‘O canto da Amazônia’: Djuena Tikuna ganha destaque ao cantar a cultura de seu povo

Djuena Tikuna desenvolve sua arte desde a juventude e tem conquistado espaços nacionalmente e em outros países (Reprodução/DIEGO JANATA)

Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Na aldeia Umariaçu, localizada no município de Tabatinga, no Amazonas, a 1.110 quilômetros de Manaus, nasceu Djuena Tikuna. Do seio da maior nação indígena do País, surgiu uma das maiores cantoras indígenas da atualidade. Hoje, Djuena se tornou referência ao cantar a cultura do seu povo, buscando manter viva, por meio da arte, a história, identidade e cultura dos povos originários, assim como colocá-los como protagonistas na música. 

Ainda na juventude, Djuena desenvolveu sua arte ao acompanhar as manifestações culturais dos rituais de luta do movimento indígena amazônico. Quando morou em Manaus, descobriu o teatro e, após a primeira aparição nos palcos, participou de outras montagens, inclusive, no cinema, interpretando e compondo trilhas sonoras.

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É a primeira jornalista indígena formada no Amazonas e se tornou pesquisadora da musicalidade do povo Tikuna. Como palestrante, divide suas impressões sobre a temática da musicalidade indígena e de todo esse universo cultural produzido pelos povos originários, procurando sempre lutar em prol da quebra de paradigmas e estereótipos.

“Hoje, nesse atual cenário que nós, povos indígenas, estamos vivendo, cada liderança, cada artista indígena, coloca-se em um cenário de luta. Então, eu, enquanto artista indígena, cantora indígena, tenho me colocado para falar da nossa luta, da violação dos nossos direitos, principalmente, desse governo genocida que a gente enfrenta”, diz ela.

Ainda conforme explica Djuena à REVISTA CENARIUM, ela acredita que o seu papel, enquanto artista e liderança, é ecoar as vozes. “Enquanto cantora, me manifesto por meio da minha cultura e arte porque a arte também é política. Por meio do canto, eu transmito a mensagem de que o meu povo existe e resiste. Esse é o caminho que eu estou seguindo com as outras lideranças, com os movimentos indígenas que estão nessa caminhada de resistência. “A nossa luta não começou ontem, já está aí há mais de 500 anos”, lembra ela.

Visibilidade

Ainda segundo a cantora, por muito tempo, os indígenas foram invisibilizados e silenciados, mas hoje as coisas mudaram, principalmente com a ocupação de espaços como as redes sociais. 

“Hoje, nós estamos conectados nas redes sociais. Temos espaço de fala, onde muitos jovens têm oportunidade de mostrar e afirmar quem são eles, sem perder as raízes e culturas. Estão mostrando quem nós somos, os nossos cantos, nossos rituais, a nossa diversidade. Hoje, nós temos jornalistas, advogados, médicos, enfermeiros, temos indígenas sendo protagonistas, e isso é muito importante”, acrescenta Djuena. 

Carreira

Desde criança, Djuena tinha em quem se espelhar. A avó materna sempre cantou canções improvisadas e a mãe é cantora do grupo Wotchimaücü. Foi então que ela se inspirou e resolveu mostrar a sua voz. Ao lado dos irmãos, montou o grupo Magüta, para se apresentar na feira Puka’a – Mãos da Mata, uma antiga feira indígena que acontecia no Centro Histórico de Manaus.

“A cultura é a força dos nossos ancestrais e a afirmação da nossa identidade. Esses são os ensinamentos que a minha avó me passou, que a minha mãe me passou. Esse é o caminho que eu continuo seguindo. São os nossos cantos ancestrais”, enfatiza ela.  

A partir de então, a carreira da “filha dos Tikuna” ascendeu. Djuena participou da coletânea “Cantos Indígenas (2008)”, um trabalho que reuniu vários grupos de músicos indígenas de Manaus. Colaborou, ainda, com diversos festivais e eventos, como a RIO+20, Festival da Música Cidade Canção (Femucic), em Maringá (PR), Bienal de Cinema Indígena, Feira Literária Indígena, entre outros.

Na área do cinema, além de ter interpretado papéis em diversas produções locais, assinou parte da trilha sonora de algumas produções como: “Cachoeira” e “Floresta de Jonathan”. Como pesquisadora de música indígena, produziu o documentário “Wiyaegü: a música Tikuna”, um projeto que mostra um panorama das principais manifestações musicais desse povo. 

A cantora ainda celebra parcerias interessantes, como com o cantor japonês Ysuke, que veio a Manaus gravar com a cantora, além de Daniela Mercury e Marlui Miranda. A artista idealizou, ainda, a 1ª Mostra de Música Indígena do Amazonas (Wiyae), evento que contou com a participação de 20 grupos indígenas, representando várias regiões do Amazonas.

Em 2017, Djuena lançou seu primeiro disco, o “Tchautchiüãe (Minha Aldeia)”, que lhe rendeu uma indicação ao Indigenous Music Awards, que acontece, anualmente, em Winnipeg, no Canadá. Já em 2019, ela lançou seu mais recente trabalho, “Wiyaegü”, um livro CD em homenagem ao seu povo. Com esse projeto, saiu em turnê pela Europa, participando de festivais e realizando concertos próprios.

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