Número de mortes em Mianmar ultrapassa 1.600 após terremoto
Por: Cenarium*
29 de março de 2025
SÃO PAULO (SP) – O terremoto de magnitude 7,7 que atingiu Mianmar na sexta-feira, 28, já deixou pelo menos 1,644 mortos, segundo o último balanço das autoridades locais. Para ajudar nas buscas por sobreviventes do tremor, um dos maiores a atingir a nação no último século, a junta militar que governa o país no Sudeste Asiático permitiu a entrada de socorristas estrangeiros neste sábado, 29.
O Serviço Geológico dos Estados Unidos estima que o número de vítimas em Mianmar pode passar de 10 mil. Sem equipamentos e maquinários adequados para resgate, os sobreviventes do desastre em Mandalay, a segunda maior cidade do país, cavam com as próprias mãos para tentar salvar pessoas que ainda estão presas sob os escombros.
Segundo mianmarenses ouvidos pela agência de notícias Reuters, a resposta em Mandalay não tem sido suficiente diante da destruição provocada pelo terremoto. “Muitas pessoas estão presas, mas não há ajuda a caminho simplesmente porque não há mão de obra, equipamentos ou veículos”, disse um morador da cidade, pedindo para não ser identificado por questões de segurança.
Sobreviventes
Htet Min Oo, de 25 anos, foi resgatado por outros moradores debaixo de uma parede que prendia metade de seu corpo. Ele buscou pela avó e por dois tios dos destroços de um prédio, mas não conseguiu escavar. “Há muitos escombros, e nenhuma equipe de resgate veio nos ajudar”.
À agência AFP, um funcionário da Cruz Vermelha afirmou neste sábado que mais de 90 pessoas podem estar soterradas nos destroços do Sky Villa Condominium, um prédio residencial de 12 andares em Mandalay.
País em crise
Mianmar está em crise desde 2021, quando o Exército deu um golpe de Estado e depôs o governo civil eleito. Agências humanitárias avaliam que o tremor ocorreu em um momento de alta vulnerabilidade para o país, em contexto de violência generalizada e sistema de saúde sobrecarregado por surtos de cólera e outras doenças.
“O estresse adicional de atender às necessidades daqueles que foram feridos no terremoto vai causar uma tensão sem precedentes em recursos já escassos”, disse Mohammed Riyas, diretor do Comitê Internacional de Resgate em Mianmar.
Em janeiro, a Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que o país enfrentava uma crise múltipla, marcada por colapso econômico, conflito intensificado, riscos climáticos e pobreza crescente. Mais da metade do país não tem acesso à eletricidade, e hospitais em zonas de conflito estão fora de serviço.
Ajuda de fora
Em Rangoon, capital comercial de Mianmar, uma equipe de resgate chinesa desembarcou no aeroporto e viajará de ônibus até o interior do país, segundo a mídia estatal. Suprimentos enviados pela Índia também chegaram em uma aeronave militar, e espera-se aviões com ajuda da Rússia, da Malásia e de Singapura.
A Coreia do Sul disse que fornecerá uma ajuda humanitária inicial de US$ 2 milhões (cerca de R$ 11,5 milhões) por meio de organizações internacionais. O dirigente da China, Xi Jinping, afirmou que Pequim encaminhará o equivalente a US$ 13,77 milhões (R$ 79,4 milhões), incluindo tendas, cobertores e kits médicos de emergência. Os Estados Unidos, que têm uma relação tensa com a junta mianmarense, afirmaram que oferecerão alguma assistência.
Aeroportos (incluindo os internacionais de Naypyitaw e Mandalay), pontes e rodovias estão paralisados. Uma avaliação inicial do Governo de Unidade Nacional da oposição de Mianmar, que reúne remanescentes do governo civil deposto por militares no golpe de 2021, estima que pelo menos 2.900 edifícios, 30 estradas e sete pontes foram danificados pelo terremoto.
Tailândia afetada
Em Bancoc, na Tailândia, onde nove pessoas morreram devido ao tremor, uma operação de resgate usa escavadeiras, drones e cães de busca para encontrar 47 desaparecidos no local em que uma torre de 33 andares que estava em construção desabou.
Até 5.000 estruturas, incluindo prédios residenciais, podem ter sido danificadas na capital, segundo Anek Siripanichgorn, membro do conselho do Conselho de Engenheiros da Tailândia.
Khin Aung, operário mianmarense que trabalhava na obra tailandesa, conta que saiu do local minutos antes do desabamento. Mas o irmão dele, assim como muitos amigos, ainda está sob os escombros do arranha-céu, que seria destinado a escritórios do governo. Os dois trabalhavam em Bancoc há seis meses.
“Não consigo descrever como me sinto. Tudo aconteceu num piscar de olhos. Fiz uma videochamada para meu irmão e amigos, mas apenas um respondeu. Não consegui ver seu rosto e ouvia que ele estava correndo. Naquele momento, todo o edifício tremia, mas eu ainda estava na ligação com ele. A chamada caiu e o edifício desabou”, conta.
Familiares dos trabalhadores se reuniram ao redor dos destroços neste sábado aguardando notícias.