‘Não descartamos feminicídio’, diz delegado sobre jovem que narrou morte pela internet

Jovem foi morta no 'tribunal do crime'. (Reprodução/Internet)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – “Venho aqui me despedir, me despedir de todos. Vou morrer daqui a pouco”. Estas foram uma das últimas palavras da jovem amazonense Cristiane Carvalho Guimarães, de 17 anos, morta no último final de semana na cidade de Itapiranga (a 226 quilômetros de Manaus).

O corpo da jovem foi encontrado em uma área de mata e, segundo informações preliminares da Polícia Civil (PC-AM), o crime pode ter sido motivado por “acerto de contas”. No entanto, o feminicídio não é descartado pelo delegado que lidera as investigações, Aldiney Nogueira.

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“Até o momento tudo indica que tenha sido uma execução por conta do acerto de contas no tráfico de drogas. Uma suposta dívida de R$ 3 mil que essa jovem de 17 anos tinha com seus fornecedores. Porém, não descartamos outras hipóteses, como o feminicídio por exemplo, já que um dos suspeitos seria companheiro da vítima”, disse o delegado da PC-AM.

Mensagens

Os suspeitos do assassinato foram identificados inicialmente pela própria vítima como “Licinho” e “Wellintton Capanga”. Antes da morte, Cristiane fez diversos posts no Facebook em que se despedia da família e amigos. Nos relatos, a jovem ainda revelou ter sido agredida, drogada e abusada sexualmente.

Na postagem, a jovem relata com detalhes o tipo de armamento que seria utilizado na execução. (Reprodução/Facebook)

“O Licinho e o Campanga me estupraram uma noite inteira. Eles vendem droga e drogam a gente e depois estupram e batem. O Henrique meu primo me estruprou quando eu tinha 12 anos. Já que vou morrer, vou falar a verdade. (Licinho, filho da macumbeira Iza e campanga Weliton). O Licinho me ‘coronhou’* com uma arma 38. Me perdoa pai, me perdoa mãe, me perdoa meus filhos. Saiam dessa vida louca”, descreveu Cristiane.

Mensagens na rede social de Cristiane (Reprodução/Facebook)

Nos posts, a jovem explica que não conseguiu pagar a dívida. Ela ainda menciona com detalhes o tipo do armamento do qual afirma que seria baleada. Em sequência, Cristiane descreve que os suspeitos mandariam a localização para que o corpo dela fosse encontrado após execução.

Postagem pós-morte

No dia seguinte após a execução, uma publicação foi postada na rede social de Cristiane. Dessa vez, com a assinatura da facção criminosa Comando Vermelho (CV) onde é descrito a localização do corpo, assim como a jovem havia informado anteriormente.

De acordo com o delegado Aldiney Nogueira, a polícia tomou conhecimento sobre o caso na última sexta-feira, 12. Inicialmente, a denúncia se tratava de sequestro e cárcere de privado.

Veja também: Seis Estados da Amazônia Legal registram queda média de 7% nas mortes violentas em 2020: veja números

“Iniciamos as diligências no intuito de localizar a vítima com vida. Porém, ao receber a notícia de que infelizmente a vítima havia sido localizada já sem vida e com sinais de execução, iniciamos as diligências investigativas”, salientou.

O delegado que lidera as investigações gravou um depoimento em vídeo sobre o caso (Reprodução/Facebook)

De acordo com Nogueira, a Polícia Civil ingressou com as medidas cabíveis no Poder Judiciário para localizar e deter os suspeitos do crime. “Vamos dar uma resposta rápida à comunidade local, onde a comoção social se deu pela covardia e da gravidade do crime. Além de também deixar claro que essas facções criminosas não vão ditar regras no nosso município”, finaliza.

Mortes violentas e feminicídio

Em 2020, o número de mortes violentas caiu em seis dos nove Estados da Amazônia Legal. Segundo levantamento da REVISTA CENARIUM sobre o Monitor da Violência 2020, as regiões registraram queda média de 7% em relação a 2019. Os dados do monitor consideram homicídio doloso (incluindo o feminicídio), latrocínio e lesão corporal seguido de morte. O Amazonas teve redução 8,27%, ou seja, de 1.063 caiu para 975 casos.

Casos de feminicídio, no entanto, aumentaram na capital amazonense. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), o número deste tipo de crime aumentou, no ano passado, em 55% quando comparado com o ano 2019.

Veja também: Número de feminicídio em 2020 cresce 55% em Manaus e quarentena pode ter contribuído para esse aumento

Ao todo, foram 14 mulheres mortas, enquanto em 2019 foram registradas nove mortes de mulheres. Segundo o levantamento da pasta, os meses de maio e agosto foram os que mais registraram óbitos, sendo três em cada. Os meses de junho e setembro registraram dois casos. Julho, outubro e novembro tiveram um caso em cada.

(*) “Coronhou” se trata de uma gíria popular, que caracteriza um golpe executado por uma arma de fogo contra a cabeça de uma pessoa.

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