O desgaste em tempo recorde de David Almeida nas redes sociais tem um forte aliado: ele mesmo

Em um mês de gestão, David Almeida fez o suficiente para garantir um pedido de prisão feito pelo Ministério Público Estadual (Reprodução/ Internet)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Há um ditado que diz: “o que os olhos não veem, o coração não sente”. Em tempos de ativismos nas redes sociais, os olhos veem e o coração sente sim! Que o diga o prefeito David Almeida, que no primeiro mês de governo amargou um desgaste sem precedentes na história política de Manaus. A internet é a sala de imolação do prefeito, mas as redes sociais contam como um sabotador que lhes fornece muita munição: o próprio.

Fotos, vídeos, postagens, denúncias, decisões de diário oficial, tudo vai parar nas redes sociais. Para completar o molho, existem as coletivas de imprensa sofríveis onde David ora se esquiva das responsabilidades, ora culpa ‘milícias digitais’ que o ‘caçam na internet’. Mas, se olhar bem, David Almeida perceberá que são secretários, funcionários, apadrinhados esvaziados de poder político e até filhas de empresários aliados, que o derretem em praça pública.

PUBLICIDADE

A reportagem da REVISTA CENARIUM conversou com especialistas em marketing digital e comunicação para entender o fenômeno de desgaste em tempo recorde que se abate sobre o novo prefeito de Manaus. Os doutores Allan Rodrigues, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e Cris Guimarães, especialista em marketing digital com ênfase no estudo de discursos políticos no ambiente digital, avaliaram o desempenho do prefeito.

Entender a realidade

Para o doutor em comunicação Allan Rodrigues, David Almeida precisa cair na realidade. “O advento da internet ampliou as possibilidades de fiscalização dos atos do poder público. Essa fiscalização é crucial para a democracia representativa. Os cidadãos, a imprensa e qualquer órgão fiscalizador, como o Ministério Público, hoje podem acessar diversas informações que antes demandaria tempo e até mesmo autorizações daqueles que seriam fiscalizados”, apontou.

De acordo com Rodrigues, se David Almeida está fazendo tudo em consonância com o que reza o manual de boas práticas republicanas, ele não tem o que temer. “O prefeito ou qualquer outro ocupante de cargo público, que em última instância serve à sociedade, não deve temer, estranhar ou se incomodar com a fiscalização caso trate corretamente a coisa pública. Vale para esse caso a velha máxima: quem não deve, não teme!”, asseverou.

Em coletivas, o prefeito acusa ‘milícias digitais’ de o perseguirem. Para Allan, esse argumento não se sustenta. “No caso das denúncias de vacinação irregular e de nomeação de correligionários para cargos públicos na área da cultura não se verifica a prática de fake news ou ação de robôs ou milícias, pois as denúncias são facilmente verificáveis no Diário Oficial do Município e na confissão feita pelas médicas em suas redes sociais”, alertou.

Desautorizar é preciso

Já a doutora em marketing digital, Cris Guimarães, que estuda discursos políticos nas redes, atitudes exibicionistas nas redes, principalmente quando se tratam de temas sensíveis à coletividade, devem ser repelidas. “Quando temos representantes que não desautorizam atitudes como essas, mas estimulam, por meio de discursos em redes sociais, ocorre uma legitimação que nunca devia ser praticada: o desamparo social”, lamentou.

Segundo Cris, o gestor deve ter uma visão clara sobre os processos que geram eficiência e refutar recursos que esbarram na censura como por exemplo: proibir fotos no ambiente de trabalho. “O que temos acompanhado são idas e vindas de decisões que, ao invés de serem encaradas como uma comunicação institucional séria e formal, acabam se apresentando como “conversa-fiada entre conhecidos numa mesa de bar”, criticou.

Questionada sobre que postura um bom governante pode tomar nas redes sociais, para garantir credibilidade diante do público, Cris Guimarães apontou: “Ser transparente, ter bom senso e ser comprometido com o coletivo”, sustentou. Para ela, não existe dubiedade na vida pública. “Se você se apresenta assim no espaço físico, certamente levará isso para o digital. Não há tempo que sustente dois posicionamentos distintos”, garantiu.

Erros apontados

Em um mês, o atual prefeito de Manaus, David Almeida, garantiu o insólito. Foram tantos erros que o gestor tem no seu encalço um pedido de prisão do Ministério Público Estadual (MPE), sob análise da Justiça Federal.

Entre as falhas apontadas está o caso da vacinação de duas médicas recém-formadas que não estavam na linha de frente do combate à Covid-19, no dia 19 de janeiro. As duas postaram foto triunfante nas redes sociais e geraram revolta entre a população e os profissionais que realmente estão na linha de frente.

Médicas nomeadas num dia e vacinadas no outro, David Almeida provou que, quando quer, a PMM sabe fazer vacinação-relâmpago (Reprodução/ Internet)

No dia seguinte à foto, o prefeito convocou uma coletiva onde lamentou o estresse que a polêmica causou no emocional das jovens médicas e ainda tentou justificar o salário ‘baixo’ de aproximadamente R$ 8 mil, como algo que deve ser levado em conta. David também informou que as jovens estavam na linha de frente.

Após a repercussão negativa da publicação das fotos no momento que eram vacinadas, David Almeida baixou um decreto proibindo fotografias nos ambientes de trabalho da prefeitura, principalmente nos de saúde. A infeliz iniciativa virou piada nacional já que ao invés de proibir o ilícito, David Almeida proibiu fazer a foto do mesmo. Traduzindo: fazer o errado pode, só não pode fotografar. A medida foi encarada como censura.

Filho de Wanderley Dallas (centro) entre o prefeito David Almeida (dir.), e o pai (esq.) (Reprodução/ Internet)

Mas a campanha contra a postagem de fotos nas redes sociais não resultou em sucesso porque outro personagem entrou em cena para mais um capítulo da novela ‘Fura-Filas’ em Manaus. A bola da vez foi o médico David Dallas, filho do ex-deputado estadual Wanderley Dallas (Solidariedade). Dallas assim como David Almeida são de correntes evangélicas e sempre tiveram uma proximidade política. Mais uma vez o prefeito de Manaus foi para os trends nas redes sociais.

O prefeito de Manaus nomeou na surdina três vereadores derrotados para a fundação Manaucult, órgão que cuida da pasta da cultura no município. Os mesmos entendem de cultura o equivalente ao peso da gravidade na lua: zero. As nomeações foram descobertas no Diário Oficial do Munícipio (DOM) que pode ser acessado a qualquer hora e por qualquer celular. A classe artística fez barulho e David teve de recuar.

Carlos Portta (esq.), David Almeida e Reizo Castelo Branco (dir.) (Reprodução/ Internet)

Ainda entre as nomeações polêmicas, veio a de Tarciana Marques Evangelista de Almeida para a Casa Civil. Tarciana é mulher do vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida (sem partido). A segunda-dama foi notícia quando armou um verdadeiro barraco no final de 2020, em uma ciclovia no bairro Ponta Negra.

Nomeação de Tarciana Marques para a Casa Civil acendeu um debate nas redes sociais: com histórico de comportamento pouco amistoso, será ela a articular a harmonia entre o prefeito e o povo? (Reprodução/Internet)

Outra medida que ajudou a popularizar o prefeito na galeria de memes foi a nomeação de seu sobrinho Derick Almeida ao cargo de secretário especial da Câmara Municipal de Manaus (CMM). Com um salário de R$ 15 mil, a nomeação foi efetivada pelo presidente David Reis (Avante). Analistas sentiram forte cheiro de nepotismo cruzado, já as redes sociais entenderam que Derick é apenas um rapaz de ‘sorte’.

Derick Almeida (centro) foi nomeado em cargo comissionado com salário acima de R$15 mil pelo prefeito David Almeida (esq.) para trabalhar com David Reis (dir.) (Reprodução/ Internet)

Para completar, a REVISTA CENARIUM, em furo de reportagem, descobriu dez CPFs falsos na lista que a prefeitura foi obrigada a fornecer ao Ministério Público. A denúncia ajudou a engrossar as suspeitas de que algo muito estranho estaria acontecendo com as vacinas destinadas ao Amazonas. A juíza federal Jaíza Fraxe pediu a suspenção da vacinação. A desorganização foi tanta, que o Ministério Público Estadual (MPE) pediu a prisão de David Almeida, da secretária Shadia Fraxe, do secretário Sabá Reis e de mais outros 19 servidores.  

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.