Na COP30, governador do AM projeta R$ 390 milhões com créditos de carbono
Por: Ana Cláudia Leocádio
10 de novembro de 2025
BELÉM (PA) – O governador do Amazonas, Wilson Lima (União), apresentou nesta segunda-feira, 10, a proposta que reúne 21 projetos de créditos de carbono para unidades de conservação estaduais, que devem gerar recursos na ordem de R$ 390 milhões em 30 anos. O anúncio foi feito durante entrevista coletiva antes da cerimônia de abertura do Hub Amazônia, localizado no Pavilhão do Consórcio da Amazônia Legal, na Zona Azul, no primeiro dia da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que só termina no dia 21, em Belém (PA).
De acordo com Lima, no total, serão 21 projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+) no Amazonas, que devem gerar recursos em crédito de carbono em torno de R$ 390 milhões, em um período de 30 anos, dos quais 50% deverão ser revertidos em programas socioambientais, de bioeconomia e transição energética justa, por exemplo, e os outros 50% farão parte de um fundo estadual de mudança do clima, que será gerido pelo Banco Mundial.

O primeiro projeto a ser implantado será na Unidade de Conservação Estadual que fica situada no Parque Estadual Sucunduri, no município de Apuí (AM), localizado a quilômetros de Manaus. A área integra a região sul do Estado, que faz parte do Arco do Desmatamento, e que vem recebendo atenção para mudar o quadro.
O programa de RDD+, do Governo do Amazonas, chegou a ser suspenso pelo Ministério Público Federal (MPF) até que fossem promovidas as escutas livres e informadas dos povos indígenas impactados pelo projeto. De acordo com o secretário da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Eduardo Taveira, nenhum dos 21 projetos envolvem territórios indígenas no Amazonas, apenas terras públicas destinadas pelo governo estadual.
“Estamos assinando um desses contratos, hoje, que já passou por esse processo de consulta nessa comunidade. É uma comunidade ali no município de Apuí, no Parque Estadual do Sucunduri. Nós temos 21 projetos aprovados que a gente passa também a fazer o trabalho de consulta pública às comunidades na sequência”, afirmou o governador.

Wilson Lima também criticou o que chamou de desconexão entre a agenda ambiental global e a agenda ambiental da Amazônia. “Enquanto o mundo está discutindo inteligência artificial e tantas outras tecnologias, aqui a gente está em busca das inovações do século 18, como água potável para as populações, energia elétrica, internet. Tem município do Amazonas em que a internet não funciona ainda nem o 4G”, ressaltou.
Sobre as expectativas com a COP30, o governador foi enfático. “O que a gente espera dessa COP é que se possam trazer resultados pragmáticos, objetivos, e que todo o aporte de recursos chegue ao pessoal que está lá na comunidade, que é quem verdadeiramente protege a floresta. Se a gente não proteger primeiro esse cidadão, não teremos condição de falar sobre proteção da floresta. Se a COP não couber na Amazônia, onde estão a maioria dos problemas, ela precisa ser repensada, ela precisa ser redimensionada”, afirmou.
Questionado sobre o novo fundo lançado pelo governo brasileiro na COP30, o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), que vai remunerar os governos que mantêm a floresta em pé, Lima defendeu o fim da burocracia nos financiamentos climáticos. “Não adianta você falar em qualquer mecanismo de financiamento se ele não for o financiamento justo, sem que a gente elimine a burocracia, sem que isso chegue a quem mais precisa”, disse.

Lima também aproveitou o evento para assinar a contratação da banca organizadora do concurso da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, que prevê 159 vagas para níveis médio e superior. A expectativa é lançar o edital ainda neste ano, em dezembro.
Governadores da Amazônia
Dos nove governadores da Amazônia Legal, dois deles não participaram da inauguração do Hub Amazônia. São eles: Antônio Denarium (PP), governador de Roraima; e Marcos Rocha (União), que é chefe do Executivo estadual em Rondônia.
O governador do Acre, Gladson Cameli (Progressistas), destacou a redução do desmatamento no Estado nos últimos anos, segundo monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que chegou à COP30 para apresentar o planejamento estratégico para reduzir o desmate da vegetação. Ao ser questionado sobre quanto Estado destina para as políticas ambientais em seu orçamento anual, ele não sobre responder.
“Não vou te fazer com o número exato, porque até aí, eu confesso que não tenho mais. Garanto a vocês, nós estamos reestruturando toda a parte do meio ambiental do Estado do Acre, criando mais condições de trabalho para a fiscalização e, ao mesmo tempo, para a orientação do pequeno produtor”, disse.
O governador do Amapá, Clécio Luís Vilhena Vieira (Solidariedade), destacou o fato da unidade que governa ser o Estado com maior percentual de suas florestas preservadas, terras indígenas demarcadas, mas que tem baixos índices socioeconômicos, que necessitam de investimentos para melhorar esses indicadores.
Ao mesmo tempo em que defende uma agenda ambiental pautada em investimentos “verdes”, o governador apoia a exploração de petróleo na Margem Equatorial, que em outubro recebeu a licença do Instituto Brasileiros do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para prospecção da Bacia do Rio Amazonas, fato que gerou críticas internacionais. Ele não vê contradição entre as duas agendas.
“Não se faz transição energética com discurso, se faz transição energética com investimento, em pesquisa aplicada equipamentos modernos para que possamos gerar energia, a partir do sol, a partir do vento e fontes híbridas. Você acha que do Amapá ou do Brasil vai conseguir? Não vai conseguir. O petróleo, sim, é capaz, como matriz econômica, financiar esses estudos, esses investimentos, financiar empreendimentos para fazer essa transição em algo em torno de 50, 80 anos”, justificou.
