Na CPI da Pandemia, Luana Araújo disse que deveriam existir mais infectologistas em ministério

Ela chamou ainda a discussão sobre o uso de medicamento sem eficácia para tratar o coronavírus de "delirante" (Jefferson Rudy/Jefferson Rudy/Agência Senado)

Com informações do O Globo

BRASÍLIA – A médica infectologista Luana Araújo, que ficou menos de duas semanas como de secretária de Enfrentamento à Covid-19 no Ministério da Saúde, afirmou à CPI da Pandemia no Senado que desconhecia existência de outro infectologista na pasta quando foi chamada para o cargo.

Na comissão, em resposta ao senador governista Marcos Rogério (DEM-RO), que citou o número de especialistas em infectologia no Brasil, Luana afirmou que há poucos profissionais na área.

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“Não conheci outro colega infectologista”, afirmou, explicando que seria a única em nível de secretariado. Depois, disse. “Somos muito poucos. Deveríamos ser muito mais”, destacou.

O senador governista Luis Carlos Heinze (PP-RS) informou haver ao menos mais seis infectologistas no Ministério da Saúde.  Crítica do tratamento precoce, a médica infectologista o comparou à ideia da terra plana. Ela chamou ainda a discussão sobre o uso de medicamento sem eficácia para tratar o coronavírus de “delirante”. 

“Essa é uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente. Ainda estamos discutindo uma coisa sem cabimento. É como se estivéssemos discutindo de qual borda da terra plana vamos pular”, disse, em resposta ao relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL).

Renan citou frases do presidente Jair Bolsonaro e questionou a médica sobre a defesa do mandatário pelo tratamento precoce e o estimulo à população em abandonar medidas não farmacológicas, como uso de máscara, distanciamento social, lavar as mãos.

“Eu vi declarações de muitas pessoas, também do presidente. A gente precisa multiplicar lideranças com informações corretas. Na hora que qualquer pessoa, independente do seu cargo, sua posição social, defende algo que não tem comprovação cientifica você expõe a população do seu grupo a uma situação de vulnerabilidade”, disse Luana, completando. “Todo mundo que diz isso tem responsabilidade do que acontece depois”, ressaltou.

Em outro momento da sessão, foram exibidos vídeos de Bolsonaro minimizando a pandemia. O senador de oposição Randolfe Rodrigues (Rede-AP), então, perguntou o impacto dessas declarações. Ela começou dizendo que gostaria que sua participação na CPI fosse técnica, mas em seguida disse:

“É uma situação muito difícil e muito complexa, triste para quem trabalha com infectologia, com saúde pública, para quem vê paciente, para quem testemunha as dificuldades e os horrores que a gente vem passando”, disse.

Depois, completou:

“Não é possível ouvir uma declaração ou um conjunto de declarações de quem quer que seja, não estou personalizando na figura do presidente, sem sofrer um impacto quase que emocional. Além do racional, que a gente trabalha o dia inteiro. A mim, como médica, infectologista, epidemiologista, educadora em saúde, isso me suscita que eu preciso trabalhar mais, que eu preciso informar melhor as pessoas. A mim me parece que falta informação de qualidade. Quando obtém informação de qualidade, não é mais esse tipo de comportamento que a gente espera que aconteça. Então, a mim me dói”, afirmou.

Luana foi convidada pelo ministro para ser secretária de Enfrentamento à Covid-19. Dias depois, quando a nomeação dela sequer tinha saído, ela deixou o ministério. Em audiência na Câmara, Queiroga deu a entender que houve veto de Bolsonaro. A medica afirmou que “provavelmente não aceitaria” se fosse convidada hoje para o cargo, principalmente devido à exposição. Ela negou ter conhecimento de um “gabinete paralelo” no governo e também de ter conhecido o filho do presidente Carlos Bolsonaro ou outra pessoa da família.

Sobre as ameaças que recebeu, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) questionou se foram identificadas, Luana disse que elas sempre foram ligadas ao “pseudo tratamento precoce” e a medidas de tratamento não farmacológico que ela defende. A infectologista também lamentou qualquer a possibilidade do veto ao seu nome para o cargo no ministério estar ligado ao seu posicionamento em favor da ciência. “A mim só me resta lamentar. Se foi [o motivo] eu considero trágico”, destacou.

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