‘Não esqueçam da Ana, do anjo, Aninha’; poema pede Justiça por criança indígena estuprada e morta no AM
27 de novembro de 2020
Na obra, o autor busca transmitir o sentimento de dor, revolta e indignação e pede para que o crime não caia no esquecimento e os suspeitos não fiquem impune (Arte: Jousefe)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
MANAUS – Composto por 40 versos, um poema divulgado nessa quinta-feira, 26, sobre a menina indígena Ana Beatriz, de apenas cinco anos, que foi abusada sexualmente e morta em uma aldeia em Barreirinha, no interior do Amazonas, pede Justiça. Na obra, o autor busca transmitir o sentimento de dor, revolta e indignação e pede para que o crime não caia no esquecimento e os suspeitos não fiquem impune.
O poema, de autoria do artista visual, fotógrafo, poeta e chargista Jousefe Oliveira, foi publicado nas redes sociais junto à uma imagem representando a menina indígena.
Em trecho da obra, Oliveira simboliza a menina como um anjo e uma flor angelical indígena que teve a infância perdida, relembrando a crueldade de como Ana foi assassinada, cujo corpo violado foi encontrado enterrado em um terreno daquele município.
Artista e poeta pede Justiça pela menina Ana (Arte: Jousefe)
No texto, o poeta fala também sobre a dor de perder uma filha e pede para que os “sorrisos abertos carregados de vida” da criança sejam lembrados. O autor pede, ainda, para que Ana não seja só mais uma vítima da sociedade.
A obra foi analisada pela professora Gracy Oliveira, especialista em gramática. Segundo ela, o poema está dividido em oito tercetos, três quartetos e uma sextilha. “Por meio do poema, o autor consegue demonstrar sua indignação sobre este caso perverso, pedindo para que o caso não seja esquecido e para que Ana não torne-se só mais uma vítima”, analisou.
Confira o poema na íntegra:
Não esqueçam
da Ana
do anjo, AninhaNão esqueçam
da Ana
morta, sozinhaNão esqueçam
da Ana
de sua infância
perdidaNão esqueçam
da crueldade
de como foi morta
a menina
De seu corpo violado
encontrado sem vidaNão esqueçam
da dor
de que é perder
uma filhaMas lembre-se
da Ana,
do anjo, AninhaDos seus sorrisos
abertos
carregados de vidaNão deixem a Ana
torna-se só mais
Uma vítimaDe uma sociedade
que mata, estupra
mulheres, criançasNão deixem
a morte de Ana
Ficar impune
esquecidaLutem por Ana,
Flor angelical
indígenaJustiça por Ana,
nosso anjo,
Aninha"- Jousefe
O caso
De acordo com a Polícia Militar, a menina foi raptada enquanto dormia dentro de casa e levada para uma área de mata, onde o crime foi consumado e a criança foi encontrada morta na segunda-feira, 23. O caso ocorreu na comunidade Nova Vida, aldeia indígena Sateré-Mawé, localizada nas proximidades do distrito de Ponta Alegre, e causou revolta entre os moradores da cidade.
A Polícia Militar de Barreirinha apreendeu um adolescente de 16 anos suspeito de cometer o crime que, conforme a polícia, assumiu a prática dos atos infracionais depois que foram encontrados pertences dele na casa da vítima.
A Polícia Civil chegou a ouvir dois homens adultos suspeitos de participação na morte da criança, mas eles foram liberados, conforme o delegado local, por falta de provas.
O assassinato ganhou repercussão nacional e pedidos de Justiça pelo Brasil. Em Barreirinha, mulheres lideradas por professoras, membros de entidades sociais e representantes indígenas mobilizaram um protesto no final da tarde de quarta-feira, 25, pelas ruas da cidade, pedindo Justiça pela morte de Ana Beatriz.
Protesto reúne multidão em Barreirinha (Fotos: Juliano do Click)
O Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH-AM/RR), em conjunto com a Rede de Proteção dos Direitos da Criança e do Adolescente, manifestou nota de repúdio e pesar sobre o crime e pediu união de esforços do poder público contra a violação dos direitos humanos.
“O ato praticado não atinge apenas a vítima, mas representam um ataque a todas as crianças, mulheres e instituições de nosso País que lutam pela eliminação da violência de gênero, raça, credo e para que os Direitos Humanos sejam uma realidade. Neste momento em que o mundo notícia, estarrecido, esses bárbaros crimes, é preciso que as instituições reafirmem e façam valer as leis e direitos já consagrados internamente, a exemplo da quais a lei será aplicada”, diz trecho da nota.
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