coronavírus entre as populações indígenas representa um grande desafio. Embora os números oficiais informem sobre a dinâmica de notificação, eles não refletem necessariamente a extensão da pandemia. Além disso, dados desagregados dificultam o reconhecimento de povos mais afetados, e a ausência dos dados sobre indígenas vivendo fora das Terras Indígenas homologadas impede uma consistência no levantamento

Exposição Pandemia e Território reúne lideranças indígenas de Manaus

Segundo Alfredo Wagner, coordenador da exposição, os registros de morte consistem num fator de resistência no enfrentamento da pandemia, pois contrariam as subnotificações dos dados oficiais num momento em que o total de vítimas corresponde a 610 mil óbitos por Covid-19 e que o número de indígenas até agora registrado por diferentes agências dos movimentos indígenas corresponde a 1.182 óbitos. Uma resistência à negligência na demora da vacinação e em medidas sanitárias de proteção aos povos e comunidades tradicionais. Na presente Exposição complementando esta informação dos movimentos sociais objetivamos apresentar principalmente o nome dos indígenas que foram a óbito, sua foto, etnia e data de morte. No caso dos quilombolas, o trabalho transcorre com mais vagar e os resultados ainda estão sendo elaborados

Lideranças, apoiadores e pesquisadores da causa indígena em Manaus se reúnem no domingo (14/11) para abrir a exposição no Museu da Amazônia. Para homenagear aqueles que se foram, será realizada uma roda de conversa sobre os efeitos da pandemia nas comunidades, e sobre as possibilidades para que os indígenas que ficam continuem disseminando seu legado cultural.

A roda de conversa e abertura da exposição será aberta ao público visitante e à imprensa a partir das 13h, na Casa-oficina do Museu da Amazônia. O evento de abertura será aberto à imprensa e a divulgação e convite ao público geral será realizada pelas mídias sociais

Confira o convite de Maria Alice da Silva Paulino da etnia Karapaña, sobre a importância de fortalecer a memória de seu povo:

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