‘Não sou um homenzinho disfarçado de político’, diz candidata trans que concorre à CMM

Candidata citou ainda criação de um “balcão de empregos LGBTQ+”, e falou da atual gestão que, segunda ela, "falta com políticas públicas" (Divulgação)

Carolina Givoni – Da Revista Cenarium

MANAUS – “Durante vários anos fomos vítimas e ‘escada’ para eleger candidatos ditos apoiadores da causa LGBTQ+, que após eleitos, nos viraram as costas”. O relato de Bruna La Close (PT), primeira candidata assumidamente trans a disputar uma vaga na Câmara Municipal de Manaus (CMM), revela a inquietação sobre o atual cenário político do Brasil, um dos países que mais mata transexuais no mundo, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

A história de vida de Bruna se mescla com o movimento LGBTQ+ em Manaus. “Trabalho na promoção da cidadania, direitos humanos e visibilidade das pessoas LGBT. Fui uma das fundadoras do Movimento na cidade. Além de ser organizadora da parada do orgulho”, explicou.

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Sobre como surgiu a vontade de fazer política, Bruna afirma que o “start” aconteceu a partir da falta de compromisso dos atuais gestores com a população LGBTQ+, especialmente, aos travestis e transexuais, que apenas em 2019, cerca de 82% das vítimas eram negras e apenas 8% dos casos tiveram suspeitos identificados.

Candidata exibe o título de eleitor com o nome social, uma das bandeiras defendidas para um possível mandato na CMM (Divulgação)

“Devido à falta de políticas públicas, leis e projetos que possam beneficiar nossa população LGBTQI+ e também por conta desse desgoverno que estamos atravessando no Brasil, de modo em geral, Manaus, precisa mudar esse cenário político antigo desgastado e sem compromisso sério com a população, desabafou.

Diferenciação

À REVISTA CENARIUM, Bruna La Close detalhou o que acredita ser o diferencial dela em relação aos outros candidatos defensores dos direitos LGBTQI+. “Acredito que pela história de luta, ativismo e resistência. Há mais de 20 anos combato à violência e preconceitos e homofobia. Não sou um homenzinho disfarçado de político que entra em defesa do movimento LGBT apenas nas eleições”, disparou a candidata.

“Sou de fato uma mulher trans que há anos vem resistindo todas as formas de preconceito para existir. E pela primeira vez, a população LGBTQ+ de Manaus terá a oportunidade de depositar o voto em alguém do meio, que sempre levou ‘porrada’ do preconceito todos os dias. Estou colocando a cara para bater, encarando de frente a política partidária e essa sociedade hipócrita, que só nos usa como voto e depois nos trata como escória”, declamou Bruna.

Bruna La Close conta com apoio de José Ricardo, candidato do PT para Prefeitura de Manaus (Reprodução)

Propostas

Como uma das bandeiras de campanha, está a criação de um “balcão de empregos LGBTQ+”. A iniciativa surge para tentar modificar o triste quadro da empregabilidade trans. Dados da Antra também alertam que pessoas trans do gênero feminino, representam 97,7% dos casos de violência, com 64% dos assassinatos acontecendo em vias públicas. A violência tem relação direta com cenário de exploração e violência sexual, em que 90% de trans fazem da prostituição um meio de sobrevivência.

“Quero atuar, militar e ser ativista da causa, viver a causa todos os dias. Não tenho como me esconder, vivo o drama e o preconceito de um LGBTQ ou de uma mulher, negra, indígena, todos os dias, por isso entendo que sou esse diferencial. Ou luto ou me escondo, mas na verdade, tem como me esconder, preciso sobreviver”, finalizou.

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