Nanoempreendedoras não se veem como ‘donas de seus negócios’, aponta estudo
Por: Letícia Misna
18 de novembro de 2024
Nanoempreendedora de venda de doces (Reprodução)
MANAUS (AM) – Pesquisa realizada pelo Consulado da Mulher traçou o perfil de nanoempreendedoras brasileiras, mulheres que administram serviços menores que microempreendimentos, e destacou o fato de que 20% delas não se enxergam como “donas do próprio negócio”, mas sim “fazendo bico”.
De acordo com especialistas do Consulado que conduziram a pesquisa, a razão para tal visão está atrelada ao fato de que pelo menos metade das entrevistadas iniciou o negócio como alternativa ao desemprego, dificuldade de recolocação no mercado de trabalho, complemento da renda familiar ou sobrevivência.
Segundo a amostra, 35% delas são as principais cuidadoras do lar, e pelo menos metade das entrevistadas dedica cerca de 35 horas semanais a tarefas de casa e da família; 60% atuam no setor alimentício, com destaque para confeitaria, doces e delivery de refeições; 89% dos negócios são tocados exclusivamente por elas mesmas.
Pesquisa realizada pelo Consulado da Mulher traçou o perfil de nanoempreendedoras brasileiras (Reprodução)
Quanto à composição familiar, 57% vivem em lares com três a quatro pessoas, com ao menos um filho dependente, e os cônjuges geralmente inseridos no mercado de trabalho. Sobre escolaridade, 43% delas concluíram o Ensino Médio, e 42% terminaram ou estão terminando o Ensino Superior.
Várias em uma
Patrícia Rodrigues, de 26 anos, faz parte desse recorte. Durante o dia, ela cuida do filho de 7 anos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), da casa, de dois pets (uma gata e um cachorro), de uma pequena taberna em sua residência, além de fazer doces e salgados para vender na faculdade de Enfermagem que cursa durante a noite. Ela também é casada.
Ela não se considera uma “empresária”, mas reconhece que está empreendendo e explica que começou o negócio para complementar a renda familiar. “O negócio não sustenta a casa no momento, porque quem primeiro sustenta é o meu marido, que trabalha fora, mas eu gosto muito do que faço. Eu amo fazer os doces e salgados. Sempre estou na cozinha fazendo alguma coisa“, disse.
Rodrigues conta que sempre gostou de empreender e começou a vender alimentos ainda no Ensino Médio, com bombons, brigadeiros e bolos gelados. “Uma das coisas que eu queria muito fazer antigamente era um curso de Gastronomia, só que fui me desmotivando. Sempre escutava as pessoas dizendo que eu ‘tinha que achar coisa que desse dinheiro, que desse retorno’. Eu sempre quis ser empresária, ser empreendedora, ter meu próprio dinheiro. Mas a gente vai pegando as tacadas da vida e se desmotiva no meio do caminho”, disse a universitária.
Inseguranças
Essa fala esbarra em outro apontamento da pesquisa, que mostrou que mais de 57% das entrevistadas não acredita que o seu trabalho é reconhecido como negócio formal, indicando ainda incertezas e inseguranças no autorreconhecimento dessas mulheres como empreendedoras.
“Enquanto as microempreendedoras conseguem algum grau de formalização e um volume de negócios ligeiramente maior, as nanoempreendedoras permanecem em uma situação quase exclusivamente informal, com pouca ou nenhuma assistência externa. Embora ambas as categorias enfrentem desafios semelhantes em relação à motivação — geralmente impulsionadas pela necessidade econômica e pelo acesso restrito a recursos —, as nanoempreendedoras encontram-se em uma posição de maior vulnerabilidade, marcada pela falta de reconhecimento formal e pelo isolamento social”, destaca a pesquisa.
A falta de recursos para custear formalizações é a principal barreira de formalização de negócio para 60% delas. Apesar disso, a maioria assume ter o desejo de crescer como forma de continuar o empreendimento.
“No momento ainda não tenho condições de investir em curso de aperfeiçoamento, mas eu pretendo futuramente porque é uma área que eu gosto muito. Eu tenho muita vontade de abrir uma padaria pra mim um dia. De ser uma das melhores padarias e ter coisas bem gostosas, com preço acessível. Eu sempre quis ter uma coisa de qualidade com um preço acessível pra todo mundo poder provar”, ressaltou Patrícia.
Dados gerais
Chamada “Nanoempreendedorismo feminino: desafios & motivações”, a pesquisa foi feita em parceria com as empresas ENGIE e Vert.se, entrevistando 707 mulheres em 22 Estados brasileiros. A região com a maior concentração de respostas foi a Sudeste (51%), seguida pelo Norte (27%), Nordeste (15%), Sul (6%) e Centro-Oeste (1%).
Entre os demais dados levantados, destacam-se ainda que:
65% são mulheres negras;
93% dos negócios são tocados de casa, com dedicação de 20 a 45 horas semanais;
48% faturam menos de R$ 1 mil por mês;
44% faturam entre R$ 1 mil e R$ 5 mil por mês;
Apenas 8% possuem um ou dois funcionários, e 2,5% mais de três;
Apesar de 41% delas não estarem totalmente seguras quanto aos próximos 12 meses de seu negócio, 95% desejam expandir o empreendimento nos próximos 2 anos;
60% afirmam já ter enfrentado questões de saúde mental, e entre os principais motivos está a combinação de trabalho e responsabilidades familiares.
Editado por Marcela Leiros Revisado por Gustavo Gilona
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