O avanço do garimpo em Roraima

É inegável o avanço sistemático e agressivo da atividade de garimpo ilegal no Estado de Roraima, mais precisamente em terras Yanomami. A disputa por terra arrisca a vida de muitos indígenas e trabalhadores que lutam para se sustentar em condições, muitas vezes, precárias.

Semelhante ao Serra Pelada, maior garimpo a céu aberto da década de 80, o nível de destruição ambiental no primeiro trimestre de 2021 chegou a 200 hectares, que é o equivalente a 10% de desmatamento registrado nos últimos 10 anos.

Atualmente, a atividade ocupa cerca de 240 campos de futebol em terra indígena. O que antes era feito de forma sucinta, hoje em dia, já mobiliza uma estrutura organizada de financiamento e produção de matéria prima. Com máquinas tecnológicas, garimpeiros realizam atividades de extração em leitos de rios, causando principalmente, danos ambientais graves.

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Com estimativa de 20 mil garimpeiros vivendo em terras indígenas, segundo a Hutukara Associação Yanomami (HAY), a invasão também traz riscos à saúde dos povos tradicionais, que acabam sendo expostos a inúmeras doenças. Durante a pandemia da Covid-19, muitos foram contaminados por conta do contato próximo aos infectados, gerando mais um problema a ser resolvido.

Resistindo da maneira que podem, as lideranças indígenas procuram formas de proteger seu povo da atividade ilegal, como pontua o vice-presidente da HAY, Dario Yanomami. ‘’Os garimpeiros continuam sujando os rios, se organizando e ameaçando nossos parentes. Está do mesmo jeito. Já fizemos muito barulho sobre os invasores e a retirada deles e agora estamos esperando que essas operações façam a diferença no território, porque os indígenas estão vivendo limitados”, comenta Dario.

Recorrendo ao Ministério Público Federal, os indígenas se mobilizam por meio de ações para chamar a atenção para a pauta que já se arrasta por anos. ‘’ Essa movimentação é para que o governo federal retire os garimpeiros da terra Yanomami. Estamos até mesmo fazendo articulações internacionais para que outros países também pressionem o Brasil para isso ser resolvido’’, destaca o vice-presidente da HAY.

Buscando dar apoio aos povos tradicionais, a Polícia Federal tem realizado constante vistoria das terras indígenas, para proteger e verificar o movimento dos invasores. Durante uma revista, foram localizados pontos de residências e comércios, basicamente, uma cidade em construção.

As constantes guerras por território ganham manchetes de jornais e vídeos ganham visualizações por conta da violência exercida. Em maio de 2021, garimpeiros invadiram uma aldeia indígena portando armas e atirando contra mulheres e crianças; posteriormente, o ataque foi revidado e o embate ainda se encontra em situação conturbada.

A descoberta de infiltrações de integrantes de uma facção bastante conhecida no Brasil demonstrou a dimensão do problema que estamos enfrentando. A terra agora atrai todo e qualquer tipo de público, que busca formas de aumentar sua fonte de renda. Esses integrantes chegaram a trocar tiros com a PF, o que não era comum na região.

Através de vídeos publicados em redes sociais, garimpeiros se orgulham do trabalho que exercem, como o desvio de rios. A atividade gera dinheiro e emprego, mas ao mesmo tempo, impactos irreversíveis são causados à fauna local. Ainda que o exercício ganhe força em debates, precisamos colocar em equilíbrio os prós e contras que são oferecidos a nós como população brasileira.

Recentemente, vemos a notícia que o Ministério Público Federal investiga a morte de crianças que morreram próximas à maquinas de garimpo. A atividade, se não acompanhada, pode aumentar o número de mortos por acidentes, pois é difícil o acesso médico nessas áreas.

Mudanças drásticas e rápidas precisam ser tomadas para, no mínimo, proteger a comunidade indígena de ataques. Tanto a terra quanto quem originalmente vive no lugar precisam ser resguardados, pois as consequências podem ser difíceis de reverter. Enquanto isso, a atividade de garimpo em Roraima caminha por águas turvas e constante conflito.

(*) O autor é diretor-presidente do Sistema Previdenciário do Amazonas (Amazonprev) e professor na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), tem Doutorado em Administração Pública, é graduado em Administração de Empresas e em Direito.

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