No Amazonas, Sindicato dos Jornalistas defende livre exercício da imprensa após repórter ser atacado

Wilson Reis é presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas. (Thiago Correa/CMM)
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Amazonas (SJP/AM) se pronunciou nessa quinta-feira, 24, repudiando o ataque sofrido pelo jornalista Leandro Marques, da Rede Amazônica, em Itacoatiara (distante 175 quilômetros de Manaus), que estava em pleno exercício profissional, cometida por um servidor da prefeitura do município. Esse foi o segundo ataque este ano a jornalistas no Estado.

“A entidade que representa os jornalistas amazonenses destaca a importância do respeito que as autoridades públicas devem ter ao livre exercício profissional, bem como a liberdade do trabalho da imprensa para que a sociedade possa ser bem informada”, defendeu o sindicato.

Por fim, a direção do Sindicato solidariza-se com o repórter Leandro Marques, e coloca-se à disposição para acompanhar o desdobramento dos fatos na violência praticada contra o correspondente da rede de comunicação e ao jornalismo.

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Ameaça

O repórter Leandro Marques fazia uma reportagem sobre a distribuição do Auxílio Enchente após os moradores reclamarem da demora e da aglomeração no local do recebimento. Em tom de ameaça, um dos assessores afirmou ao profissional de comunicação de que se ele falasse mal do prefeito, “levaria uma surra”.

“Eu vou dizer uma coisa para ti, se sair uma vírgula, uma vírgula falando mal do prefeito Mario Abrahim, se sair uma vírgula, vai pegar uma surra. Tá bom? Dê o fora daqui“, ameaçou o assessor.

Logo após o episódio, o repórter leva um tapa na mão deixando cair o equipamento de filmagem. Durante o ocorrido, Leandro Marques ainda foi golpeado com um soco no estômago e depois expulso do local com sua equipe.

Veja o vídeo da agressão:

Repórter Leandro Marques foi atacado pelo assessoria do prefeito de Itacoatiara (Reprodução/Manaus Pop)

Defesa

Em nota, a Prefeitura de Itacoatiara afirmou que repudia qualquer ato de agressão ao jornalista e esclarece que o prefeito não compactua com qualquer tipo de ameaça ou agressão à liberdade de imprensa. “Qualquer violência à liberdade de comunicação é reprovável e não se justifica em um Estado Democrático de Direito”, afirmou em nota.

Ainda em nota, a prefeitura destacou que, por esta razão, Mário Abrahim determinou a exoneração do servidor envolvido no episódio, bem como a imediata abertura de sindicância para apuração dos fatos e punição severa de quaisquer envolvidos. “Por fim, a Prefeitura de Itacoatiara reitera o compromisso pela defesa dos direitos humanos e pela civilidade na convivência entre cidadãos de diferentes opiniões”, ressaltou.

Outro ataque

Em abril, uma equipe de reportagem do Grupo Diário de Comunicação (GDC) sofreu um assalto no bairro Coroado, zona Leste de Manaus. A equipe perseguiu a dupla de ladrões que a assaltou e, durante uma briga corporal, um dos suspeitos atirou contra o cinegrafista Renê Silva, 45 anos. O profissional foi atingido com dois tiros, um no tórax e outro na mão.

Renê Silva é cinegrafista há mais de 20 anos (Reprodução/Internet)

Relatório

Relatório divulgado no início deste ano pela Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), elaborado em 2020, apontou que o ano passado foi o mais violento para profissionais de imprensa desde 1990, quando o levantamento começou a ser feito pela Federação. Foram 428 casos de ataques – incluindo dois assassinatos – o que representa um aumento de 105,77% em relação a 2019, ano em que também houve crescimento das violações à liberdade de imprensa no País.

O relatório da Fenaj aponta que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é um dos maiores responsáveis pelos ataques à categoria. Sozinho, Bolsonaro foi responsável por 145 casos de descredibilização da imprensa, por meio de ataques a veículos de comunicação e a profissionais, e outros 26 registros de agressões verbais, duas ameaças diretas a jornalistas e dois ataques à Fenaj, totalizando 175 casos, o que corresponde a 40,89% do total.

Dados da Fenaj apontam que o número de profissionais agredidos aumentou desde 2011 (Arte: Catarine Hak/Revista Cenarium)

A presidente da Federação, Maria José Braga, afirmou que esse aumento na violência aos profissionais de imprensa está ligado diretamente ao “bolsonarismo”, um movimento político de extrema-direita, capitaneado pelo presidente Jair Bolsonaro e que repercute na sociedade por meio dos seus seguidores.

“Houve um acréscimo não só de ataques gerais, mas de ataques por parte desse grupo que, naturalmente, agride como forma de controle da informação. Eles ocorrem para descredibilizar a imprensa para que parte da população continue se informando nas bolhas bolsonaristas, lugares de propagação de informações falsas ou fraudulentas”, afirma Maria José.

As agressões verbais/ataques virtuais cresceram significativamente na esteira dos incentivos do presidente Bolsonaro à violência contra jornalistas. Em 2020, foram 76 casos (17,76%), 56 a mais do que os 20 registrados em 2019. Jornalistas passaram a ser agredidos por populares nas ruas e os ataques virtuais, por meio de redes sociais e aplicativos de mensagens, tornaram-se comuns.

As agressões físicas eram a violência mais comum até 2018, mas diminuíram em 2019 e, em 2020, voltaram a crescer: foram 32 casos, 17 a mais do que as 15 ocorrências registrados ano passado. Em porcentuais, o crescimento foi de 113,33%. Já os episódios de cerceamento à liberdade de imprensa por meio de ações judiciais cresceram 220%: de cinco em 2019, para 16 casos, em 2020.

Casos

Na semana passada, enquanto visitava Guaratinguetá, em São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro atacou a jornalista Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da TV Globo, quando questionado sobre ter chegado ao local sem a máscara de proteção, item essencial de prevenção contra a Covid-19.

“Essa Globo é uma merda de imprensa. Vocês são uma porcaria de imprensa. Cala a boca, vocês são uns canalhas. Vocês fazem um jornalismo canalha, canalha, que não ajuda em nada. Vocês não ajudam em nada. Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião brasileira. Vocês não prestam”, respondeu Bolsonaro ao jornalista.

Em outro momento, o presidente disse que “a Rede Globo não presta”. “É um péssimo órgão de informação. Se você não assiste à Globo, você não tem informação. Se você assiste, está desinformado. Você tinha que ter vergonha na cara por prestar um serviço porco desse que você faz na Rede Globo. Obrigado”, finalizou, interrompendo a entrevista.

Outro episódio em que o presidente atacou jornalistas foi quando a repórter Driele Veiga, da TV Aratu, uma emissora de Salvador filiada ao SBT, questionou Bolsonaro sobre uma foto em que exiba um “CPF cancelado”. Na réplica, o presidente respondeu: “Você não tem o que perguntar, não? Deixa de ser idiota”, ofendendo diretamente a profissional.

Bolsonaro ataca repórter e a chama de “idiota” (Reprodução)

No dia 23 de abril, enquanto o presidente Jair Bolsonaro cumpria agenda em Belém do Pará, os apoiadores dele agrediram a equipe da TV Cultura, que faziam a cobertura da passagem presidencial. A equipe da TV ainda precisou ser escoltada por policiais militares até o carro, a fim de evitar maiores agressões.

Confira o relatório da Fenaj na íntegra:

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