No Dia Mundial do Doador de Sangue, Brasil tenta recuperar queda nos estoques causada pela pandemia

Desde o início do mês, Estados e municípios têm aderido à campanha “Junho vermelho”, que convida as pessoas para doar sangue. (Daiane Mendonça/Reprodução)

Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – Mesmo com a divulgação massiva por parte das instituições de Saúde sobre a necessidade da doação voluntária de sangue, sempre é necessário mais incentivo para que a prática continue comum entre os doadores mais assíduos e para recrutar novas pessoas. Neste Dia Mundial do Doador de Sangue, o Brasil tem mais a trilhar do que comemorar, diante da redução de 20% no número de doações em todo o País, como efeito da pandemia da Covid-19.

Para mudar o cenário, Estados e municípios aproveitam o mês de junho para combater a baixa nos estoques, utilizando a praticidade de aplicativos e outros mecanismos digitais, aderindo à campanha nacional “Junho Vermelho”.

Doação de sangue caiu 20% no Brasil em 2020, de acordo com o Ministério da Saúde. (Esio Mendes/Reprodução)

Queda nos estoques

As campanhas para incentivar doações são contínuas, porque a frequência da reposição das bolsas de sangue é crucial para tratar casos de cirurgias de urgência, câncer, complicações da dengue e doenças como anemias crônicas, febre amarela e várias outras.

Até março deste ano, o Ministério da Saúde (MS) contabilizava a queda de 20% nas doações de sangue em todo o País, em relação a 2020 comparado ao ano anterior, mas diz que só não houve desabastecimento justamente por conta de medidas adotadas para que os estoques não zerassem, como a suspensão temporária da realização de cirurgias eletivas e a transferência de milhares de bolsas de sangue entre os Estados brasileiros, por meio do plano nacional de contingência.

No ano passado, o Estado do Amazonas, no Norte do País, por exemplo, coletou 4,6% menos bolsas de sangue do que em 2019. Foram 2.500 coletas abaixo do registro de 54.300 bolsas em relação ao ano anterior.

Baixas

A baixa nas doações em 2020 se deu justamente por conta da pandemia da Covid-19, que trouxe a necessidade do isolamento social como medida preventiva e acendeu o alerta para muita gente a respeito das condições sanitárias da coleta do sangue e o medo de pegar a Covid-19 no processo – justamente o que as campanhas de bancos de sangue pelo País afora planejam quebrar. 

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“A pandemia trouxe medo no geral, pelas incertezas e a falta de informações a respeito do vírus. Eu, infelizmente, não pude doar sangue durante esse período devido a uma cirurgia que fiz em 2019. Porém, em outubro de 2020,  acompanhei minha esposa para fazer a doação e o ambiente estava seguro, seguindo todos os protocolos, tanto que eu mesmo me senti seguro ali”, conta à REVISTA CENARIUM o operador de estúdio José Paulo de Oliveira, de 28 anos, que vive em Itapoã, Distrito Federal.

José Paulo, de 28 anos, começou a doar sangue depois que foi incentivado pela esposa. (Reprodução/Arquivo pessoal)

José Paulo doou sangue pela primeira vez em 2016, incentivado pela esposa e acabou tomando gosto pelo nobre gesto. “Confesso que na minha primeira doação, eu não tinha muita consciência da importância que é. Depois, comecei a pesquisar e descobri quantas vidas são salvas com apenas uma doação e isso me fez ser um doador assíduo desde então”, explica. 

Mesmo assim, dentro do esperado

Hoje, 1,6%  da população brasileira doa sangue, índice baixo, mas que ainda está dentro do mínimo aconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, o MS diz ter investido R$ 1,5 bilhão em aquisição de medicamentos e equipamentos, reformas, ampliação e qualificação da rede de hemocentros em 2019. No ano seguinte, o investimento foi de R$ 1,6 bilhão. 

Junho Vermelho

Desde o início do mês, Estados e municípios têm aderido à campanha “Junho Vermelho”, que chama as pessoas para doar sangue, principalmente aquelas que nunca realizaram esse ato de amor ao próximo. A campanha também tem por objetivo aumentar a quantidade dos estoques, que tem sido afetada desde o início da pandemia.

Mesmo com quase 34 mil doadores de sangue em Cacoal (RO), apenas 3.704 doações foram registradas em 2020. (Frank Néry/Reprodução)

Em Cacoal, cidade a 705 quilômetros da capital de Rondônia, Porto Velho, acontece neste 14 de junho, a celebração do Dia Mundial do Doador de Sangue. A cerimônia tanto incentiva novos doadores quanto agradece aos parceiros já conhecidos no Hemocentro do município, com programação especial que se estende até a próxima sexta-feira, 18.

A unidade oferece café da manhã, camisetas e lembrancinhas. Hoje, exclusivamente, o atendimento é das 8h às 17h e segue das 7h15 às 12h no resto da semana. Já, na sexta, haverá sorteio entre todas as pessoas que fizeram doações durante os dias de programação.

Dos 85 mil habitantes cacoalenses, quase 34 mil estão cadastrados como doadores de sangue, mas, absurdamente, em todo o ano de 2020, foram apenas 3.704 doações e, de acordo com a Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado de Rondônia (Fhemeron), de janeiro até agora, foram pouco mais de 1.200.

Na palma da mão

Para facilitar o acesso às informações sobre a doação de sangue, locais de coleta em todo o Estado de Rondônia e tirar dúvidas, a Fhemeron, em parceria com o Instituto Cidades Inteligentes de Sorocaba (SP), criou o aplicativo “Sangue Amigo”, compatível com os aparelhos smartphone de sistemas Android e IOS. Nos últimos três meses, desde seu lançamento, foram 10 mil downloads.

No app também é possível agendar a doação de sangue. (Reprodução/Governo de Rondônia)

Para doar, é necessário:

  • ter entre 18 e 69 anos de idade (adolescentes de 16 e 17 anos poderão doar acompanhados dos pais ou responsáveis legais);
  • estar em boas condições de saúde;
  • ter peso acima de 50 kg;
  • estar alimentado, evitando alimentação gordurosa (aguardar três horas após o almoço);
  • homem pode doar até quatro vezes ao ano, em intervalos de 60 dias (dois meses);
  • mulher pode doar até três vezes ao ano, em intervalos de 90 dias (três meses)
  • Ter dormido pelo menos seis horas nas últimas 24 horas.

    “Para quem nunca doou, peço que faça a seguinte reflexão: pense que se algum parente ou amigo precisar, você pode ser o único responsável por salvar a vida dessa pessoa. É algo muito marcante. Sempre que eu saio do hemocentro, fico com isso em mente. Essa doação pode estar salvando uma vida e, indiretamente, de várias outras pessoas”, convida José Paulo.

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