NDCs do G20 deixam mundo longe de 1,5°C, diz relatório apresentado na COP30
Por: Fred Santana
18 de novembro de 2025
BELÉM (PA) – As novas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas, em inglês) para 2035 apresentadas pelos países do G20 são insuficientes para manter vivo o limite de 1,5°C, segundo relatório do Greenpeace Internacional divulgado nessa segunda-feira, 17, em Belém, durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).
Apesar de responderem por 80% das emissões globais, os países ofertam cortes de apenas 23% a 29%, muito abaixo da redução global de 60% necessária. A avaliação foi detalhada na coletiva de imprensa que reuniu especialistas do Greenpeace e do Climate Analytics.
As NDCs são os compromissos climáticos que cada país apresenta periodicamente no âmbito do Acordo de Paris, firmado em 2016. Nelas estão indicados quanto pretende reduzir de emissões de gases de efeito estufa, como vai se adaptar aos impactos da crise climática e quais políticas pretende adotar para isso.
Esses indicadores funcionam como “planos nacionais de clima” e devem ser atualizadas a cada cinco anos, sempre com mais ambição do que a versão anterior. Em outras palavras, as NDCs são o mecanismo central que organiza o esforço global para limitar o aquecimento do planeta, e mostram, na prática, se um país está fazendo sua parte.

Na COP30, as NDCs ganham ainda mais importância porque muitos países estão entregando suas novas metas para 2035, e essas metas precisam estar alinhadas à ciência climática para manter vivo o limite de 1,5°C de aquecimento global.
Se as NDCs são insuficientes, como mostram diversos relatórios, incluindo o do Greenpeace, o mundo segue rumo a cenários de impactos graves, como secas extremas, enchentes e perda de ecossistemas.
Por isso, a COP30 é o espaço onde os países negociam, cobram uns aos outros e tentam fechar acordos para aumentar a ambição das NDCs, acelerar a transição energética e garantir financiamento para que todos possam cumprir suas metas.
Aquecimento rumo a 2,6°C
A analista de políticas climáticas Sofia Gonzales-Zuñiga, do Climate Analytics, destacou que, mesmo após dez anos do Acordo de Paris, as projeções climáticas “estão estagnadas e corremos contra o tempo”, disse, ao apresentar o novo Global Temperature Update.
Segundo a especialista, “o mundo ainda está no caminho para cerca de 2,6°C de aquecimento até o fim do século, um nível que traria impactos devastadores e irreversíveis”, afirmou. Ela lembrou que, mesmo com novas NDCs entregues, “o panorama quase não mudou, e as emissões projetadas seguem em 53 a 57 gigatoneladas em 2030, quando deveriam cair para 27 gigatoneladas”, explicou.

Gonzales-Zuñiga reforçou que “mesmo que todos os países cumprissem suas metas atuais, ainda estaríamos muito longe de um cenário compatível com 1,5°C”, ressaltando que há um descompasso entre compromissos e ações reais, sobretudo devido à expansão contínua dos combustíveis fósseis.
Maiores emissores não apresentam planos críveis
O relatório anexado aponta que nenhuma NDC do G20 inclui um plano crível de eliminação gradual dos combustíveis fósseis, principais responsáveis pela crise climática. A constatação também foi enfatizada na coletiva pelo diretor de Programas do Greenpeace Internacional, Jasper Inventor.
Em sua fala, ele alertou que “os alvos do G20 estão perigosamente fora de rota”, e que o grupo, responsável por quatro quintos das emissões globais, “só entregaria cerca de 23% de redução, quando a ciência exige 60%”, disse. Para Jasper, “se as maiores economias falham, o mundo inteiro falha”, apontando que países com mais responsabilidade histórica precisam agir “primeiro e mais rápido”.

Inventor reforçou que a COP30 precisa entregar um Plano de Resposta Global, afirmando que “estamos pedindo um roteiro para a eliminação dos combustíveis fósseis e para acabar com o desmatamento até 2030”, disse. Ele defendeu que UE e China liderem uma guinada nas metas, explicando que “se trabalharem juntas, é possível trazer a meta global mais próxima dos 60% de redução necessários até 2035”.
Ilhas do Pacífico tratam 1,5°C como linha de sobrevivência
A urgência humana e social por trás do debate foi destacada pelo representante do Greenpeace Austrália-Pacífico, Shiva Gounden, que trouxe a perspectiva dos pequenos Estados insulares.
Gounden declarou que “1,5°C não é um alvo técnico; é a linha entre esperança e devastação”, disse. Ele reforçou que as comunidades das ilhas vivem diariamente os impactos da crise, afirmando que “o oceano está mudando mais rápido do que nossas histórias ancestrais podem acompanhar”.
Ele criticou o avanço dos combustíveis fósseis, declarando que “a indústria de combustíveis fósseis incendeia o mundo e caminha livre entre as cinzas”, disse, pedindo coragem política para garantir financiamento e ambição climática.
Florestas e povos indígenas no centro do debate
A especialista em política de biodiversidade do Greenpeace Internacional, An Lembrechts, lembrou que não há solução climática sem florestas e sem povos indígenas. Segundo ela, “florestas de alta integridade não existem sem os povos que as protegem”, explicou.
Lembrechts destacou que o relatório Land Gap aponta que “até 20 milhões de hectares de florestas podem ser perdidos anualmente até 2030 se nada mudar”, disse, reforçando que é essencial que a COP30 tenha um resultado formal para “encerrar o desmatamento e a degradação florestal até 2030”.
