Na CPI, ‘Capitã Cloroquina’ confirma aliança com prefeito de Manaus para adoção de ‘tratamento precoce’ para Covid-19

Mayra Pinheiro ainda confirmou um encontro no dia quatro de janeiro com David Almeida (Reprodução/Internet)
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, confirmou nesta terça-feira, 25, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia no Senado, a anuência com o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), para prescrição de medicamentos sem comprovação científica durante a segunda onda da Covid-19 no Amazonas em janeiro.

Conhecida como “Capitã Cloroquina”, a médica afirmou que, diante do número de mortes pela doença durante a crise de oxigênio em Manaus, era “inadmissível não ter a adoção de todas as medidas”, em referência ao uso da cloroquina e da hidroxicloroquina. E nega responsabilidade da pasta federal sobre o caos na capital amazonense.

Mayra Pinheiro ainda confirmou que houve um encontro no dia 4 de janeiro com David Almeida e a secretária municipal de Saúde, Shádia Fraxe. Segundo ela, a orientação seria direcionada “para todos os médicos brasileiros, não só para Manaus”, disse em depoimento.

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Desassistência

Ainda durante o depoimento, Mayra destacou a condição das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital, que, segundo ela, estariam fechadas e sem atendimento a pacientes com suspeita de Covid-19. “[Existiam] unidades sem médico e farmácias sem remédio. O que eu assisti foi desassistência e caos, sem triagem, mais de 1.000 agentes de saúde dispensados”, disse a secretária.

“O Ministério da Saúde tem uma nota de orientação número 9, que depois foi transformada na nota número 17, onde ele orienta, segundo parecer do Conselho Federal de Medicina, que os médicos, para o enfrentamento dessa doença grave de desfecho incerto e letal, possam usar dos medicamentos off label que estão disponíveis. Então, nós orientamos”, defendeu Mayra sobre o uso de medicamentos sem eficácia comprovada.

A médica admitiu que o desenvolvimento da plataforma TrateCov, que receitava cloroquina a pacientes com Covid-19, partiu da própria Secretaria de Saúde. Segundo Mayra, a plataforma nunca foi colocada no ar, tendo sido apresentado apenas um protótipo, ela também negou a tese de “hackeamento” do aplicativo, contradizendo o depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.

Prefeito orientou profissionais

O depoimento de Mayra confirma que a orientação do tratamento precoce em Manaus partiu do próprio prefeito David Almeida, aliado ideológico do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que no início da pandemia, em 2019, minimizou a letalidade do novo coronavírus e posteriormente defendeu medicamentos sem comprovação para serem administrados em pacientes.

Em janeiro deste ano, David Almeida, que se autodenomina evangélico e com 13 dias no cargo, confirmou, em entrevista à CNN Brasil, que orientou profissionais das Unidades Básicas de Saúde a aplicarem tratamento precoce nos pacientes, um procedimento condenado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

“Estamos oferecendo à população da cidade de Manaus a informação que nos passaram de que, quando a pessoa sentir os primeiros sintomas, procure logo uma Unidade Básica de Saúde para que possa iniciar o tratamento de forma precoce”, declarou no vídeo.

E continuou a defesa de medicamentos para prevenir e combater a Covid-19, sem explicar a origem científica, prometendo ainda a sua “distribuição”. “Nós temos as medicações receitadas pelos médicos e esse tratamento é exatamente para que a doença não agrave. Porém, nós temos profiláticos e também vamos estar indicando a prescrição médica nos próximos dias e fazendo a distribuição”, afirmou.

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