Novo centro de saúde em RR beneficia dez mil indígenas Yanomami
Por: Fred Santana
14 de setembro de 2025
MANAUS (AM) – O Território Yanomami, em Roraima, testemunhou no último dia 6 de agosto um marco histórico para a saúde indígena no Brasil. O primeiro Centro de Referência em Saúde Indígena (CRSI Xapori Yanomami), localizado em Surucucu, foi inaugurado pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para ampliar e qualificar o atendimento às comunidades. O investimento federal é de aproximadamente R$ 29 milhões, dividido entre construção, equipamentos e custeio de profissionais.
A nova estrutura vai beneficiar cerca de dez mil indígenas de 60 comunidades, reduzindo a necessidade de transferências para hospitais em centros urbanos e garantindo que casos agudos e graves sejam atendidos no próprio território. Imagens do local mostram redes estendidas para os pacientes que procuram atendimento médico na unidade.
Durante visita ao local, o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana, Júnior Hekurari, destacou a importância do novo hospital. Segundo ele, os profissionais de saúde passaram a atender os pacientes Yanomami em novas condições de espaço e organização. A liderança mencionou que anteriormente os atendimentos eram realizados em locais menores e que a atual estrutura oferece maior capacidade tanto para os profissionais quanto para os usuários dos serviços.
“Estamos no segundo dia de funcionamento após a visita técnica do ministro. Os profissionais de saúde estão atendendo nossos pacientes Yanomami em melhores condições, com mais espaço e organização. Antes, trabalhávamos em locais pequenos, mas agora temos uma estrutura maior, o que traz mais qualidade tanto para os profissionais quanto para os pacientes”, celebrou.

Hekurari afirmou, ainda, que o hospital representa um avanço importante e disse esperar que ele se mantenha, com mais funcionários e melhor suporte, para atender a população. “Os pacientes relatam que estão bem, dormiram melhor, embora ainda falte lençol para complementar as redes fornecidas pelo governo. Esse é o nosso hospital, um sonho realizado para o povo Yanomami”, declarou.
Estrutura do Centro Xapori
O CRSI Xapori Yanomami possui mais de 1.300 m² de área construída, com capacidade para acolher até 120 pacientes e acompanhantes, o centro reúne 164 profissionais, entre equipes de saúde (114), logística (40) e infraestrutura e saneamento (10). As especialidades incluem médicos clínicos e especialistas, cirurgiões-dentistas, agentes indígenas de saúde e técnicos de enfermagem.
Os serviços oferecidos incluem exames laboratoriais, raio-x, ultrassonografia, eletrocardiograma, doppler fetal, testes rápidos para malária, pré-natal, exames preventivos de câncer do colo do útero, além de salas de estabilização com suporte para oxigenoterapia e carrinhos de emergência. O centro também conta com sistemas sustentáveis de energia, abastecimento de água e geradores.
Apoios e parcerias
O projeto é fruto de um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre o Ministério da Saúde, a Central Única das Favelas (Cufa) e a organização Target Ruediger Nehberg Brasil. Também recebeu apoio do Exército, da Conab, do Ministério da Defesa e do Ministério de Minas e Energia.
Padilha destacou que a obra marca o retorno do investimento federal após décadas de estagnação. “A última construção aqui foi em 1992. Estamos trazendo a saúde da terra indígena Surucucu para o século XXI, com equipamentos modernos, melhores condições de trabalho para os profissionais e acolhimento digno para a população indígena”, afirmou o ministro
Resultados preliminares
Dados do Ministério da Saúde mostram que, em dois anos, houve redução de 33% no número de óbitos no território Yanomami. As mortes por doenças respiratórias caíram 45%, por malária 65% e por desnutrição 74%. A ampliação da força de trabalho foi determinante: em 2022, havia 690 profissionais atuando no território; em 2025, são 1.855.
No primeiro semestre de 2025, mais de 154 mil atendimentos já foram realizados, e quase 80% das crianças menores de cinco anos passaram a ser acompanhadas pela Vigilância Alimentar e Nutricional.
Da crise à reconstrução
O novo centro e os avanços na assistência contrastam com a grave crise sanitária enfrentada pelo povo Yanomami durante o governo Jair Bolsonaro (2019–2022). Naquele período, denúncias de abandono, falta de medicamentos e ausência de profissionais de saúde se multiplicaram. Comunidades relataram mortes de crianças por desnutrição e doenças evitáveis, além da intensificação da malária.

Em 2023, a situação levou o governo federal a declarar Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN). Uma força-tarefa foi criada, reunindo diversos órgãos para enfrentar o cenário de insegurança alimentar, surtos de doenças e precariedade nos polos de atendimento.
Desde então, cerca de R$ 256 milhões foram investidos na recuperação e melhoria da infraestrutura de saúde indígena, resultando em maior presença de profissionais e no funcionamento integral dos 37 polos do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami.
A inauguração do CRSI Xapori Yanomami simboliza, portanto, a transição de um período de grave vulnerabilidade para um momento de reconstrução da rede de saúde indígena no País.