No ‘Dia dos Povos Originários’, Manaus ganha primeiro cemitério indígena urbano do Brasil

O “Yane Ambiratá Rendáwa Bara Upé” está localizado no Cemitério Nossa Senhora Aparecida, bairro Tarumã, Zona Oeste da capital (Dhyeizo Lemos e Antônio Pereira/Semcom)

Com informações da assessoria

MANAUS – Nesta terça-feira, 19, dia voltado aos povos originários, Manaus ganha o primeiro cemitério indígena urbano do Brasil. O “Yane Ambiratá Rendáwa Bara Upé” está localizado no Cemitério Nossa Senhora Aparecida, bairro Tarumã, Zona Oeste da capital. O lugar conta com 216 gavetas, em cada um dos cinco módulos, totalizando 1.080 espaços no campo-santo.

A construção do cemitério e o projeto técnico-arquitetônico do campo-santo foram coordenados pela Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp), na gestão do então secretário Sabá Reis. Os trabalhos contam, ainda, com a participação da Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), na preparação das ocas, do jardim e da pintura do grafismo.

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“Esse trabalho começou há um tempo, na administração do nosso ex-secretário Sabá Reis, e depois de alguns meses nosso sonho se concretizou. O cemitério tem uma grande importância para as etnias indígenas aqui em Manaus. É o único cemitério nesta modalidade no Brasil. Isso terá um impacto positivo em nível nacional e até internacional“, destacou o titular da Semulsp, Altervi Moreira.

O cemitério está localizado no bairro Tarumã, Zona Oeste da capital (Dhyeizo Lemos e Antônio Pereira/Semcom)

Resgate da memória e gratidão

Durante a cerimônia, o prefeito David Almeida (Avante) declarou que a entrega do cemitério indígena é uma forma de manter a memória ancestral dos povos originários e importância de cada um para a história de Manaus.

353 anos de indiferença e esquecimento, e hoje estamos entregando esse cemitério indígena, que é o primeiro do Brasil, para que essa memória ancestral possa ser celebrada e cultuada. Nós queremos tratar a questão indígena de forma clara, de forma digna, e reconhecendo os donos dessa terra. Aqui está o meu reconhecimento, pelo trabalho, pela ancestralidade, pela importância de cada um. Manaus tem suas origens, nós somos herança dessa ancestralidade”, ressaltou o prefeito.

“Nós queremos tratar a questão indígena de forma clara“, declarou o prefeito de Manaus (Dhyeizo Lemos e Antônio Pereira/Semcom)

Na leitura da coordenadora da Copime, Marcivana Sateré-Mawé, o cemitério indígena significa cuidado e resgate quanto à importância dos antepassados. “Manaus é território indígena e eu gostaria de agradecer ao prefeito David e toda a Prefeitura pelo carinho, pelo apoio e, principalmente, pelo cuidado com a memória da cidade de Manaus. Agora, nós temos a possibilidade, por meio do cemitério, de trazermos essa memória, uma memória presente. O cemitério estará presente para nós e ficará para as gerações futuras”, ressaltou.

Reconhecimento e acolhimento

Para o presidente do Concultura, Tenório Telles, a entrega do cemitério é uma forma de responder positivamente às reivindicações dos grupos de indígenas. “Entre elas estava o anseio por um reconhecimento e acolhimento da memória das populações indígenas que vivem na cidade de Manaus”, relembrou Tenório.

O diretor-presidente da Manauscult, Alonso Oliveira, considerou o momento como um ato de reparação histórica e reconhecimento dos primeiros habitantes de Manaus. “Estamos entregando mais um importante projeto para os povos indígenas de nossa cidade, fruto de um trabalho integrado de diversas secretarias, com o aval do prefeito David Almeida”, afirmou.

O lugar conta com 216 gavetas, em cada um dos cinco módulos, totalizando 1.080 espaços (Dhyeizo Lemos e Antônio Pereira/Semcom)

Memorial Indígena

Em 2021, a Aldeia da Memória Indígena de Manaus foi inaugurada, com destaque para o resgate da sacralidade do lugar. A inauguração também marcou a comemoração do Dia dos Povos Indígenas. Localizada na Praça Dom Pedro 2, no Centro da capital amazonense, o memorial destaca a presença e importância dos povos tradicionais para a formação social e cultural da cidade.

Para o prefeito David Almeida, o lugar histórico é um pedido de perdão pela indiferença e invisibilidade a que foram submetidos os povos indígenas, desde os primórdios da cidade de Manaus. A construção honra os povos tradicionais que ali habitavam há mais de 800 anos, muito antes da presença de europeus em 1542, data do primeiro massacre da expedição espanhola comandada por Francisco Orellana.

Cerimônia de entrega do primeiro cemitério indígena urbano do Brasil (Dhyeizo Lemos e Antônio Pereira/Semcom)

Informações do Centro de Arqueologia de Manaus (CAM) mostram que o material arqueológico mais antigo, presente no sítio Manaus, é pertencente às fases Manacapuru (século 5 ao 9 d.C.) e Paredão (século 7 ao 12 d.C.).

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