Na maior UTI de Covid-19 do Brasil, quase metade dos internados tem menos de 60 anos

No hospital de referência da doença, onde chega um terço dos doentes de Covid-19 do SUS do Estado, todos os pacientes são muito graves (Reprodução/Márcia Foletto)

Com informações do O Globo

RIO DE JANEIRO – Na maior UTI de Covid-19 do Brasil, a do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro, se vê com nitidez a face rejuvenescida da pandemia. Muitas vezes, é a de um jovem obeso. Nem sempre. Há rostos de 20, 30, 40 anos, sem comorbidade ou motivo detectável que os tenha feito adoecer tão gravemente, numa pandemia que segue desafiando a medicina.

No hospital de referência da doença , onde chega um terço dos doentes de Covid-19 do SUS do Estado, todos os pacientes são muito graves. Na última quarta-feira, 94% dos 420 leitos (225 de UTI e 195 de enfermaria) estavam ocupados. E 44,50% dos internados tinham menos de 60 anos.

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Graças a um banco de dados criado em 15 de janeiro deste ano, com informações sobre todos os 8.902 pacientes de Covid-19 que o Gazolla já atendeu, o hospital é um farol da evolução da pandemia, que permite traçar um retrato da Covid-19 à medida que ela se espalha e se modifica no País.

O diretor do hospital, Roberto Rangel, diz que, a partir de março, a gravidade dos casos aumentou, o número de doentes jovens cresceu e o de idosos, caiu. Este último indicador é reflexo da vacinação; o anterior está ligado, certamente, à maior exposição e, possivelmente, à variante P1 do Sars-CoV-2.

“A ideia de que o jovem deveria se proteger para evitar que seus avós e pais adoecessem é passado. Ele deve se cuidar para salvar a si mesmo, pois seus pais e avós estarão vacinados e é ele quem vai adoecer. E, em alguns casos, até morrer”, afirma Rangel.

Juventude desprotegida

A faixa dos 40 aos 59 anos é a que registra o maior aumento percentual de mortes. Era de 15,7% em janeiro e está em 30,4% em abril. Um dos dados mostra que 5,2% das mortes são de pessoas abaixo de 39 anos. É um percentual ainda mais significativo, pois quem está nessa faixa etária têm, em tese, organismo muito mais capaz de resistir do que o de um idoso, ressalta Rangel. “É um percentual muito alto para pessoas tão novas. A juventude não está mais salva da Covid-19”, disse.

Segundo dados da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), em março pessoas até 40 anos somaram 52% das internações em UTIs do Brasil e 58% dos que necessitaram de ventilação mecânica.

A mudança de perfil da pandemia é evidente na faixa dos 80 aos 89 anos, dos primeiros a serem vacinados. O percentual de mortes caiu de 20,7% em fevereiro para 7,5% em abril. Agora, diz Rangel, a redução começa a ser observada nas pessoas acima dos 70 anos, grupo etário vacinado na sequência.

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