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‘Não descartamos feminicídio’, diz delegado sobre jovem que narrou morte pela internet
Jovem foi morta no 'tribunal do crime'. (Reprodução/Internet)
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17 de fevereiro de 2021
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
MANAUS – “Venho aqui me despedir, me despedir de todos. Vou morrer daqui a pouco”. Estas foram uma das últimas palavras da jovem amazonense Cristiane Carvalho Guimarães, de 17 anos, morta no último final de semana na cidade de Itapiranga (a 226 quilômetros de Manaus).
O corpo da jovem foi encontrado em uma área de mata e, segundo informações preliminares da Polícia Civil (PC-AM), o crime pode ter sido motivado por “acerto de contas”. No entanto, o feminicídio não é descartado pelo delegado que lidera as investigações, Aldiney Nogueira.
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“Até o momento tudo indica que tenha sido uma execução por conta do acerto de contas no tráfico de drogas. Uma suposta dívida de R$ 3 mil que essa jovem de 17 anos tinha com seus fornecedores. Porém, não descartamos outras hipóteses, como o feminicídio por exemplo, já que um dos suspeitos seria companheiro da vítima”, disse o delegado da PC-AM.
Mensagens
Os suspeitos do assassinato foram identificados inicialmente pela própria vítima como “Licinho” e “Wellintton Capanga”. Antes da morte, Cristiane fez diversos posts no Facebook em que se despedia da família e amigos. Nos relatos, a jovem ainda revelou ter sido agredida, drogada e abusada sexualmente.
“O Licinho e o Campanga me estupraram uma noite inteira. Eles vendem droga e drogam a gente e depois estupram e batem. O Henrique meu primo me estruprou quando eu tinha 12 anos. Já que vou morrer, vou falar a verdade. (Licinho, filho da macumbeira Iza e campanga Weliton). O Licinho me ‘coronhou’* com uma arma 38. Me perdoa pai, me perdoa mãe, me perdoa meus filhos. Saiam dessa vida louca”, descreveu Cristiane.
Nos posts, a jovem explica que não conseguiu pagar a dívida. Ela ainda menciona com detalhes o tipo do armamento do qual afirma que seria baleada. Em sequência, Cristiane descreve que os suspeitos mandariam a localização para que o corpo dela fosse encontrado após execução.
Postagem pós-morte
No dia seguinte após a execução, uma publicação foi postada na rede social de Cristiane. Dessa vez, com a assinatura da facção criminosa Comando Vermelho (CV) onde é descrito a localização do corpo, assim como a jovem havia informado anteriormente.
De acordo com o delegado Aldiney Nogueira, a polícia tomou conhecimento sobre o caso na última sexta-feira, 12. Inicialmente, a denúncia se tratava de sequestro e cárcere de privado.
“Iniciamos as diligências no intuito de localizar a vítima com vida. Porém, ao receber a notícia de que infelizmente a vítima havia sido localizada já sem vida e com sinais de execução, iniciamos as diligências investigativas”, salientou.
De acordo com Nogueira, a Polícia Civil ingressou com as medidas cabíveis no Poder Judiciário para localizar e deter os suspeitos do crime. “Vamos dar uma resposta rápida à comunidade local, onde a comoção social se deu pela covardia e da gravidade do crime. Além de também deixar claro que essas facções criminosas não vão ditar regras no nosso município”, finaliza.
Mortes violentas e feminicídio
Em 2020, o número de mortes violentas caiu em seis dos nove Estados da Amazônia Legal. Segundo levantamento da REVISTA CENARIUM sobre o Monitor da Violência 2020, as regiões registraram queda média de 7% em relação a 2019. Os dados do monitor consideram homicídio doloso (incluindo o feminicídio), latrocínio e lesão corporal seguido de morte. O Amazonas teve redução 8,27%, ou seja, de 1.063 caiu para 975 casos.
Casos de feminicídio, no entanto, aumentaram na capital amazonense. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), o número deste tipo de crime aumentou, no ano passado, em 55% quando comparado com o ano 2019.
Ao todo, foram 14 mulheres mortas, enquanto em 2019 foram registradas nove mortes de mulheres. Segundo o levantamento da pasta, os meses de maio e agosto foram os que mais registraram óbitos, sendo três em cada. Os meses de junho e setembro registraram dois casos. Julho, outubro e novembro tiveram um caso em cada.
(*) “Coronhou” se trata de uma gíria popular, que caracteriza um golpe executado por uma arma de fogo contra a cabeça de uma pessoa.
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