‘Nós pedimos socorro’, diz rapper indígena do povo Guarani ao cantar em show de Nando Reis

A cantora indígena Anarandá fez um forte desabafo sobre as mortes de conterrâneos de Amambai, em Mato Grosso do Sul (Reprodução)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – A primeira rapper indígena da etnia Guarani-Kaiowá, Ana Lúcia Rossate, conhecida como MC Anarandá, pediu por socorro para seu povo em Amambai, que vem sofrendo uma série de ataques em Mato Grosso do Sul. Durante uma participação especial da artista no show de Nando Reis, no festival Prime Rock BH, em Belo Horizonte (MG), a cantora fez um forte desabafo sobre as mortes de conterrâneos.

Nós estamos pedindo socorro. O apoio de todos vocês, todos os artistas, chamando a atenção para que olhem para o nosso povo. O nosso povo está morrendo! A Amazônia está sendo atacada!”, desabafou Anarandá, questionando ainda o que tem sido feito para proteção dos povos tradicionais. No show, a cantora pede o “fim do derramamento de sangue indígena” e a demarcação de terras originárias.

Anarandá posou ao lado de Nando Reis (Reprodução)

A artista afirma, ainda, que antes do “Brasil da coroa, existe o Brasil do cocar” – referência a chegada dos colonos portugueses ao território brasileiro no século XV. Para os povos indígenas, o País não foi descoberto, mas invadido, pois antes dos estrangeiros entrarem no Brasil, já existiam populações tradicionais morando na região há séculos.

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Veja também: ‘‘Quero transmitir ao mundo a realidade do meu povo por meio da música’, diz primeira rapper indígena Guarani

Anarandá, que se vem destacando no meio artístico por utilizar a música para transmitir ao mundo a realidade do seu povo, teve o momento em que discursa compartilhado pelo próprio cantor Nando Reis com a legenda: “Um relicário imenso desse amor: antes do Brasil da coroa, existe o Brasil do cocar”. Confira o vídeo:

O encontro

Nando Reis e Anarandá se encontraram por intermédio da ativista indígena Célia Xakriabá, segundo relatou o artista. Nas redes sociais, o cantor descreveu que, ao ouvir os relatos e o canto da rapper, ficou ainda mais convicto de que o mundo está ao contrário. Na publicação, Reis afirmou que o “Brasil é sanguinário” e criticou o governo de Jair Bolsonaro (UB).

O Brasil é sanguinário. A matança das vidas e das culturas dos povos originários, que começou com a chegada dos portugueses e agora conta com o incentivo desse desgoverno, é de uma crueldade sem tamanho. Quem não vê isso, não há argumento, só há uma coisa a ser feita: enxovalhar essa escória em outubro!”, escreveu Nando Reis, no Instagram.

Povo indígena

Os indígenas da etnia Guarani-Kaiowá vêm sofrendo uma série de retaliações em Mato Grosso do Sul. Em junho deste ano, um homem, identificado como Vitor Fernandes, de 42 anos, morreu baleado durante um confronto com policiais militares em Amambai, no interior do Estado. Os relatos são compartilhados nas redes sociais pelas próprias lideranças da região e pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Veja também: Tropas de choque atacam comunidade Guarani e Kaiowá, em Mato Grosso do Sul, dizem indígenas

O episódio aconteceu em 23 de junho e se acirrou no dia seguinte, 24, após os indígenas ocuparem a a Fazenda Borda da Matam, que, segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), abrange parte do território Guapo’y, considerado pelos indígenas como ancestral. O caso envolveu um grupo de 30 indígenas da região e cerca de 100 militares.

Segundo o secretário de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, os indígenas ocuparam a propriedade rural e as tropas de choque foram acionadas para atenderem “ocorrência de crime contra o patrimônio e contra a vida” e para auxiliar na manutenção da paz. Ao chegar na região, os policiais militares afirmam que foram recebidos a tiros. Os indígenas, no entanto, negam.

Pedido negado

No dia 5 de julho deste ano, a Justiça Federal de Ponta Porã negou o pedido de fazendeiros para que indígenas Guarani-Kaiowá sejam despejados de uma propriedade rural em Amambai, no interior de Mato Grosso do Sul, onde o indígena Vitor Fernandes morreu por conta dos ataques. Na decisão, o juiz Thales Braghini Leão classificou a ação policial como “injustificada” e afirmou que a retirada à força rotularia a ocupação desses povos como “desordem”.

Na decisão dessa terça-feira, 5, o juiz Thales Leão afirma ainda que a determinação de retirada à força dos indígenas significaria que eles não teriam direito inerente ao local. No documento, o magistrado destaca que embora reconheça que os direitos dos fazendeiros, que conseguiram comprovar documentos de posse da terra, não desconsidera o argumento dos indígenas de que a propriedade fique em território ancestral.

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