Negra, talentosa, empoderada: Paula Gomes pode se tornar levantadora de toadas do Caprichoso

Cantora nascida nas barrancas de Parintins, no Amazonas, Paula Gomes pode se tornar levantadora do Caprichoso, apostam apoiadores da ideia (Reprodução/Divulgação)

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Negra, bissexual assumida, talentosa e com voz de sobra para encantar plateias. Paula Gomes é mais uma estrela que surge da cidade de Parintins (AM), distante 369 quilômetros de Manaus. Paula faz parte do cast de artistas do bumbá Caprichoso. Com a vacância do cargo de ‘levantador de toadas’ no azul, há quem aposte nela.

De origem vermelha, Paula Gomes abraçou o azul do Caprichoso e hoje é torcedora e artista do bumbá (Reprodução/Divulgação)

A reportagem da REVISTA CENARIUM conversou com Paula Gomes para saber mais sobre sua personalidade, o que pensa, seu lugar no mundo das toadas, suas posições sociais e de gênero e quais os planos para o desabrochar de uma carreira promissora, em meio a todas as dificuldades que sua origem, suas escolhas, lhe impõem.

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Paula Gomes começou cantando na igreja. Aos 16 anos entrou para uma banda para atuar na noite parintinense. Como toda banda de baile, o repertório ia de MPB ao rock, passando pelo sertanejo até o ritmo do boi. “Iniciei cantando de tudo com a banda Contratempo, com isso ganhei reconhecimento do público”, recordou.

Solo e convite

“Com o tempo decidi fazer carreira solo e foi aí que surgiu o convite do Caprichoso para fazer participações em 2016”, relembrou. Mesmo estampando um azul no canto, Paula Gomes vem de berço Garantido. “Meu pai, meus tios e minha família inteira é Garantido, trabalharam no Garantido, mas, eu agora sou Caprichoso”, declarou.

Paula Gomes em ação na arena do bumbódromo de Parintins. Voz potente e punhos erguidos como reza a força do gesto dos ‘panteras negras’ ( Reprodução/Divulgação)

De raízes negras nordestinas, Paula nasceu em Parintins e conta que sofreu preconceito, mas, aprendeu a superar. “Sou assumidamente bissexual e tenho as características negras no cabelo, na pele, na cor e sempre converso sobre esses temas abertamente, porque eu acredito que devemos nos impor, que devemos superar esses tabus”, considerou.

Apontada por setores do boi Caprichoso como uma possibilidade para ocupar a vaga de ‘Levantadora de Toadas’, Paula acredita que é possível, apesar das resistências. “Temos que retirar a cultura do patriarcado da nossa cabeça. Dizer que mulher não pode cantar toadas de ritual porque a é necessária uma voz grave? Que isso?”, questionou.

Coisa nova

“Claro que é possível adaptar as notas para toadas de ritual, é possível sim! Uma mulher interpretando na condição da levantadora é algo novo, uma tração nova! Cara isso é novo, é bonito, é legal! Isso é entretenimento, é dinâmica! É possível fazer sim, sem mudar radicalmente. Isso é representatividade”, ponderou a cantora.

Com experiência de arena, Paula diz que se não for chamada para compor o item ‘levantadora’, continuará fazendo parte do Caprichoso (Reprodução/Divulgação)

Além de apoiar abertura maior para as mulheres, dentro da cultura de arena do festival de Parintins, Paula lembra das guerreiras a quem admira e vem desbravando no boi. “Quero aqui lembrar de nomes como Márcia Siqueira, Iana Yra, Vanessa Alfaia, Mara Lima. Só de receber a indicação já considero uma vitória das mulheres”, comemorou.

Questionada se a ideia não se concretizar, Paula Gomes foi objetiva. “Continuarei cantando e ajudando o Caprichoso porque amo fazer parte da equipe. Continuarei com minha carreira porque não canto só boi, tenho um leque de opções e ainda pretendo estudar sociologia porque não quero apenas cantar, quero levar uma mensagem”, finalizou a artista de Parintins.

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