‘O movimento negro não pede ajuda, ele pede respeito’, diz Christian Rocha, no Cenarium Entrevista

Christian falou sobre a união dos movimentos sociais negros em Manaus. (Foto: Samuelknf/CENARIUM)

Déborah Arruda – Da Cenarium

MANAUS (AM) – Militante da causa racial e presidente do Instituto Nacional Afro Origem (Inaô), Christian Rocha declarou à jornalista Andréa Vieira, no programa CENARIUM ENTREVISTA, que o movimento negro não possui apoio institucional em nenhuma das esferas do Poder Público. A edição do programa vai ao ar, nesta terça-feira, 10, às 19h, no canal da TV Cenarium, no YouTube.

“O movimento negro não pede ajuda, ele pede respeito. Os respeitos são constitucionais e quando não são praticados então existe um crime, uma omissão por parte do Estado de promover essa igualdade, até então inexistente. A comunidade negra não tem amparo no parlamento, no Poder Público”, destacou.

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O líder contou que sentiu na pele o racismo durante sua adolescência, mas não deixou isso lhe abalar. Conheceu uma das maiores figuras do movimento social negro no Amazonas, Nestor Nascimento, e passou a entender e se integrar à causa.

“Eu já fui barrado em supermercado, com 15 ou 16 anos, era motivo de piada na escola, mas nem por isso baixei a cabeça ou fiquei reclamando. Eu disse ‘quer saber, eu vou lutar’, então foi quando eu vi o Nestor Nascimento andando pelo Centro, aquele negro andando de paletó branco. Mas até então eu não tinha me aproximado dele. Passei minha infância e adolescência na Praça 14, então foi quando começaram a falar do Nestor”, afirmou emocionado.

Christian durante entrevista com a jornalista Andréa Vieira (Foto: Marcele Fernandes/CENARIUM)

Para Christian, a saúde pública é um dos pontos principais de discussão, especialmente com a pandemia da Covid-19. “A saúde é primordial na vida de qualquer ser humano. Existe um Projeto de Lei na Assembleia que trata da população negra na sua equidade. Quando falamos sobre equidade, não estamos falando sobre igualdade, existe uma diferença. Então, os negros como foram na sua maioria vítimas da Covid, esse projeto trata da equidade, onde o negro não tem o espaço de ser atendido de uma forma digna”, contou.

União dos movimentos

Há pouco mais de uma semana, movimentos sociais da causa se uniram em uma ação histórica e manifestaram contra a mudança de nome da Praça Nestor Nascimento, no bairro Praça 14, para Oscarino Peteleco, famoso ventríloquo do Estado. A repercussão foi tanta que o vereador Davi Reis (Avante) propôs um Projeto de Lei (PL) para garantir que a praça mantivesse o nome de Nestor, importante líder negro no Amazonas.

“É importante que nós vejamos que são campos diferentes quando a gente tenta fazer um comparativo do artista para o líder Nestor Nascimento. Em nenhum momento nós quisemos desmerecer o artista. Mas é importante ressaltar e sermos realistas que: enquanto um lutou pela igualdade no nosso Estado, no Brasil, no mundo afora, o outro levou alegria, porém, hoje, seria enquadrado em um racismo recreativo”, explicou.

Christian contou que antes de Nestor falecer, entregou uma pasta a ele com todos os seus documentos, como se estivesse passando o seu legado. Para ele, o momento foi marcante e significou muito em sua vida.

“Antes do Nestor falecer ele pegou uma pasta que ele tinha e me passou. Nestor tinha sofrido um AVC e já não falava tão bem, tinha dificuldades em se locomover, mas mesmo assim, com o braço direito, ele me deu a pasta com todos os documentos dele. Com esse gesto eu me senti tão privilegiado porque existem muitas pessoas com o conhecimento maior que o meu e lideranças muito boas. Mas aquilo que o Nestor fez comigo foi muito mágico”, contou.

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