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Na Alemanha, Parlamento elege Olaf Scholz como primeiro-ministro e encerra era de Angela Merkel
Olaf Scholz, novo primeiro-ministro da Alemanha, durante cerimônia de nomeação formal ao cargo no Palácio de Bellevue, em Berlim. (Odd Andersen - 8.dez.21/AFP)
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08 de dezembro de 2021
Com informações da Folha de S. Paulo
BERLIM – O Parlamento da Alemanha elegeu, nesta quarta-feira, 8, o social-democrata Olaf Scholz como novo primeiro-ministro, encerrando a era de 16 anos em que o país esteve sob o governo de Angela Merkel.
Scholz, 63, atuou como vice de Merkel e como seu ministro das Finanças. Sua eleição abre caminho para um governo de coalizão tripla apelidada de “semáforo”, em referência às cores dos partidos que a formam: o vermelho do SPD (social-democrata), o verde dos Verdes e o amarelo do FDP (liberal).
Seguindo a liturgia dos procedimentos democráticos consagrados pela lei alemã, a nomeação formal de Scholz foi feita pelo presidente do país, Frank-Walter Steinmeier, no Palácio de Bellevue, em Berlim. Depois, ele voltou ao Bundestag, o Parlamento alemão, para prestar juramento diante dos legisladores.
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A presidente do Bundestag, Baerbel Bas, disse que Scholz foi eleito pela Casa com 395 votos favoráveis dos 796 possíveis. O novo primeiro-ministro, usando uma máscara preta de proteção contra o novo coronavírus, foi aplaudido de pé pelos parlamentares. Além da tarefa de governar a Alemanha pelos próximos anos, ganhou buquês de flores e uma cesta de maçãs.
Durante a tarde, Scholz vai se encontrar com Merkel, de quem receberá oficialmente o cargo. O novo líder alemão posicionou-se como um sucessor natural da agora ex-primeira-ministra. Por apenas nove dias, a emblemática líder alemã não bateu o recorde de longevidade no poder de Helmut Kohl.
Conhecido por seus hábitos pragmáticos e objetivos, ele assume o governo com a missão de conduzir a Alemanha em meio a desafios imediatos, como a grave quarta onda de infecções pelo novo coronavírus; e outros no médio e no longo prazo, como as relações internacionais com a Rússia, China e Belarus e, principalmente, o enfrentamento da crise climática.
Quando, há duas semanas, Scholz anunciou o acordo entre os partidos de sua coalizão — a primeira envolvendo três legendas desde o pós-guerra — a pandemia de Covid-19 foi o primeiro ponto anunciado em seu discurso. Ele ressaltou que o novo coronavírus ainda não foi derrotado e prometeu rigor na aplicação das medidas de controle do avanço da doença — àquela altura a variante Ômicron não havia sido identificada.
Como ministro de Merkel, Scholz foi o responsável por montar um pacote de 750 bilhões de euros (R$ 4,7 trilhões) contra a crise do novo coronavírus, que ele apresentou como “a bazuca necessária” para segurar empregos e apoiar empresas.
Mais recentemente, defendeu a imposição de restrições contra os não vacinados na Alemanha e apoiou a discussão sobre a obrigatoriedade da vacina, que pode ser votada pelo Bundestag, nesta semana. A meta, segundo Scholz, é administrar mais 30 milhões de doses do imunizante contra a Covid até o Natal.
Na política externa, Scholz deu sinais de que o novo governo deve se comprometer mais com a integração europeia, por meio de uma defesa mais assertiva dos interesses do bloco no cenário internacional. O premiê disse que a soberania da Europa é a chave e um dever para o novo governo, e a coalizão também defende a tomada de decisões em questões diplomáticas por maioria, em vez de unanimidade.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que “não há outra alternativa senão o diálogo para resolver as divergências mais graves” entre Rússia e Alemanha. Na China, o dirigente Xi Jinping afirmou que Pequim “está disposta a consolidar e a aprofundar a mútua confiança política, e a aumentar os intercâmbios e a cooperação em diferentes âmbitos com a Alemanha”, segundo a agência de notícias Xinhua.
Algumas medidas emblemáticas também já foram anunciadas pelo novo governo, tais como: o aumento do salário mínimo de 9,6 para 12 euros (na cotação atual, de R$ 60,76 para R$ 75,94) por hora, a proposta de venda controlada de maconha para adultos em lojas autorizadas e o direito ao voto ampliado a todos os maiores de 16 anos.
Das negociações para formar o “semáforo” saiu um resultado que concilia diferentes visões políticas de antigos adversários. Scholz terá em seu gabinete dois de seus oponentes na campanha eleitoral: Annalena Baerbock, colíder dos Verdes, será ministra das Relações Exteriores, e o líder do liberal FDP, Christian Lindner, chefiará o Ministério das Finanças.
De personalidade controlada, antes de ser candidato, ele já havia sido apelidado por jornalistas de “Scholz-o-mat”, expressão que o identifica com algo tão previsível quanto uma máquina de lavar roupas.
Muitas vezes descrito como “sem carisma” ou “alguém que saiu de um congresso de contadores”, respondeu, durante a campanha, que não era candidato a animador de circo, quando questionado se não lhe faltava demonstrar emoção.
Filho de um gerente comercial de empresas têxteis, Scholz é o mais velho de três irmãos. Nasceu em Osnabrück, no noroeste alemão, e cresceu em um bairro de classe média em Hamburgo, no norte do país.
Entrou para a juventude do SPD, aos 17 anos, ainda no ensino médio. Nessa segunda metade dos anos 1970, identificou-se com o marxismo e protestou contra o “imperialismo americano”. A fase mais à esquerda foi branda e durou pouco. Ele se moveu para o centro da centro-esquerda, durante o curso de direito na Universidade de Hamburgo, na qual se especializou em direito trabalhista.
Ainda tinha uma farta cabeleira castanha e ondulada, quando se elegeu deputado federal, em 1998. Dois anos depois, foi eleito chefe do SPD em Hamburgo, estabelecendo-se na ala moderada da agremiação.
Scholz tornou-se secretário-geral do partido no ano 2000 e, a partir de 2002, fez parte do governo social-democrata de Gerhard Schröder, que reformou as regras trabalhistas alemãs. Depois foi ministro do Trabalho até 2009, prefeito de Hamburgo, de 2011 a 2018, e vice-premiê e ministro das Finanças no governo Merkel. Na campanha deste ano, chegou a ficar na terceira posição nas pesquisas de intenção de voto, mas acumulou trunfos que o levaram à liderança e, posteriormente, à vitória.
Desde 1998, está casado com Britta Ernst, que ele conheceu no SPD e é hoje secretária da Educação de Brandemburgo. O casal decidiu não ter filhos.
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