O efeito eleições

“O ingrediente mais importante na fórmula do sucesso é saber lidar com pessoas”, assim inicia o livro  “O Efeito Zico – Como obter índice de rejeição zero na sua profissão”, rubro-negro desde criancinha que sou não poderia deixar de fora a leitura desta obra, focada em grande parte na trajetória de sucesso do atleta, treinador e empresário Arthur Antunes Coimbra, trazendo noções fundamentais sobre liderança,  trabalho em equipe, exemplo, superação,dentre outros elementos importantes para a construção de uma carreira de êxito, independente de segmento ou profissão.

Justamente essa característica, lidar com pessoas, chamou a atenção deste articulista para o período pré-eleitoral (e daqui a pouco eleitoral) em que vivemos, afinal se pararmos para pensar friamente, eleições são nada mais do que as escolhas feitas por pessoas que foram conquistadas ou convencidas a depositar sua confiança na gestão da pólis em candidatos representantes dos mais variados pensamentos, ideologias ou mesmo benesses.

E é sobre exatamente isto que encontramos maior destaque no espectro pré-eleitoral. as benesses, o pacote de bondades dos gestores, aberto na véspera das eleições, as tentativas de “mostrar trabalho” nos meses que antecedem a ida às urnas, as atitudes, projetos e atividades que fazem o eleitor querer viver sempre em ano eleitoral, afinal de contas parece que é somente neste que as coisas são resolvidas, os outros anos são para “articulações” e “discussões” muitas vezes sem fim e em outras tantas inócuas para a vida dos cidadãos.

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O que doravante resolvemos chamar de “Efeito Eleições”, fenômeno que ocorre em todo final de mandato, seja do Executivo, Legislativo ou de entidades de classe como a Ordem dos Advogados do Brasil, caracteriza-se pelo impulso de fazer em pouco tempo aquilo que deveria ter sido realizado nos anos iniciais de mandato, geralmente observado no “gás” injetado em atividades que seriam de outra maneira corriqueiras como:  asfaltamento de ruas, limpeza, recolhimento de lixo, no caso do Executivo municipal; pedidos de CPI, encaminhamentos legislativos, projetos de lei, moções as mais variadas, no caso do Legislativo e inaugurações, visitas a autoridades, tentativas de aproximação com a classe com a concessão de homenagens, maior ênfase na defesa de prerrogativas, discursos efusivos carregados de palavras de ação, no caso específico da Ordem.

Quer parecer que outra característica intrínseca deste fenômeno dá-se com a o gestor de plantão contar com a sua memória seletiva e/ou o esquecimento de seu eleitorado, o “esquecimento” de que nos anos prévios ao ano eleitoral nada ou muito pouco foi feito a justificar a permanência ou continuidade no mandato, o famoso “estava arrumando a casa”, “traçando o planejamento estratégico” ou “fazendo o levantamento das prioridades”, em geral esse pensamento vem acompanhado igualmente conhecido “nunca antes se fez tanto, mas faremos muito mais”, “sempre estive atento às necessidades, agindo nos bastidores” , dentre outras frases de efeito a tentar justificar o acelerar de obras e planos para que se “veja o trabalho” sendo feito.

Se de um lado deste fenômeno, digamos em seu pólo ativo, há aqueles que usam deste expediente para manter o seu eleitorado e conquistar os votos para continuidade de sua gestão, em extremo oposto, no pólo passivo, há o eleitor, aquele que irá escolher, o que porventura poderá ser enredado ao pensamento de que a política “sempre foi assim”, “melhor aproveitar os benefícios do último ano do que nenhum” ou mesmo os que deliberadamente transacionam seu apoio ou voto a depender da fatia do pacote de presentes ofertado, algo como “não asfaltou a minha rua, mas o aniversário da cidade teve atração internacional”, “não prestou contas, mas as festas nos dois primeiros anos de mandato foram boas”, “não apresentou qualquer projeto para melhorias, mas faz parte do grupo ou é amigo da autoridade A ou D”, em suma troca-se o futuro e a importância de uma boa gestão para todos por migalhas individuais no presente.

Neste momento o leitor e sobretudo eleitor mais atento deveria se perguntar como fazer para identificar este fenômeno, fácil (mas não tão fácil) responde o articulista, um líder de verdade, acima de tudo, é transparente em suas ações e precisa dar o exemplo, basta então observar que exemplo está-se vendo: de candidatos que pensam e apostam na suposta ingenuidade do eleitor, que pretendem tirar proveito do fato de que apesar de nada ou muito pouco ter sido feito no início da gestão, basta “passar uma tinta”, “maquiar” um pouco agora que estará tudo certo, que o nível de entretenimento vai ser tanto que não haverá como se questionar a falta de atenção a assuntos de maior relevo ou mesmo que o pretenso candidato ao lançar obras (de duvidoso benefício real ao eleitorado) irá suplantar o que deixou de ser feito e servirá de mote para uma suposta continuidade, afinal obra iniciada tem que ser concluída, dirão.

Quem dera todos os anos de gestão fossem iguais ao ano eleitoral, o que chamamos aqui de “Efeito Eleições” se faria mais presente entre nós, quem sabe veríamos verdadeiros avanços, obras concluídas, prestação de contas, fiscalização, atuação não pontual mas efetiva e quem, sabe, mas só quem sabe “chegaríamos lá”, aonde quer que lá seja, esperando que seja muito melhor do que onde estamos, do contrário melhor seria entrarmos em uma cápsula do tempo, aquelas que existem por aí, para sairmos daqui a cem anos. Oxalá não precisemos esperar assim tanto tempo, já é hora, já passou da hora de fazermos diferente.

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(*)Advogado; Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB Nacional); Professor de Direito Constitucional e Internacional. Coordenador da International Religious Liberty Association (IRLA) para a Região Noroeste do Brasil; Mestre e Doutorando em Direito.

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