O fim do neoliberalismo e o início de uma nova era


Por: André Lopes

18 de novembro de 2025

Quando Margaret Thatcher e Ronald Reagan iniciaram a ordem neoliberal no início dos anos 1980, eles acreditavam que seria para a eternidade. “Não existem famílias, apenas indivíduos”, dizia a “Dama de Ferro”, como era conhecida a Primeira Ministra da Grã-Bretanha. Assim, destruiu as greves e o movimento operário na Inglaterra e, junto com o presidente dos Estados Unidos, expandiu para o mundo aquilo que, segundo o eminente professor David Harvey, não era um modelo econômico, mas um projeto geopolítico neo-conservador que ficaria conhecido como “Consenso de Washington”. A União Soviética, naquele momento, havia desmoronado. Para o intelectual da “modernidade”, Francis Fukuyama, era o “fim da História”.

O projeto neoliberal nasce coberto de escombros e sangue no golpe militar do Chile em 1973. Salvador Allende, o presidente da “Frente Popular”, mais odiado por Nixon do que o próprio Fidel Castro, foi derrubado numa sangrenta traição do General Augusto Pinochet, chefe das Forças Armadas Chilenas (que depois se tornou “muy amigo” de Thatcher ao apoiar a Inglaterra na Guerra das Malvinas contra a Argentina). Após o golpe e a morte de Allende e milhares de chilenos que apoiavam o governo da Frente Popular, economistas da Universidade de Chicago (os “Chicago Boys”, entre eles Milton Friedman, apóstolo do austríaco Friedrich Hayec, o “idealizador” do conceito neoliberal na década de 1930) foram a Santiago planificar o novo “Estado Neoliberal”: um “liberalismo” protegido pela perseguição, tortura e morte de sua população local… e alguns acreditavam realmente que defendiam o “livre mercado” e a democracia”, outros eram simplesmente cínicos e sociopatas. Friedrich Hayek, já idoso, chegou a ver seu grande “ideal” ser concretizado na ditadura de Pinochet: “antes uma ditadura que proteja o livre mercado que uma democracia irresponsável”. Estava certo que tal projeto não estava destinado a durar no mundo por muito tempo, pelo menos para qualquer nação que tivesse a soberania e o bem-estar da sua população como prioridade.

Após mais de 50 anos do Golpe no Chile, este projeto se espalhou pelo mundo (com muita força na América Latina, obviamente), distribuindo pobreza, desesperança e destruição, deixando uma “terra arrasada” por onde passou.. O Neoliberalismo é um projeto tão nefasto que até mesmo atenta para aqueles que dizem defender o meio ambiente (embora muitos dos chamados “partidos verdes” restringem suas boas intenções à retórica, pois não atacam esse “modelo” econômico diretamente). Para muitos dos defensores da “sustentabilidade”, o neoliberalismo não está correlacionado com a destruição do meio ambiente: para estes “ambientalistas de Oslo”, basta termos políticas de reciclagem e latas de lixo para separar os plásticos do material orgânico, e tudo estará “bem”…O grande pensador Karl Polanyi, já defendia, décadas atrás, que o neoliberalismo levava a uma devastação de nível planetário porque tinha como finalidade, antes de tudo, o lucro, e nada mais; políticas ambientais e pró-indígenas de nada valem se não mudarem o modelo privatizante neoliberal que, nascido do Golpe de Estado e da opressão, nada mais é que um “fascismo de mercado”.

Este “fascismo de mercado”, como bem assinala Michael Hudson (catedrático da Universidade de Missouri) deixou a América Latina mais insalubre, pobre, desigual e, consequentemente, violenta do que jamais esteve em sua História contemporânea. Alguns inclusive dizem sentir “falta” dos regimes militares porque naquela época havia “mais segurança”… na realidade, seja na “democracia” ou na ditadura (e as ditaduras militares foram a “ponte” para o neoliberalismo na América Latina), o modelo neoliberal destrói um país tal qual uma praga invisível que mata aos poucos…e quando a nação “cai em si” elege governos de esquerda que, fatalmente, acabam servindo de bodes expiatórios para problemas que iniciaram décadas atrás. É o caso da maioria dos países latino-americanos atualmente.

Enquanto na América Latina, os “apóstolos” deste modelo econômico liquidado persistem a defendê-lo tal qual uma “profecia religiosa apocalíptica” (principalmente entre partidos de direita e extrema direita), o “resto” do mundo tenta adotar um novo modelo com a intervenção do Estado inspirado no modelo “keynesiano” que deu origem ao Estado de Bem-estar Social, notadamente no período em que se chamou de “era dourada do capitalismo” do pós-Segunda Guerra Mundial. Este é o modelo “misto” econômico defendido pelo professor Michael Hudson: o Estado proporciona a infraestrutura (moradia, educação, energia, saneamento básico e investimento) para que a população e o micro-empresariado possam prosperar. Os países da África e da Ásia estão procurando um novo caminho de desenvolvimento porque já perceberam que o neoliberalismo é um modelo estagnado. A solução, para muitos destes países, tornou-se a possível união aos BRICS que oferece um intercâmbio internacional de mercado e investimento distinto do “cassino” oferecido pelo FMI e pelo Banco Mundial, defensores do neoliberalismo. No entanto, a mídia na América Latina e o “think tanks” com seus pseudo-intelectuais (inclusive na blogosfera) insistem em defender este modelo “sem saída” (a exemplo da blindagem que tentam fazer ao “Maníaco da Serra Elétrica” que “governa” a Argentina) em nome de especuladores que são nada mais, nada menos, que estafetas de um sistema financeiro predatório e destruidor de países. Seus representantes, espalhados nas redes de televisão, jornais e até em universidades, insistem no mito do “Estado ineficiente”, como se as elites dos países periféricos e centrais nunca houvessem dependido do Estado para sobreviver e angariar riqueza. Insistem no equilíbrio de mercado entre “oferta e demanda” quando a maior margem da população não está incluída nos modelos teóricos e matemáticos que justificam suas teorias. Numa crise mundial de demanda, os financistas insistem em leis absolutas para regular a economia…e aqueles que não podem ser incluídos no mercado de consumo “que se danem”! Para os defensores da espoliação populacional, o Estado nada tem a ver com o destino de seus “nacionais”! Seguindo a máxima de John Maynard Keynes, “é preciso salvar o capitalismo dos capitalistas”. Hoje, mais do que nunca! Mas para os defensores da “ficção científica neoliberal”, aqueles que pretendem regular a economia capitalista através da intervenção do Estado, seguindo um “radical” como Keynes, são “socialistas”, “esquerdistas”, “comunistas”, “dinossauros”: esta é a “flexibilidade” da ideologia neoliberal. Uma ideologia que não tolera dissensão tem um nome: fascismo. Neste caso o “fascismo de mercado”: seja este defendido com a fraude eleitoral, o “lawfare” de Sistemas Judiciários corruptos, ou puramente com “armas e baionetas”… tudo vale desde que seja chamado de “democracia”.

Enquanto testemunhamos o desmoronamento do neoliberalismo como modelo econômico (agora também “ultra-neoliberalismo” com projetos e retóricas descaradamente fascistas para defendê-lo, exemplo da Argentina) os meios de comunicação ainda insistem pregar diuturnamente suas leis absolutas independentes do desenvolvimento da nação: mesmo com certa vergonha, como no caso de governantes de “sanidade questionável”… os primeiros a serem escolhidos pelos “notáveis” da Universidade de Chicago. Ainda assim, cada vez mais os países de todos os continentes se voltam para algum tipo de nacional-estatismo. Em um “novo mundo” de blocos econômicos, as nações que insistirem no modelo neoliberal ficarão para trás, perderão o “bonde” do desenvolvimento e não estarão preparados para a “guerra comercial” fratricida que se avizinha. Enquanto a Europa passa por um processo de “autoflagelação” e “autofagocitose” devido à corrupção e irresponsabilidade de seus governantes, o Brasil e a América Latina estão tateando em busca do equilíbrio de suas balanças comerciais, enfrentando todas as pressões dentro e fora de seu território para poder reservar a sua população algum possível futuro. No mundo do “capitalismo mais que selvagem” que surge no horizonte, não haverá muita compaixão para aqueles que ficarem para trás, e nem para aqueles que quiserem “levantar a cabeça”. Para os ditos países do “Sul Global”, trata-se agora de escolher enfrentar o destino com fé e coragem… Seguir as palavras do escritor Alexandre Dumas: “lutar e lutar, até que cordeiros se transformem em leões”.

(*)André Lopes é graduado em Direito e mestre em Desenvolvimento Sustentável e Recursos Naturais pela UPeace: Universidade das Nações Unidas.

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