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‘Não proteger essas terras é acelerar as mudanças climáticas’, afirma antropólogo indígena
Coordenador do curso de formação de professores indígenas. (César Alejos/ Cenarium)
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01 de novembro de 2021
Victória Sales – Da Revista Cenarium
MANAUS – Sendo o maior evento de mudanças climáticas do mundo, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima recebe o maior grupo de lideranças indígenas brasileiras da história do evento, esse dado foi divulgado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Em entrevista exclusiva à CENARIUM, o coordenador do curso de formação de professores indígenas da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Gersem Baniwa, destacou a importância da representatividade e o destaque da pauta indígena no evento.
De acordo com Gersem, a maior preocupação sem dúvida é a garantia e a proteção das Terras Indígenas, pois essa é a forma concreta de contribuição dos povos indígenas no combate às mudanças climáticas. “O papel das Terras Indígenas hoje é fundamental, eu tenho certeza de que não é preciso pensar, neutralizar e combater as mudanças climáticas sem levar em conta as Terras Indígenas”, explicou.
O coordenador afirma ainda que no Brasil, por exemplo, são 14% de Terras Indígenas do País com área mais preservada. “Destruir as Terras Indígenas, hoje, como o atual governo está estimulando, é praticamente acelerar as mudanças climáticas, então isso é fundamental. Além que garantir, significa demarcar terras, pois mais da metade das Terras Indígenas do Brasil não têm nenhuma garantia de reconhecimento, demarcação, proteção”, destacou.
Gersem relata ainda que não é só proteger as que já estão demarcadas, mas é sobretudo reconhecer, demarcar, homologar, e aí sim proteger as terras que ainda não estão demarcadas. “E preocupa muito a discussão que está tendo no Congresso Nacional com a PL 490. Tudo isso vai na contramão de qualquer propósito bem intencionado de combate à mudança climática. Essa terras ganham até das Unidades de Conservação (UCs) que são menos preservadas que as Terras Indígenas, pois esses povos se aventuram, se agarram e entregam a vida nessa proteção”, contou.
Questionado sobre a representatividade de lideranças indígenas que estão participando do evento, Gersem conta que pela capacidade que o movimento indígena tem de se mobilizar, o movimento do Brasil está levando uma delegação expressiva em termo de números e qualidade, pois são outros tempos. “Hoje em dia o movimento indígena que está composto por indígenas bem melhor preparados na capacidade, qualificados, e com acesso a ensino superior. Hoje o debate é bem mais qualificado do ponto de vista técnico”, explicou.
“Se antes a discussão era mais no nível cultural, agora também temos debate jurídico. Muitos advogados indígenas são especialistas em questões ambientais. Acho que o mundo até pela adversidade que está passando, está mais atento a essas questões, eu acredito que essa consciência está cada vez maior. Então a consciência cresce por meio dessa juventude representada no Brasil de um modo geral”, relatou o coordenador.
O indígena salienta ainda que a mídia em seus diferentes níveis precisa dar mais atenção e mais visibilidade a esse segmento populacional do mundo que são os povos indígenas pela relevância que eles representam no debate, mas sobretudo nas possibilidades de buscar soluções nesse problema de mudança climática.
Resultados
“Eu sou muito otimista, então eu acredito que tenha uma abertura bastante significativa da parte da comunidade internacional com mais sensibilidades. Eu acho que existe um pouco mais de confiança exatamente nessas potencialidades que os povos indígenas e seus territórios têm de contribuição nesse combate às mudanças climáticas. Não tenho dúvida que a comunidade internacional sairá dessa COP com algum compromisso real de contribuir para que os povos indígenas mantenham essa sua luta histórica na defesa de seus territórios”, destacou Gersem.
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