No AM, decreto busca evitar novo ápice da pandemia e aumento de mortes súbitas

Paciente sendo entubado com a infecção do novo coronavírus (CHO RAY HOSPITAL)

Paula Litaiff e Luís Henrique Oliveira – Da Revista Cenarium

MANAUS – Em meio aos quase 200 mil casos confirmados de Covid-19 e 5.161 mortes, de 13 de março até esta sexta-feira, 25 de dezembro, no Amazonas, o decreto assinado pelo governador Wilson Lima (PSC) de restrições no comércio busca evitar uma nova onda da Covid-19 e a ocorrência de mortes súbitas, aquelas em que o infectado não chega a tempo no hospital para o atendimento emergencial.

Novas pesquisas internacionais apontam para mutações do novo coronavírus, causador da Covid-19, e o aumento significativo da doença em todo mundo com variações ainda não explicadas pela medicina.

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No Amazonas, o governo registrou índices que alertaram o chefe do Executivo para a necessidade de revisão dos serviços não essenciais nas aglomerações típicas das festas de fim de ano.

De acordo com o doutorando do programa de pós-graduação em biologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Lucas Ferrante, a única medida realmente eficiente é o distanciamento social.

“O procedimento adotado por meio do decreto do governo do Amazonas evita que realmente mais pessoas se contaminem. O nível de contaminação no estado, principalmente, em Manaus, está muito alto e as aglomerações continuam. A gente pode sofrer um novo colapso de saúde”, disse.

A adoção de uma ação mais rígida, pontua o pesquisador, visa prevenir um colapso do sistema de saúde.  “Meu receio é que essa medida seja um pouco tardia. É importante dizer que nós estamos avisando que Manaus passaria para uma segunda onda do coronavírus desde agosto”, relembrou.

Em março deste ao, no primeiro ápice da pandemia, o governador Wilson Lima decretou estado de calamidade pública por conta do aumento de casos do novo coronavírus no estado. Entre as medidas, o Governo anunciou o fechamento de estabelecimentos comerciais e de lazer até 1º de junho.

Governo do Amazonas decreta estado de calamidade pública por conta do novo coronavírus — Foto: Reprodução/Internet
Governador Wilson Lima entre o então secretário de saúde do Amazonas, Rodrigo Tobias e a diretora-presidente da FVS-AM, Rosemary Pinto, em live no dia 23 de março (Reprodução/ Internet)

No dia 21 de abril, Manaus teve o maior registro de enterros feitos em apenas um dia, quando 136 sepultamentos foram feitos na capital, segundo a Prefeitura de Manaus. À época, a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) contabilizava 2.479 casos confirmados no Estado.

Cinco dias depois, o Amazonas registrava mais de 300 mortes pelo novo coronavírus e levou o Sindicato das Empresas Funerárias do Estado do Amazonas (Sefeam) a declarar crise com a baixo estoque de urnas funerárias na capital.

Por conta da alta demanda nos hospitais públicos e particulares, a Prefeitura instalou o Hospital de Campanha Municipal, construído e mantido em parceria com a iniciativa privada no período mais crítico da pandemia na capital. A unidade contava com leitos clínicos e de UTI e ficou em atividade de abril a junho de 2020, onde hoje é o Centro Integrado Municipal de Educação (Cime), bairro Lago Azul, zona norte de Manaus.

Paciente chega ao hospital de campanha municipal, na zona norte de Manaus (Divulgação/ Prefeitura de Manaus)

A pandemia do novo coronavírus gerou um colapso no sistema público de saúde do Amazonas. Até 28 de abril, a Secretaria de Estado de Saúde (Susam) informou que 94% dos leitos de UTI estavam ocupados. Contêineres chegaram a ser instalados em unidade de saúde para armazenar corpos de vítimas e enterros passaram a ocorrer em valas comuns.

Enterros em Manaus triplicam em abril e famílias poderão optar por  crematório - Portal do Marcos Santos
Caixões são enterrados um ao lado do outro, em vala comum, no Cemitério Tarumã, zona oeste de Manaus (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

Sepultamentos no ápice

Para se ter uma ideia, nos dois meses de agravamento da pandemia de Covid-19 no Amazonas, os cemitérios públicos e privados de Manaus registraram 5.168 sepultamentos e cremações. Foram 2.809 no mês de abril e mais 2.359 em maio. O sistema funerário público gerido pela Prefeitura de Manaus foi responsável por 4.334 desses enterros, o equivalente a 83,8%.

Manaus possui dez cemitérios públicos, sendo seis na área urbana e quatro na zona rural. Desses, somente o Nossa Senhora Aparecida, no bairro Tarumã, zona Oeste, possui capacidade para novas sepulturas. Nos demais, só é possível realizar enterros se a família da pessoa morta já possuir uma sepultura no local.

Após a reabertura do comércio em junho, novas aglomerações voltaram a ser registradas. “Essas aglomerações sociais alavancam o problema. É importante dizer que não temos outro método agora, a não ser o isolamento social. A população tem que entender isso, assim como a vacinação é importante e a população também tem que entender”, enfatiza Lucas Ferrante.

Já em setembro deste ano, em entrevista à REVISTA CENARIUM, o coordenador do boletim elaborado pelo Atlas ODS Amazonas, Henrique Pereira, explicou que por conta da evolução do vírus, não haveriam possibilidades de uma segunda onda de contaminação de Covid-19, até então, à curto prazo.

“Todos os vírus estão competindo para se reproduzir, os menos virulentos, ganham vantagem porque se transmite em maior frequência e, depois de certo tempo, interagindo com a população hospedeira, se tornam maioria”, defendeu Pereira.

Para chegar a essa conclusão, formada pelos pesquisadores Henrique Pereira, Danilo Egle e Bruno Lorenzi, foi levado em conta o modelo logístico, e não epidemiológico, para prever taxas de crescimento de casos e de óbitos.

Pesquisador Henrique Pereira, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), durante entrevista online (Reprodução/ Internet)

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