Na Cúpula do Clima, Lula alerta para colapso climático: ‘Perdas humanas e materiais serão drásticas’
Por: Fabyo Cruz
06 de novembro de 2025
MANAUS (AM) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou, nesta quinta-feira, 6, em Belém (PA), na sessão plenária da Cúpula do Clima, encontro que reúne chefes de Estado e de governo de mais de 40 países. O evento é uma preparação para a 30ª Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (COP30), que começa na próxima segunda-feira, 10, e marca o início de uma série de debates sobre o futuro do planeta diante da crise ambiental.
Em seu discurso, Lula afirmou que o mundo precisa agir de forma concreta para evitar um “colapso climático” e alertou que os efeitos do aquecimento global já são visíveis em todo o planeta. “O ano de 2024 foi o primeiro em que a temperatura média da Terra ultrapassou um grau e meio acima dos níveis pré-industriais”, destacou, citando dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Segundo o relatório mencionado pelo presidente, o planeta caminha para um aumento de até 2,5 °C na temperatura média global até o fim do século. “As perdas humanas e materiais serão drásticas. Mais de 250 mil pessoas poderão morrer a cada ano, e o PIB global pode encolher até 30%”, afirmou Lula.

Amazônia no centro do debate
Ao destacar o simbolismo de Belém sediar a conferência, o presidente lembrou que a Convenção do Clima “regressa ao país onde nasceu”, mais de 30 anos após a Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro, em 1992. “Pela primeira vez na história, uma COP terá lugar no coração da Amazônia. No imaginário global, não há símbolo maior da causa ambiental do que a floresta amazônica”, disse.
Lula ressaltou que a região é essencial para o equilíbrio climático e que os povos indígenas e comunidades tradicionais desempenham papel central na preservação da floresta. “É justo que seja a vez dos amazônidas de indagar o que está sendo feito pelo resto do mundo para evitar o colapso de sua casa”, afirmou.
A COP da verdade
O presidente definiu a COP30 como “a COP da verdade”, enfatizando que o encontro deverá marcar uma virada nas negociações climáticas internacionais. “É o momento de levar a sério os alertas da ciência. É hora de encarar a realidade e decidir se teremos ou não a coragem e a determinação necessárias para transformá-la”, disse.
Lula afirmou que o Brasil pretende chegar à COP30 com avanços nas discussões sobre transição energética, financiamento climático e combate ao desmatamento. Ele citou as articulações feitas durante as presidências brasileiras do G20 e dos BRICS como parte desse processo.
“No G20, colocamos na mesma mesa os ministérios do meio ambiente e de finanças das 20 economias que respondem por 80% das emissões globais. Nos BRICS, reafirmamos a centralidade do financiamento climático, da capacitação e da transferência de tecnologia”, lembrou.
Justiça climática e desigualdade
Em outro trecho, Lula associou o combate à mudança do clima à luta contra a desigualdade e a pobreza. Segundo ele, as dinâmicas que sustentam a crise climática são as mesmas que, há séculos, dividem o mundo entre países ricos e pobres.
“A justiça climática é aliada do combate à fome e à pobreza, da luta contra o racismo e a desigualdade de gênero e da promoção de uma governança global mais representativa e inclusiva”, afirmou o presidente.
Ele também criticou o que chamou de “desconexão entre o mundo diplomático e o mundo real”, ressaltando que os efeitos da crise climática já fazem parte da rotina das populações mais vulneráveis. “As pessoas podem não entender o que são emissões de carbono, mas sentem a poluição. Podem não compreender o que são os sumidouros de carbono, mas reconhecem o valor das florestas e dos oceanos”, disse.
Belém, vitrine da Amazônia
Ao encerrar o discurso, Lula agradeceu aos trabalhadores envolvidos na construção da estrutura da Cúpula e ressaltou o valor simbólico de realizar o evento na Amazônia. “Queremos que as pessoas venham aqui para ver o que é a Amazônia, o povo amazônico, a natureza e a culinária da Amazônia”, afirmou.
