‘Nós por nós mesmos’, destaca Iraildes Caldas em evento internacional sobre Amazônia na Ufam


22 de novembro de 2022
Iraildes Caldas é um dos mais respeitados nomes da ciência produzida nas salas e laboratórios da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) (Roger Matos/Revista Cenarium Amazônia)
Iraildes Caldas é um dos mais respeitados nomes da ciência produzida nas salas e laboratórios da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) (Roger Matos/Revista Cenarium Amazônia)

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – A Universidade Federal do Amazonas (Ufam) é palco do 5° Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Amazônia (SisCultura), que teve início nesta terça-feira, 22. O evento, que acontece até sexta-feira, 25, e vai contar com nomes de peso como o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine, a doutora e cotada para assumir um ministério para a Amazônia, Marilene Corrêa, e a doutora Iraildes Caldas, que concedeu uma entrevista à REVISTA CENARIUM.

O 5° Seminário de Sociedade e Cultura na Amazônia conta com a participação de renomados cientistas, estudantes e pesquisadores reunidos na Ufam (Roger Matos/CENARIUM)

Iraildes Caldas é professora titular da Ufam e coordenadora do evento. Doutora em Ciências Sociais/Antropologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Iraildes é autora de livros como “As Novas Amazônidas” e “Arquitetura do Poder: memórias de Giberto Mestrinho. Em entrevista para a REVISTA CENARIUM, ela comentou a dinâmica do seminário e a importância que a ciência produzida na Amazônia tem para as decisões sobre a própria Amazônia.

“O SisCultura é um evento internacional com uma temática totalmente amazônica que acontece a cada dois anos. Uma iniciativa que tem trazido reflexões sobre a problemática amazônica. A cada dois anos, debatemos sobre temas, e nesta edição vamos trabalhar sobre os rumos da ciência na Amazônia”, destacou. “Como passamos por um período de contestação da ciência, resolvemos colocá-la no centro do debate, e para esta edição estamos em parceria com a SBPC, Capes e com pesquisadores do Inpa, Ufam e outras instituições de ensino e pesquisa. É iniciativas como essa que a Amazônia precisa para ser respeitada”, observou.

Uma plateia atenta acompanhou os debates e as opiniões defendidas por cientistas presentes no seminário realizado na Ufam (Roger Matos/CENARIUM)

Conhecimento

Para Iraildes Caldas, o fato de ter inúmeros representantes do Amazonas na equipe de transição do Governo Lula demonstra que o conhecimento é a melhor alternativa para a região. “Pela primeira vez, se reconhece, no Amazonas, sujeitos importantes. Agentes da ciência, representantes dos movimentos sociais, representantes dos povos indígenas. Pela primeira vez, temos representantes da economia solidária, cujo expoente é a Tatiane Valente. Temos também a representatividade de gente como Marivelto Baré, da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). Isso é único”, comemorou.

Questionada se a postura de entender a Amazônia, a partir do conhecimento dos amazônidas, fez parte dos entendimentos políticos e administrativos nacionais, ela ponderou: “Acredito que estamos numa fase de transição. Que essa postura está começando a ser incorporada, ainda que com certa lentidão”, avaliou. Para Iraildes Caldas, os avanços científicos estão ajudando a mudar esse comportamento. “Houve uma proliferação de programas de pós-graduação na nossa região. Temos uma produção científica ‘de dentro’. Uma série de teses de doutorado, ou seja, nós amazônicos, por nós mesmos”, afirmou.

Presente ao evento, a pesquisadora Marilene Corrêa, que faz parte do grupo de transição do Governo Lula, e é cotada para assumir um ministério, posou ao lado de Iraildes Caldas (Roger Matos/CENARIUM)

Produção

A cientista destaca números de produção. “Nós temos que conquistar mais espaço. Para se ter uma ideia, o doutorado em Sociedade e Cultura na Amazônia está contribuindo enormemente. Com seu novo edital e com as novas turmas reabilitadas vamos contribuir ainda mais. Já produzimos cerca de duzentas teses de doutorado. Com novas turmas, vamos ampliar ainda mais esse olhar. Isso por si só já é uma monta de conhecimento, um verdadeiro inventário sobre a nossa região”, avaliou Iraildes.

Para Caldas, esse leque tende a se ampliar em outros programas de pós-graduação. “A tendência é aumentarmos os programas de pós-graduação para construirmos a ideia de uma ‘Amazônia daqui’. Temos que ser reconhecidos como vozes daqui. Temos que ser reconhecidos como produtores de conhecimento. Como amazônicos que pensam e conhecem seu mundo”, finalizou.

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